Quando abri os olhos, o cheiro de desinfetante invadiu as minhas narinas, e uma dor profunda no meu abdómen lembrou-me que eu tinha acabado de perder o meu filho de oito meses. Com a minha mãe em lágrimas ao meu lado, peguei no telemóvel e disquei o número do meu marido, Léo, ignorando a minha própria dor. Eu precisava de uma explicação. Mas, em vez de consolo, ouvi a voz do meu marido cheia de impaciência. "Sara, o que queres? Estou ocupado, não me incomodes com coisas sem importância." E, logo em seguida, a voz "frágil" da minha cunhada Inês, pedindo água, e o meu sogro elogiando a "atenção" do Léo para com ela. Ele estava a cuidar da sua irmã "doente", enquanto eu estava entre a vida e a morte, perdendo o nosso filho! Léo, com frieza chocante, acusou-me de ser "dramática" por causa de uma "pequena dor de estômago". Ele nem sequer acreditou que o nosso filho tinha morrido, dizendo que eu estava a inventar coisas para o "assustar". No meio da minha dor e do luto avassalador, a família dele invadiu o hospital, não para me consolar, mas para me culpar pela morte do nosso neto. Léo, o pai do bebé, olhou-me com reprovação, como se o desespero fosse meu e não dele. Mas, o que mais me rasgou a alma, foi quando a Inês, com a sua voz "chorosa", me chamou de "cunhada", pedindo desculpa, para depois, num sussurro venenoso, revelar a sua verdadeira face: "Ele ama-me. Ele sempre me amou. Tu foste apenas um substituto, um útero para lhe dar um filho." Naquele momento, todo o meu corpo se arrepiou. A dor deu lugar a uma fúria gelada. Eu não ia apenas divorciar-me. Eu ia lutar pela justiça, não só por mim, mas pelo meu filho que nunca teve a chance de respirar.