A chuva batia forte no para-brisa, as lágrimas se misturando às gotas, enquanto a urna fria com as cinzas da minha Sofia pesava no meu colo. Eu, Ana, estava no último limite da minha dor. Meu marido, Pedro, e meu sogro, Seu Carlos, me acusavam de loucura, ofuscados pela hipocrisia de Dona Lúcia, minha sogra. Ela que, com seu sorriso dissimulado e "chazinhos milagrosos", transformou a vida da minha filha em um pesadelo silencioso. Eles me culparam por tudo. Ninguém viu a verdade por trás da sua falsa bondade, da sua avareza criminosa que custou a vida da minha Sofia. Minha filha morreu envenenada por água sanitária e açúcar, uma "receita de avó" que Dona Lúcia deu para ela. E no funeral, eles me apontaram como a vilã. "A culpa não foi de ninguém", repetiam, enquanto eu via o assassino recebendo pêsames. O mundo desabou, e a Ana, doce e paciente, morreu. Cegada pela dor, pisei fundo no acelerador, determinada a levar todos nós para o inferno. O impacto foi brutal, e a escuridão me abraçou. Mas, então, um choro. O choro da minha Sofia. E a luz suave do meu antigo quarto. Eu estava de volta. Viva. Sofia estava viva. No calendário, a data fatídica: o dia em que o primeiro prego foi martelado no caixão da minha filha. Desta vez, não haveria caixão. A Ana submissa morreu naquele acidente. De suas cinzas, renasci leoa. E desta vez, a justiça seria feita. Por bem ou por mal.