O funeral do meu filho terminou. A chuva de Lisboa misturava-se com as lágrimas que eu nem sabia que estava a chorar. Ao meu lado, Pedro, meu marido, mantinha uma indiferença gélida. Então, ele soltou: "Sofia, já chega de drama. O Leo não ia querer ver-te assim." Leo, o nome do nosso filho. O filho que ele mal conheceu. Naquele momento, algo em mim quebrou. "Pedro, quero o divórcio," declarei, com uma voz fria e firme. A sua resposta foi um escárnio, uma ameaça vazia: "Vais ficar sem nada, Sofia." E a voz melosa da sua secretária, Clara, ecoou na minha mente: "Pedro, querido, não te esforces demasiado." Sim, querido. Enquanto o nosso filho lutava, enquanto implorávamos por um transplante de medula, ele estava no luxo, com ELA. O meu filho morreu à espera do pai, porque o telefone dele estava desligado, porque estava com a amante. Como pude ser tão cega? A minha sogra, Dona Elvira, só piorava: "Foste tu que não conseguiste dar ao Pedro um filho saudável. Foi o teu corpo que falhou." E depois, ele apareceu na televisão, transformando a morte do nosso Leo numa Fundação hipócrita, ao lado daquela mulher! Ele queria manchar a minha honra, chamar-me louca para me calar. Mas a dor transformou-se em fúria, e a fúria em determinação. Ele podia ter o dinheiro, o poder e a imprensa. Eu tinha a verdade do meu lado. Agora, vou lutar. Não só pelo divórcio, mas pela justiça. Pelo meu filho. Por mim.