Grávida de sete meses, abri mão do meu filho e do meu rim para salvar Lucas, o homem que me tirou de um beco sombrio e me consolou de três abortos espontâneos. Ele era o meu mundo, e eu faria qualquer coisa por ele: "Tenho, Lucas. É a única maneira. O médico disse que seus rins estão falhando. Você precisa de um transplante urgente." Acordei da cirurgia sentindo meu corpo mutilado em dois lugares, mas a dor física era nada comparada ao que ouvi da porta entreaberta: Lucas e seu amigo Pedro revelando que tudo era um plano. Meus abortos não foram acidentes, minha mão foi destruída para me impedir de pintar, e meu útero seria removido numa cirurgia forjada para que ele pudesse me humilhar em seu noivado e me internar. A farsa era um monstro, mas a verdade era mais cruel: eu não era o objeto de uma vingança, mas um mero obstáculo para ele se casar com outra mulher. Eu, que estava disposta a morrer por ele, era apenas um peão em seu jogo sujo. Eu não era uma vítima. Eu era um alvo. E ele não queria só meu rim, ele queria minha reputação, minha vida. Eu não entendia por que tanto ódio, por que me destruir por algo que eu nunca fiz. Como pude amar um monstro? Deitada naquela cama de hospital, com o corpo em pedaços e o coração feito cinzas, uma nova emoção nasceu em mim: um ódio frio e calculista. Eu não ia morrer. Eu ia fugir. E ele não veria a promessa de morte em meus olhos, mas eu ia me vingar. Assim que saísse dali, meu plano de fuga se transformaria em um roteiro de destruição.