O cheiro de metal e algo doce, podre, enchia o laboratório. Foi ali que encontrei minha mãe, Helena, uma pesquisadora brilhante, caída no chão – um borrão irreconhecível de violência. Antes mesmo que meus olhos se ajustassem à pouca luz, a porta arrombada e o alarme de segurança desligado já gritavam que algo estava terrivelmente errado. Ela estava morta. O drive de segurança com a pesquisa que consumiu as suas últimas duas décadas, o legado da sua vida, havia sumido. Roubado junto com a sua vida. No meio do meu desespero, liguei para minha esposa, Bruna. Mas a sua voz, fria e calculista, me pediu para não chamar a polícia e ordenou que eu não tocasse em nada. O pavor que senti não tinha nada a ver com a cena horrível à minha frente. Bruna chegou com Thiago, o seu assistente. E não havia tristeza nos seus olhos, apenas uma avaliação fria, uma preocupação perturbadora com o sumiço do projeto da minha mãe. "Você tem certeza de que o projeto sumiu?" , ela perguntou. Eu não conseguia acreditar. Ela estava morta no chão, e a única coisa que importava para ela era o projeto? Fui tratado como um estranho na minha própria tragédia, enquanto Bruna e Thiago agiam como controladores de danos, minimizando o assassinato da minha mãe. Eles me disseram que eu era histérico, que provavelmente foi um assalto que deu errado. Mas não levaram dinheiro, não levaram joias. Eles levaram o projeto. E eu sabia que não foi aleatório. Bruna disse para eu aceitar que minha mãe se foi. E, pela primeira vez, vi desprezo em seus olhos. Naquele momento, olhando para o corpo da minha mãe e para os rostos frios da minha esposa e de seu assistente, eu soube de duas coisas com uma certeza terrível: eu estava sozinho e não descansaria até que a justiça fosse feita. Disquei o número da polícia. A batalha pela memória da minha mãe tinha acabado de começar.