Segurava o celular com unhas brancas, sua única conexão com uma realidade que teimava em se desfazer. As mensagens da assistente do pai brilhavam dolorosamente na tela - lembretes insistentes e urgentes da tragédia que se abatera sobre sua vida. A voz daquela auxiliar, outrora firme e profissional, tremia agora, carregando nas sílabas a sombra do temor.
- Senhorita Pamela, seu pai sofreu um atentado. A senhora precisa voltar imediatamente.
Aquelas palavras ecoavam em seus ouvidos como um martelo que não queria cessar, e a incerteza vinha junto, invadindo seu peito como uma tempestade silenciosa. O que acontecera? Como aquele homem que ela havia conhecido como forte e invulnerável estivera tão vulnerável? Fugir para longe já não parecia uma opção, embora o desejo de escapar daquele mundo sufocante e cruel ardia em cada fibra do seu ser.
Enquanto o carro tomava a última curva, Pamela ficou presa num torvelinho de sentimentos: a nostalgia gostosa das lembranças boas que não sabia se ainda existiam, a angústia daquilo que provavelmente encontraria e a raiva latejante de ter sido afastada de tudo por tanto tempo.
O peito apertava tanto que parecia querer implodir; nessa junção de emoções conflitantes, o passado, presente e futuro se misturavam como chamas que ameaçavam consumir o que restava de seu mundo seguro.
Quando os imensos portões da mansão rangendo lentamente se abriram, foi como se estivesse cruzando a entrada para um túmulo onde jaziam todas as esperanças que tinha. A cena que a aguardava não era de boas-vindas, mas a fria realidade de uma guerra invisível travada há muito tempo.
Em volta, homens de terno trajavam semblantes impossíveis de decifrar; viaturas com luzes intermitentes desenhavam sombras dançantes nas estruturas elegantes da casa. No centro da agitação, um lençol branco cobria um corpo que – num golpe surdo ao seu coração – ela reconheceu como sendo o pai.
Martins: - Senhorita Pamela, sou Martins, chefe da segurança. Seu pai pediu que trouxéssemos a senhora com urgência.
Ela ergueu o olhar, lutando para que a frieza não a dominasse, e então seus olhos caíram sobre a figura do pai. Pálido, inconsciente, suas feições beijadas pelo fio escuro da dor, seu sangue manchando o silêncio ao redor. A força que outrora sentira parecia agora um eco distante.
Pamela: - Pai...
Martins: - Ele está vivo, mas sua condição é grave. Tentaram assassiná-lo - pausou, fazendo o peso da verdade cair. - E não é seguro que a senhora permaneça aqui desprotegida.
Pamela: - Quem teria coragem para fazer isso? Quem tentaria tirar a vida do meu pai?
Martins: - Precisamos descobrir quem está por trás disso, senhorita.
Antes que pudesse formular mais perguntas, um carro preto parou bruscamente. Duas figuras surgiram do veículo com passos firmes, rosto fechado, e olhares tão afiados que pareciam cortar o ar.
O primeiro era robusto, com expressão de aço, olhos que pesavam cada movimento de Pamela. O segundo, alto, com cabelo desalinhado e olhar intenso, fez seu fôlego falhar.
Martins: - São Leonardo e Nicolau. Seus novos seguranças.
O nome Leonardo reverberou na mente de Pamela, enquanto o confronto silencioso daquele olhar gélido a atravessava, trazendo um misto de temor e esperança.
Leonardo: - A partir de agora, sua segurança é nossa prioridade absoluta.
Ela respirou fundo, sentindo que a vida que conhecera se despedir em silêncio, e que a guerra que enfrentaria seria maior do que tudo que imaginava.
- Bem-vinda de volta ao inferno, Pamela - sussurrou a própria escuridão que a aguardava.