A cabeça de Maria girava, a voz do João parecia vir de debaixo d\'água, e a luz do quarto era insuportável enquanto ele, meu namorado e atleta promissor, me estendia um copo com água. Confiei nele, como sempre, bebi a água e uma tontura avassaladora me atingiu, derrubando minha consciência em fragmentos. Acordei em um torpor, incapaz de me mover ou abrir os olhos, mas ouvi a voz gelada da minha irmã Ana sussurrando para João: "E o bebê dela? O que vamos fazer?" O mundo desabou quando João respondeu: "O médico vai cuidar disso durante a cirurgia. Ele dirá que foi um aborto espontâneo. Ninguém vai suspeitar." Aborto. Cirurgia. A compreensão me atingiu com a força de uma agressão física. O acidente de Ana. A necessidade de um rim. Tudo se encaixou em um quebra-cabeça monstruoso: ele estava me drogando, não apenas para roubar meu órgão, mas para matar meu filho. Quando acordei no hospital, João estava lá, atuando um remorso perfeito, dizendo que eu havia "perdido o bebê" por estresse. Mas a farsa ruiu quando o celular dele tocou, era Ana, e ele partiu apressado, celebrando o sucesso da cirurgia dela. Enfermeiras no corredor confirmaram: "A namorada dele doou o rim. Pobrezinha. Doar um rim e ainda sofrer um aborto espontâneo no mesmo dia." A última gota de esperança secou. Ele me roubou meu filho e meu rim, e a dor da traição era insuportável. Mas eu não ia quebrar. Com a boca amarga do desprezo, liguei para Pedro, seu rival, e fiz uma pergunta que selaria meu destino: "Case-se comigo, Pedro."