A luz branca do hospital queimava meus olhos, e uma dor aguda perfurava minha cabeça. Tentei me mover, mas meu corpo pesava uma tonelada. "Pedro, você finalmente decidiu parar com o show?", uma voz feminina cortante perguntou. Eu mal conseguia me lembrar do meu próprio nome, muito menos dela. "Quem é você?", minha voz saiu rouca. Ela bufou, desdenhosa. "Sério, Pedro? Outro truque? Depois de tentar se matar, agora vai fingir amnésia?" Suicídio? Olhei para as marcas de agulhas e o curativo no meu pulso. A última coisa que eu lembrava era de estar comemorando meus dezoito anos, sonhando em convidar Sofia Costa para sair. "Eu tenho dezoito anos. Acabei de terminar o colégio!", gaguejei. Ela riu, amargamente. "Pedro, você tem vinte e sete anos. Nós estamos casados há cinco anos. Eu sou Sofia Costa, sua esposa." Sofia Costa. A garota dos meus sonhos. Minha esposa. Olhei para a aliança de ouro no meu dedo. "Casados?", sussurrei, sentindo o peso do mundo desabar sobre mim. "Sim. Um casamento que você transformou em um inferno com sua obsessão e ciúme doentio", ela respondeu, antes de me acusar de um "acidente de carro porque você estava bêbado, seguido de uma tentativa de suicídio no hospital." Um médico confirmou que minha mente voltou para os dezoito anos. Ele me entregou um espelho. O rosto que me encarava não era o de um jovem sonhador, mas o de um homem esgotado, com linhas de preocupação. O idealismo dos meus dezoito anos se chocou violentamente com a realidade degradante dos meus vinte e sete. Eu me tornei um "cachorrinho", um "lambe-botas", um homem tão patético que Sofia me tratava como lixo. Mas o garoto lá dentro, aquele Pedro que nunca se humilharia, estava de volta. E com uma determinação fria e dura. "Doutor", eu disse, minha voz firme pela primeira vez. "Eu quero o divórcio."