Quando abri os olhos no hospital, o cheiro forte a desinfetante não me preparou para o que viria. Tinha acabado de sofrer um acidente grave e a minha perna estava imobilizada, mas a minha primeira preocupação foi o Miguel, o meu noivo. Liguei-lhe, esperando o seu apoio, mas a sua voz soou distante, abafada por música alta e risos, para logo me perguntar irritado: "Helena? O que foi? Estou ocupado agora." A sua falta de preocupação atingiu-me em cheio, mas o pior estava para vir. Ouvi uma voz feminina ao fundo, uma voz que eu conhecia demasiado bem: a da minha prima Clara. "Miguelito, amor, quem é? Anda dançar!" O meu coração parou. O meu noivo estava numa festa com a minha prima, enquanto eu jazia num leito de hospital. Quando tentei confrontá-lo, ele desligou na minha cara. Simplesmente desligou! E logo em seguida, o meu telefone foi bloqueado. Enquanto as lágrimas rolavam, e tentava processar a traição, recebi uma ligação chocante. Era o meu próprio tio, pai da Clara, que não só defendia o Miguel, como também me acusava de ser "egoísta" e "histérica" por perturbar a festa da família. Ali, com o corpo dorido e o coração em pedaços, percebi a verdade mais cruel: Eu não era uma prioridade. Eu nunca fui. A vergonha e a raiva deram lugar a uma certeza gélida: Este noivado tinha que acabar, não importava o preço. Mas será que eu tinha a força para me levantar e lutar pela minha própria liberdade e paz, contra todos aqueles que ousavam me julgar e intimidar?