Ele não acreditou em mim, mesmo quando jurei que era inocente. Chamou a polícia, que convenientemente encontrou o colar na minha bolsa.
Ele me olhou com nojo.
"Eu nunca deveria ter casado com você", ele cuspiu as palavras. "Você não passa de um lixo da periferia."
Fui presa com base na palavra da mulher que armou para mim. Meus cinco anos de amor silencioso e devoção não significaram nada. O homem por quem eu havia me apaixonado secretamente me via como nada mais que uma ladra comum.
Passei a noite em uma cela fria. Na manhã seguinte, depois de pagar a fiança, tirei o chip do meu celular, quebrei em dois e joguei no lixo. Tinha acabado.
Eu faria eles pagarem. Eu ia queimar o mundo deles até as cinzas.
Capítulo 1
Os papéis do divórcio chegaram numa terça-feira. O envelope branco e impecável estava sobre a bancada de mármore, meu nome, Bruna Rollins, digitado em uma fonte fria. Ao lado, outro nome: Heitor Spencer. Meu marido.
Por cinco anos, esse título pareceu uma fantasia que eu vestia. Era uma farsa, um casamento de fachada que ele firmou para provocar sua ex-namorada socialite, Kaila Holland, depois que ela o dispensou publicamente.
Eu estava parada no canto do salão de festas luxuoso, uma taça de champanhe intocada na mão.
Então eu os vi. Kaila Holland, envolta em um vestido prateado cintilante, deslizou em minha direção. Suas amigas, um bando de mulheres igualmente polidas, a seguiam. O ar ficou denso com seus perfumes caros e desprezo silencioso.
"Bruna, querida." A voz de Kaila era suave como seda, mas seus olhos continham uma crueldade familiar. "Quase não te reconheci. Você até que se arruma bem."
Eu não sorri. Apenas encarei seu olhar.
"Kaila."
Uma de suas amigas riu, um som agudo e tilintante.
"Sempre tão fria. Acho que dá pra tirar a garota do bairro operário, mas não dá pra tirar o bairro operário da garota."
As palavras eram para ferir, mas eu já tinha ouvido aquilo, ou versões daquilo, mil vezes. Não eram nada.
Mas Kaila sabia onde mirar. Ela se inclinou, sua voz baixando para um sussurro conspiratório, alto o suficiente para todos ao redor ouvirem.
"Eu vi sua mãe outro dia. Ainda mancando por causa daquele acidente na fábrica, não é? Tão trágico. Pensei que com toda a grana do Heitor, você já teria comprado uma prótese decente pra ela."
Uma fúria branca e quente me inundou. Minha mãe era meu limite. A única coisa neste mundo que eles não podiam tocar.
Minha mão se moveu antes que eu pudesse pensar. O estalo da minha palma no rosto de Kaila ecoou no silêncio repentino.
Gritos de espanto se espalharam pelos espectadores. A cabeça de Kaila virou para o lado, uma marca vermelha florescendo em sua pele perfeita. Por um segundo, ela pareceu atordoada.
Então seus olhos se estreitaram. Com um rosnado vicioso, ela pegou uma taça cheia de vinho tinto de uma bandeja que passava e jogou o conteúdo em mim.
O líquido gelado encharcou a frente do meu vestido, uma mancha escura e feia se espalhando pelo tecido claro. Pingou no chão, formando uma poça aos meus pés. Fiquei ali, tremendo e humilhada, o vinho grudado na minha pele como uma segunda camada vergonhosa.
De repente, uma presença surgiu atrás de mim. Um paletó grande e caro foi jogado sobre meus ombros, me protegendo dos olhares curiosos.
"Que porra está acontecendo aqui?"
A voz de Heitor era baixa e perigosa. Eu não precisei me virar para saber que ele estava ali. Ele sempre aparecia nos momentos mais dramáticos. Sua camisa estava um pouco para fora da calça e seu cabelo, uma bagunça, como se ele tivesse corrido até aqui.
Ele se colocou na minha frente, uma muralha protetora entre mim e o mundo.
Ele fuzilou Kaila com o olhar, o maxilar travado.
"O que você fez?"
O rosto de Kaila se desfez imediatamente. Lágrimas brotaram em seus olhos enquanto ela apontava um dedo trêmulo para mim.
"Heitor, ela me bateu! Olha! Sem motivo nenhum, ela simplesmente me atacou."
Eu podia ver as engrenagens girando na cabeça dele, o velho e familiar conflito. Sua lealdade a mim, sua esposa, contra a atração profunda e tóxica da mulher que ele amava desde a infância.
Ele não caiu nessa dessa vez. Não completamente.
"Dá o fora, Kaila. Agora."
Ele agarrou meu braço, seu aperto firme, e me puxou para longe da cena, através da multidão que se abria, para o ar fresco da noite. Caminhamos em silêncio até o carro dele, o motor um ronco baixo no estacionamento silencioso.
Dentro do carro, ele soltou um suspiro frustrado, passando a mão pelo cabelo já bagunçado. Ele me olhou, sua expressão uma mistura de raiva e algo que eu não consegui identificar.
"Hoje é alguma data importante?", ele perguntou, a voz rouca.
Meu coração, que eu pensei ter virado pedra, sentiu uma pequena e dolorosa pontada. Ele tinha esquecido.
"Era nosso aniversário, Heitor", eu disse, minha voz vazia. "Ontem."
Ele se encolheu. A culpa estava estampada em seu rosto.
"Me desculpe, Bruna. Eu... eu vou compensar. Eu compro o que você quiser."
Esse era Heitor. Meticuloso com presentes e grandes gestos, uma performance de marido perfeito. Mas emocionalmente, ele era um buraco negro. Ele conseguia se lembrar de mandar flores, mas esquecia o motivo. Ele era um homem de uma consideração de tirar o fôlego e de uma crueldade ainda mais de tirar o fôlego.
Bem quando ele ia ligar o carro, o celular dele vibrou. Ele olhou para a tela.
Kaila Holland.