Os anos de economia haviam desaparecido, e a empresa que ela criou com seu namorado, Brett Vega, estava prosperando, mas ele havia bloqueado seu acesso às contas.
Enquanto ela pensava em empenhar seu Patek Philippe, um tumulto tomou conta do fim do corredor do hospital.
Brett entrou às pressas pelas portas com Daniella Chen agarrada ao braço, que que fazia drama por causa do tornozelo torcido.
Depois de entregar Daniella aos cuidados de uma enfermeira, ele viu Elaine e a arrastou para um depósito vazio. "Já falei, é parte do plano. Estou fazendo ela acreditar que venceu."
Rapidamente, ele puxou notas da carteira e empurrou contra a mão de Elaine. Em sua cabeça, ela estava atrás de dinheiro.
As notas, no entanto, caíram da mão dela e foram parar no chão.
Mentir, interpretar papéis... nisso ele era impecável. Ele não enxergava a dor dela, tampouco o luto.
O relacionamento deles tinha acabado. A certeza, ao mesmo tempo libertadora e assustadora, tomou conta dela.
Estava na hora de ir para Londres.
"Essa vaga está te esperando há três anos, Elaine. Só precisa me dizer que sim." A voz que vinha do telefone era firme e profunda, mas carregava uma familiaridade que atingiu Elaine Mccray como um soco.
Era Evan Mcknight, seu orientador da pós-graduação, que agora brilhava em Londres como arquiteto de renome.
Havia pouco mais de uma hora que ela tinha assinado os papéis - Kelsey, seu irmão mais novo, iria para os cuidados paliativos. O tratamento experimental que poderia salvar a vida dele custava cinquenta mil dólares, e ela não tinha como pagar.
Os anos de economia haviam desaparecido em ciclos de tratamentos tradicionais que não deram certo. A empresa que ela criou com seu namorado, Brett Vega, estava prosperando, mas ela não tinha como colocar a mão nos recursos, pois ele havia bloqueado seu acesso às contas.
"É só uma estratégia de negócios, é temporário." Brett sempre dizia essas palavras.
Elaine já não tinha amigos por perto e até a família acreditava que sua vida em Nova York era perfeita ao lado do parceiro brilhante.
Ninguém sabia que ela estava, na verdade, completamente sozinha.
Ela tentou de tudo para levantar o dinheiro - solicitou empréstimos que foram negados e tentou falar com conhecidos antigos que sequer atenderam suas ligações. Sua vida havia se resumido a essa única necessidade desesperada.
Seu polegar roçou pelo metal frio do relógio em seu pulso - um Patek Philippe, presente que Brett lhe dera no quinto aniversário de namoro.
Ele lhe dissera que era um investimento, símbolo do futuro a dois. O valor real deveria ser a segurança deles, mas agora não passava de lembrança de uma promessa sem sentido.
Elaine pesquisou rapidamente na internet e encontrou uma avaliação de oito mil dólares. Esse valor era o suficiente apenas para comprar algumas semanas a mais de medicamentos inúteis, longe dos cinquenta mil que poderiam mudar tudo. Ainda assim, era sua única opção por agora.
Inspirando fundo, ela se levantou, disposta a ir até uma casa de penhores.
No entanto, um tumulto tomou conta do fim do corredor, e um homem entrou às pressas pelas portas com uma mulher agarrada ao braço.
Elaine sentiu o sangue gelar.
Era Brett, e junto com ele, Daniella Chen.
A enfermeira que corria em direção à confusão esbarrou em Elaine e o celular que esta segurava caiu no chão, estilhaçando-se contra o linóleo brilhante.
Sem sequer olhar para Elaine, Brett se concentrou em Daniella, que fazia drama por causa do tornozelo torcido. Ele a segurava como se fosse frágil demais, o rosto desenhado numa máscara de preocupação.
"Olha só, basta um tornozelo torcido para receber toda a atenção", comentou uma senhora para o marido, sentada por perto. "É sempre assim, um pouco de drama e a pessoa consegue tudo."
Apressada, Elaine se abaixou para pegar o celular destruído, escondendo o rosto, porque não podia ser vista ali, não desse jeito.
Só que era tarde demais.
Depois de entregar Daniella aos cuidados de uma enfermeira, Brett viu Elaine e seu semblante mudou imediatamente.
Caminhando até ela, ele agarrou seu braço e a arrastou para um depósito vazio.
"O que você está fazendo aqui?", ela sussurrou, a voz carregada de urgência. "E por que está com ela?"
"Já falei, é parte do plano. Estou fazendo ela acreditar que venceu." Rapidamente, ele puxou notas da carteira e empurrou contra a mão de Elaine. "Vá embora. Suma daqui antes que ela veja você. Isso estragaria tudo. Confie em mim."
Eram quinhentos dólares.
Elaine encarou as notas amassadas em sua palma e um riso amargo quase escapou de sua boca.
Na cabeça dele, ela estava atrás de dinheiro.
Ali estava ela, no mesmo hospital onde seu irmão desfalecia por culpa indireta de Brett, e ele ainda lhe oferecia dinheiro para se calar.
As notas, no entanto, caíram da mão dela e foram parar no chão.
Brett arregalou os olhos, confuso, porque não estava acostumado com resistência, já que Elaine sempre fora compreensiva e silenciosa.
"Não torne as coisas mais difíceis, Elaine", ele pediu, modulando a voz no tom meloso e manipulador de sempre. "Aguente apenas mais um pouco. Estou fechando o negócio. A cobertura já é praticamente nossa."
A cobertura, o plano, o futuro... agora tudo soava como um enredo que não pertencia mais a ela.
Já não havia mais sentimento, e a capacidade de se sentir traída havia se apagado.
Qualquer resquício de esperança estava junto de Kelsey, no quarto do corredor, desaparecendo com cada bip da máquina.
Elaine havia perdido tudo - a empresa que ajudou a construir, o homem que acreditava amar, a família que não podia ouvir a verdade.
E agora, seu irmão...
Com uma clareza dolorosa, ela percebeu - o Brett que um dia amou não existia, e talvez nunca tivesse existido.
A porta do depósito rangeu e uma enfermeira apareceu, espiando pela fresta. "Com licença, você é o acompanhante da paciente que acabou de chegar?"
Assustado, Brett olhou para Elaine, seus olhos pedindo ajuda, e respondeu à enfermeira com seu charme habitual: "Sim, é minha... colega. Ela está bem?"
Mentir, interpretar papéis... nisso ele era impecável.
A voz aguda de Daniella ecoou pelo corredor, exigente: "Brett! Onde você está?"
Ele segurou os ombros de Elaine. "Vá para casa. Te ligo mais tarde. Vamos resolver tudo."
Ele esperava que ela apenas acenasse e aceitasse sua versão, sendo a companheira paciente que sempre fora.
Mas Elaine mantinha o olhar fixo nele, vazio.
Brett não enxergava a dor dela, tampouco o luto. Para ele, ela não passava de um empecilho em seu grande plano.
Soltando-a, ele saiu apressado e correu até Daniella.
Elaine respirou o ar impregnado de antisséptico, deixada sozinha na penumbra.
Ela se curvou devagar, não para recolher o dinheiro, mas para apagar o toque de Brett em sua pele.
Nesse instante, Elaine entendeu - o relacionamento deles tinha acabado.
A certeza, ao mesmo tempo libertadora e assustadora, tomou conta dela.
Estava na hora de ir para Londres.
De volta ao presente, ela tentou assimilar as palavras de Evan.
"Todos no escritório já ouviram falar de você. Acham que enlouqueci por guardar uma vaga de sócia sênior para uma ex-aluna que não vejo há sete anos."
Com a cabeça apoiada contra a parede fria da sala de espera do hospital, Elaine respirou fundo.
"Eu aceito", ela respondeu sem emoção e desligou em seguida.