Cinco anos. Cinco anos buscando Rafael, meu marido, o capitão cujo navio desapareceu no mar sem deixar vestígios. Vendi nossa casa, o último pedaço da minha família, e me endividei até a alma por essa busca. Hoje, em um leilão clandestino numa ilha remota, paguei meu último centavo por um envelope selado, a promessa de uma resposta, a verdade. Com o coração na garganta, segui as coordenadas até uma clareira com uma luxuosa casa de praia, o som de vozes e música suave me guiando. Foi então que ouvi, clara e inconfundível, a voz dele. "Sofia, ela realmente pagou, você acredita nisso?", Rafael disse, com um divertimento cruel que eu nunca havia ouvido. "Tola. Vendeu tudo por uma informação que eu mesmo plantei." Uma risada feminina, estridente e familiar, ecoou ao lado dele. "Eu te disse, Rafa. Sofia faria qualquer coisa por você. Ela sempre foi pateticamente devota." Manuela. Minha meia-irmã. Meu coração parou. Espreitando pela folhagem, vi os dois no terraço. Rafael, vivo e mais forte do que nunca, abraçava Manuela, seus dedos traçando a cicatriz no braço dela. "Fizemos ela pagar por cada lágrima que você derramou por causa daquela mulher", Rafael sussurrou, a voz cheia de veneno. "Isso é só o começo. Ela vai pagar pelo que a mãe dela fez com você." O mundo desabou. Cinco anos de sacrifício por uma farsa. Uma tortura meticulosamente planejada. E eu era o alvo. As lágrimas quentes e silenciosas escorriam pelo meu rosto. A dor da perda era uma coisa, mas a dor da traição era um abismo. E eu tinha acabado de cair nele. A raiva fria e dura me impulsionou. Marchei até o terraço. Eles nem se viraram de imediato. "Rafael?", minha voz saiu como um sussurro rouco. "Você... você está vivo." "Parece que sim", ele respondeu, com uma normalidade grotesca. "Por quê?", a palavra rasgou minha garganta. "Cinco anos... eu vendi tudo... por quê?" Manuela se adiantou, sua falsa simpatia ainda mais repugnante ao vivo. Eu gritei: "Cala a boca!". Rafael finalmente me olhou, e seus olhos eram de um estranho, frios e sem traço do homem que eu amei. "Porque sua mãe destruiu a vida da Manuela", ele retrucou. Eu quis gritar a verdade, mas ele me cortou: "É a minha verdade. E eu prometi a Manuela, meu primeiro amor, que faria sua família pagar. E você, como a filha amada, é o pagamento perfeito." Tentei fugir, mas ele riu, um som oco e cruel. "Ir embora? Você não vai a lugar nenhum. Você me deve. Você pagou uma fortuna pela 'informação' que a trouxe até aqui. Você está em minha ilha, em meu barco. Neste pequeno vilarejo de pescadores de onde viemos, a esposa pertence ao marido. Você é minha, Sofia. E nosso jogo está apenas começando." Manuela se inclinou, seu hálito cheirando a vinho. "Não se preocupe, Sofia. Vamos cuidar bem de você", sussurrou, antes de me derrubar no chão. Rafael me obrigou a pedir desculpas. A humilhação me sufocava, mas o olhar nos olhos dele dizia que a resistência só traria mais dor. "Desculpe, Manuela", murmurei, o gosto amargo da injustiça enchendo minha boca. "Está tudo bem, irmãzinha", ela disse, a palavra "irmãzinha" pingando sarcasmo. "Você não vai a lugar nenhum. Além disso, você precisa acertar sua conta", Rafael disse, mostrando uma fatura com números absurdos. Eu estava acorrentada a ele. "Já que você vai ficar", Manuela disse, sentando-se como uma rainha, "pode começar a ser útil. Estou com vontade de comer umas frutas. Descasque uma manga para mim." Enquanto eu descascava, Manuela "acidentalmente" me fez cortar o dedo. O sangue brotou, e o sorriso satisfeito em seu rosto me feriu mais que a dor. Rafael me arrastou para dentro, limpou a ferida com aspereza e sussurrou: "Não se machuque de novo. Só eu posso te machucar. Entendeu?" O estresse não era pelo mar. O estresse era ele. Sua necessidade de controle, suas críticas constantes. Ele me queria quebrada, mas funcional. Eu precisava encontrar a cura.