Mais tarde, um incêndio devastador engoliu a propriedade dos Kirby, ceifando a vida de toda a família, exceto o filho mais velho, Gabriel Kirby, e a filha mais nova, Cathleen. 
Os parentes os observavam como falcões, ansiosos para controlar as duas crianças e devorar seus bens. 
Jerald levou Gabriel para o exterior para treinamento e manteve Cathleen ao seu lado, orientando-a pessoalmente. 
A partir daquele dia, a única pessoa no mundo de Cathleen era Jerald. 
... 
As folhas eram varridas pelos ventos de outono. 
Cathleen olhou para a tela do celular, onde o rosto de Gabriel aparecia, e sentiu uma dor se espalhando de seu coração. 
O homem no vídeo vestia um terno sob medida, seus olhos repletos da mesma preocupação que tinham dez anos atrás, quando ele saiu do aeroporto com os olhos vermelhos. 
"Cathleen, já pedi ao meu assistente para reservar seu voo para o mês que vem. A villa que você gosta foi renovada no estilo clássico que você mencionou antes. Tenho certeza de que você vai adorar", disse Gabriel. 
Cathleen tentou esboçar um sorriso relaxado, mas não conseguiu. "Gabriel, você não precisa se dar a todo esse trabalho."
"Como isso poderia ser um problema para mim?" A testa de Gabriel franziu. "Você já não sofreu o bastante em Cuwheau todos esses anos? Agora que os negócios da nossa família estão bem estabelecidos em Snuebia e no Norte de Asnyae, quer você queira frequentar uma escola de arte prestigiada ou viajar pelo mundo, eu posso fazer isso acontecer para você."
Ele fez uma pausa, suavizando o tom, "Lembra como você sempre dizia que queria assistir a um concerto em uma cidade famosa quando era pequena?"
É claro que ela se lembrava. 
Naquela época, ela tinha apenas oito anos, deitada no colo de Jerald assistindo a um documentário sobre festivais de música de Snuebia, apontando para a tela e declarando que um dia veria aquilo pessoalmente. 
Ao ouvir isso, Jerald havia sorrido, bagunçando seu cabelo gentilmente, "Quando você crescer, eu vou te levar."
Todos diziam que Jerald a mimava demais. 
Ele faria o impossível por ela. 
Refletindo sobre o passado, seu coração parecia estar sendo apertado fortemente. 
Cathleen rapidamente abaixou os olhos, com medo de que suas lágrimas caíssem e preocupassem Gabriel. 
"Eu me lembro," murmurou, sua voz ligeiramente abafada. 
Gabriel ficou em silêncio por alguns segundos do outro lado do vídeo, escolhendo cuidadosamente suas palavras. 
"Cathleen," ele finalmente falou novamente, seu tom cauteloso, "Você e Jerald... Eu sei que você teve um tempo difícil nesses anos."
Os dedos de Cathleen se fecharam abruptamente, suas unhas cravando-se nas palmas das mãos, espalhando uma dor aguda. 
Ela podia imaginar Gabriel se sentindo impotente e com o coração partido. 
O incêndio devastador daquele ano destruiu a propriedade dos Kirby e também arruinou a infância despreocupada que ela deveria ter tido. 
Foi Jerald quem a carregou, ferida, para fora do fogo, quem suportou a pressão dos parentes da família Kirby para garantir a herança de Gabriel e Cathleen, quem a ensinou a ler e escrever passo a passo. 
Mas em algum momento, sua gratidão se transformou. 
Foi quando ela tinha quinze anos e teve febre, e Jerald ficou ao seu lado a noite toda, e ela acidentalmente tocou seu pulso quente? 
Ou foi no seu décimo oitavo aniversário quando ele lhe presenteou com um violoncelo, dizendo que um dia o mundo inteiro ouviria sua música? 
Ela não conseguia se lembrar. 
O amor havia criado raízes silenciosamente, e quando ela percebeu, já era profundo e duradouro. 
"Gabriel," Cathleen respirou fundo, tentando fazer sua voz soar calma, "Eu sei o que você quer dizer."
"Jerald fez tanto por nós, e eu nunca vou esquecer disso," a voz de Gabriel estava pesada, "Mas emoções não podem ser forçadas por gratidão. Ele te vê como uma sobrinha, como uma jovem para cuidar, você não pode..."
"Eu não estou forçando," Cathleen interrompeu, sua voz subindo em pânico antes que ela percebesse seu erro e suavizasse seu tom, "Gabriel, eu entendo. Eu mesma vou contar a Jerald sobre minha decisão de partir."
Cathleen olhou para as folhas de outono caindo e de repente sentiu seus olhos arderem. Ela fungou, sorrindo para a tela, "Gabriel, prometo que vou no próximo mês. E então... você tem que me levar à melhor churrascaria em uma cidade conhecida."
"Certo," Gabriel finalmente riu, "Vou pedir o quanto você quiser."
Após encerrar a chamada de vídeo, o quarto caiu em silêncio. 
Cathleen lentamente se agachou, enterrando o rosto nos joelhos, incapaz de conter mais as lágrimas. 
Ela sabia que Gabriel queria o melhor, e que a bondade de Jerald não era amor. Mas seus sentimentos haviam crescido como trepadeiras, ameaçando sufocá-la. 
Ela levantou a mão para tocar os lábios, lembrando-se de como na noite anterior ela se sentiu como se estivesse tomando a felicidade alheia-mas naquele momento roubado, ela provou o afeto mais terno. 
Será que partir em um mês era realmente a melhor decisão? 
Cathleen não sabia. 
Ela só sabia que a ideia de deixar Jerald parecia como se uma parte de seu coração estivesse sendo esvaziada, uma dor difícil de suportar. 
Ouvindo o som da porta se abrindo no andar de baixo, Cathleen rapidamente enxugou as lágrimas e pegou o café preparado, correndo escada abaixo. 
Com um olhar, ela ficou paralisada, atônita.