O funeral do meu pai acabou. Três dias se passaram e o meu marido, Diogo, ainda não apareceu. Ligo para ele, mas a chamada vai para a caixa postal. Envio mensagem. Apenas um tique cinzento. Estou em casa, sozinha, com o cheiro a flores velhas e a ausência dele. Não. Ele não estava "ocupado". Ele estava com a ex-namorada dele, Bia. O pai dela morreu no mesmo acidente que o meu, um acidente que a família do Diogo insiste em culpar o meu pai. "O Diogo está com a Bia?" , a minha voz quase não sai. "Claro" , responde a Sofia, minha cunhada, sem me olhar. "Ela precisa dele. O pai dela morreu por causa do teu pai!" As palavras da minha sogra, Dona Elvira, eram veneno puro. "Não sejas dramática, Clara. O teu pai já morreu. Não adianta chorar." A casa transformou-se num campo de batalha onde eu era a inimiga. Diogo não só me abandona no meu luto, como me vê chamando-a de "egoísta" e desliga. Depois, vejo a foto. Bia abraçada ao Diogo, ele beija-lhe a testa. A legenda: "Obrigada por estares aqui comigo no pior momento da minha vida, Di. Não sei o que faria sem ti. ❤️" Sinto o estômago a revirar. Vomito a bílis amarga. Estou pálida, com olheiras. Um fantasma. Ele não atende as minhas chamadas, mas está ativo nas redes sociais. A decisão forma-se na minha mente, clara e fria. Pego no telemóvel e envio uma mensagem ao Diogo. "Vamos divorciar-nos." Saio de casa com a minha mala e sem olhar para trás. Este não é o fim da minha história. É apenas o começo.