O barulho na sala de desenvolvimento era quase insuportável, não pelos teclados, mas pela cena no centro: Patrícia, minha ex-melhor amiga, segurando o filho que teve com Marcos, meu ex-noivo, rindo alto como se fosse a dona do lugar. E, de certa forma, era. Eles tinham tomado tudo de mim cinco anos atrás, expulsando-me da empresa que fundei, grávida e sozinha. O menino, de uns quatro anos, correu e quase derrubou um monitor caro. "A mamãe e o papai construíram tudo isso para você, sabia? Um dia, tudo isso será seu", Patrícia melosamente disse, seus olhos encontrando os meus em um claro desafio. Todos a tratavam como rainha, a esposa do chefe, a mãe do herdeiro. Para eles, eu era só Ana, uma desenvolvedora sênior que, misteriosamente, voltara à empresa que um dia fundou como mera funcionária. Ninguém sabia que cada linha de código de "Crônicas Astrais"- o jogo de ouro da empresa - saiu de minhas noites em claro. Minha mente voltou às noites em que eu e Marcos sonhávamos juntos, enquanto Patrícia, minha "melhor amiga", nos incentivava. Mal sabia eu que, pelas minhas costas, eles armavam um plano para me destruir, usando uma procuração que assinei sem ler, grávida e cega de amor. Quando o jogo explodiu, fui expulsa com a desculpa de "diferenças criativas", sem nada. E agora, ela estava ali, sorrindo falsamente, pedindo-me para "resumir" minhas novas ideias de expansão. Aquela mesma Ana ingênua de cinco anos atrás teria cedido. Mas essa Ana estava morta. "Não", respondi, minha voz fria. O choque em seu rosto foi delicioso. Ela planejava me humilhar, mas não esperava a nova Ana. Minha fúria gélida não era apenas ressentimento; era uma promessa silenciosa de retorno. A primeira peça do dominó havia caído.