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Operação no morro

Operação no morro

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Amélia Fonseca é uma agente da polícia que recebe a missão de se infiltrar no morro para uma operação. O que ela não esperava é que no meio do processo acabaria nutrindo sentimentos por seu maior inimigo, o dono do morro.

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Capítulo 1 Prólogo

Morro do Guarivim, Rio de Janeiro

Thiago

O sol quente do meio da tarde queimava a pele exposta das minhas costas, a bermuda velha me fazia parar de andar vez ou outra para erguê-la novamente em seu devido lugar. O fuzil que carregava atravessado pesava, fazendo o lugar arder ainda mais pelo atrito da arma com a pele além da quentura do sol, que nos castigava dia pós dia.

Meu corpo já estava todo suado enquanto eu subia a ladeira, cortando caminho por alguns becos e saindo dele rapidamente quando via alguém sendo coagido em algum deles. Aqui não se podia intrometer em nenhum assunto que não te dissesse respeito, ou ele se tornaria seu também e você teria que lidar com as consequências.

A melhor escolha então era se fazer de surdo e mudo quando via algo, ainda mais quando envolvia os donos das bocas, eu evitava até mesmo olhar para eles quando os via, me tremia inteiro com medo de implicarem comigo e acabarem me matando.

Mamãe sempre me dizia para passar longe disso tudo, mesmo morando em uma comunidade, o que era praticamente impossível. Ela lutou muito para não trazer nossa família para o morro, mas as condições que tínhamos no momento não ajudou, ela tinha acabado de perder o emprego como doméstica de uma família de classe média e meu pai nunca trabalhou, então o único lugar que poderíamos pagar e ter uma chance de viver era em algum morro, e meu pai escolheu o pior deles, o morro do Guarivim.

O lugar era tomado pelo tráfico, nenhum carro de polícia subia aqui há anos, obviamente pelo perigo e por toda propina que os traficantes pagam para serem pelo menos minimamente encobertos. O dono era o velho Guará, um homem que vivia matando várias pessoas em praça pública para servir de exemplo para as outras que eram obrigadas a assistir aquela barbaridade, segundo ele viciados que davam calote, estupradores, ladrões não eram bem vindos vivos no morro dele. O lugar podia ser infestado pelo crime, mas até nele tinha regras e que se não fossem cumpridas havia consequências.

Aos treze anos consegui um serviço perto do morro como ajudante de pedreiro, era uma forma de conseguir alguns poucos trocados e ajudar na despesa de casa. Minha mãe agora fazia encomendas de doces e salgados, mas não eram muitas e isso não estava suprindo sequer as contas básicas de casa, meus dois irmãos mais novos choravam de fome e eu não estava mais aguentando ver aquilo até no dia que resolvi sair e prometi que só voltaria para casa quando conseguisse um emprego, e eu voltei dois dias depois com muita sede e fome, porém agora empregado.

Passei dois meses ajudando na obra e tudo que recebia entregava diretamente na mão da minha mãe para que comprasse ao menos macarrão e feijão para nossa casa, era o que estávamos conseguindo comer ultimamente, mas eu não reclamava, estava feliz de conseguir ajudar nossa família.

Enquanto meu pai aparecia vez ou outra em casa, e sempre que aparecia era pra pegar alguma coisa, fosse móvel ou um pacote de comida para vender e sustentar seu vício que aumentou ainda mais depois da nossa mudança. Minha mãe chorava e se sentia culpada por aquilo, achava que o aumento da dependência em droga dele foi culpa dela por não ter conseguido bancar nossa despesa no bairro pobre que morávamos, sendo que desde sempre ele foi assim, se conheceram ainda adolescentes e ela logo engravidou e em seguida descobriu o quão viciado ele era, mas já parecia ser tarde demais para mudar as coisas e ela se acomodou naquela vida mesquinha de trabalhar horas e horas seguidas para mal ganhar um salário e sustentar a família que tinha tido.

Estava tudo indo bem até o dia em que cheguei todo sujo de cimento em casa já tarde da noite, ansiando pelo momento em que deitaria no meu velho colchão de espuma e descansaria pelo menos algumas horas, estava tão cansado do dia de trabalho que só pareci realmente acordar quando vi nossa sala toda quebrada, os poucos móveis que tínhamos estavam todos destruídos e quebrados, o lugar todo revirado e sujo enquanto mamãe segurava meus dois irmãos e chorava desesperada agarrada neles.

- O que aconteceu? - Perguntei atônito, enquanto observava aquela cena. - Me responde, mãe. - Pedi quando a mulher suspirou, os olhos inchados e vermelhos.

- Não se preocupe com isso, meu menino. - A voz saiu embargada e vi o momento que os pequenos se desvencilharam dela e correram na minha direção, agarrando minha perna.

- O homem ruim disse que vai voltar. - A voz infantil soa baixo, contando.

- Cala a boca, Marcos. - Mamãe exigiu. - Pegue sua irmã e vá para o quarto agora. - Mandou gritando. Ela não era assim, parece que estava fora de si. -O pequeno agarrou a mão da nossa caçula que era especial e mesmo contrariado obedeceu indo para o quarto, ou melhor, o que tinha sobrado dele.

- Me fala logo o que aconteceu, caralho. - Minha mãe me olhou assustada, eu nunca tinha falado de forma tão grosseira com ela.

- O seu pai. - Não conseguiu concluir a frase pois o choro voltou com força.

- Ele fez essa merda, não é? - Gritei, sentindo meu corpo tremer de ódio. - Eu vou matar ele. - Joguei a mochila velha que carregava nas costas no chão e sai, mesmo escutando seus gritos dizendo que não foi ele, que ele não tinha culpa eu apenas segui caminhando em passos rápidos até o topo do morro. Foi quando me vi parado na porta da sala do chefe dali, do dono morro.

Os vapores riram da minha cara quando pedi que o chamassem, me zombaram até o momento que tentei passar por eles e invadir o lugar, e é óbvio que não consegui. O meu corpo era magro e fraco, mal havia entrado na adolescência e logo fui derrubado pelos homens, que me ameaçavam até a hora que a porta se abriu e o velho barbudo saiu de lá e me arrastou pra sala escura.

- Achei que iria resolver o problema com sua mãezinha, não com a criança dela. - Riu debochado e caminhou até a mesa de madeira. - Ela não quis entregar o paradeiro do marido, mas você vai, não é? Vai ou vai morrer igual o resto da sua família.

- Não sei onde ele está, nunca sabemos na verdade. - Minha voz falhava e sentia meu joelho arder pelos ralados quando fui jogado no chão.

- Não? - Fez um biquinho, enquanto continuava zombando da minha cara. - Quando ele voltar vai morrer, mas antes vai ser vocês. - Continuou rindo, mas agora tirando uma arma de cima da mesa e apontando na minha direção.

- Me mata, mas deixa minha mãe e irmãos vivos. - Pedi, implorei enquanto o homem se divertia com a cena.

- Olha só, não me diga que virou o chefe da família já que o bosta viciado do seu pai não conseguiu. - Apenas assenti balançando a cabeça. - Ele deve quatro mil pra boca, o velho achou que iríamos sustentar o uso de pedra dele. - Contou baixando a arma.

- Eu vou pagar vocês. - Praticamente prometi. - Mas não façam mais nada lá em casa, por favor.

- Pagar como, moleque? Mal saiu das fraldas e quer resolver b.o dos outros. - Desdenhou e levou a mão no queixo em seguida, parecendo pensar. - Já sei como vai me pagar. - Riu ainda mais abertamente mostrando os dentes amarelados.

E foi naquele dia que me tornei um traficante, que passei a carregar uma maldita arma nas costas.

E mal poderia imaginar que antes de chegar aos quinze me tornaria também um assassino.

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Mais Novo: Capítulo 9 Oito   01-09 09:25
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