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Carpe Diem: Viva Intensamente

Carpe Diem: Viva Intensamente

5.0
11 Capítulo
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Sinopse

Índice

Marcelo é um homem de 30 anos prestes a se casar com a mulher da sua vida. Pelo menos é o que espera até ela confessar uma coisa que mudaria completamente o rumo de sua vida planejada. Desnorteado, Marcelo procura o caminho mais fácil para lidar com a sua dor: Suicídio. Disposto a isso, sobe no Palácio W. Zarzur, mas o destino coloca um obstáculo em seu caminho. Acompanhe o desenrolar dessa história e descubra junto com Marcelo um precioso ensinamento da vida.

Capítulo 1 Rostos

Rostos... Rostos alegres, rostos sérios, rostos incrédulos, rostos entediados, rostos suados, rostos conhecidos, rostos nem tão conhecidos assim, rostos ocupando todos os assentos da igreja. Antes que pense que sou obcecado por rostos, estou apenas nervoso, ou ansioso. Talvez os dois, ou mais um do que o outro... O importante é que todos esses rostos estão aqui participando do dia mais importante da minha vida: meu casamento. Eu sei que deveria estar dando uma de relaxado, querendo fugir do compromisso, mas casar sempre foi o meu sonho e está se tornando real com a Carla.

***

Carla Moreira, em poucos minutos será Carla Moreira Dutra, a loira que roubou meu coração. Ainda me lembro da terrível festa de faculdade em que fui forçado a ir por Júlio, meu melhor amigo. Sim, eu não sou um cara muito sociável, porém tenho um amigo sociável demais.

Somos amigos desde a pré - escola e mesmo seguindo carreiras diferentes, eu fiz Análise de Sistemas e ele fez música, mas sempre mantivemos contato. Agradeço a ele por ter entrado em meu quarto e me convencido a ir naquela chácara onde acontecia a festa de boas vindas dos calouros de todos os cursos da nossa faculdade. Confesso que a cerveja era quente, a música era muito variada e as pessoas não eram do mesmo círculo social que o meu, se é que eu tinha um. Afinal meu círculo se resumia ao Júlio e a faculdade. Mas voltando a Carla...

Lembro que estava próximo ao banheiro feminino, o único ambiente onde não tinha um líquido misterioso no chão e um aglomerado de pessoas dançando o que eu acredito ser um ritual de acasalamento moderno. Ela veio em minha direção com seus cabelos loiros esvoaçantes, seu corpo com uma blusa rosa que tampava... O necessário, algo que acredito ser uma saia e uma sandália de salto. Ela parou em minha frente e disse:

— Sabe onde fica o banheiro feminino?

Eu travei, confesso que não esperava que uma mulher tão linda fosse falar comigo. Aliás, que nenhuma mulher fosse falar comigo. Mas ela falou e agora está falando outra coisa que eu não consegui entender, até que ela me puxou pelo braço e me levou pra dentro do banheiro onde, nossa, aconteceu algo mágico. Segurei seu cabelo por 10 minutos enquanto ela vomitava toda a bebida da festa. Ela se levantou e sorriu para mim e então saiu do banheiro. Claro que tive de sair logo em seguida, pois as outras meninas não gostaram muito da minha presença lá dentro. Foi amor à primeira vista...

Pelo menos para mim. Carla nem sequer se lembrou de mim no dia seguinte, nem no outro dia. Nem quando eu cruzei com ela na biblioteca, muito menos quando eu fui até a sua sala, onde ela cursava Moda, com um buquê de flores e bombom. Toda mulher gosta de bombom e com a Carla não foi diferente. Após comer todos e lamber seus dedos de forma sedutora, sorriu e disse:

—Você é um cara muito legal, Pedro.

— É... Mar... Mar.. Marcelo - corrijo, tentando não ferir os sentimentos da minha Deméter.

—Marcelo - repete Carla, sorridente. Aquele sorriso... Ela ajeita seus belos cabelos loiros atrás da sua delicada orelha enquanto a outra vai em direção ao seu bolso da calça jeans rasgada — Mas não estou a fim de me envolver com ninguém agora... Será que podemos ser... Amigos?

Sim, ela está propondo aquele limbo chamado Friendzone, sem considerar que eu tenho amor próprio? É claro que eu não aceitaria tão fácil aquela ideia.

— Claro que podemos ser amigos, Carla - respondo rapidamente.

— Que ótimo - diz enquanto se aproxima fazendo exatamente o que eu vim buscar: um beijo... Na minha bochecha. Nem preciso dizer que não lavei minha bochecha por dias, semanas, ou meses.

Vocês podem estar pensando que nunca sairia daquele limbo, onde via Carla chorar por caras que não a merecem, enquanto eu estava ali do seu lado pronto para fazê-la a mulher mais feliz desse mundo. Confesso que passei a faculdade inteira assim, e a faculdade dela também... Depois veio o meu primeiro emprego... O primeiro emprego dela... Minha promoção... O novo emprego dela... Minha segunda promoção... Carla se torna modelo... Cargo de Analista pleno... Carla trabalhando como acompanhante de luxo (não a julguem!)... Diretor de projetos e finalmente Carla se tornou professora de Yoga, até hoje.

Então como eu consegui que ela fosse minha? Meus queridos foi bem simples: Vodca. Sim, depois do milésimo pé na bunda, Carla me convidou pra ir a casa dela. Como sempre levei os bombons trufados que Carla gosta e ao chegar, ela já estava meio alta. Falamos sobre o canalha casado que frequentava suas aulas à base de muita vodca. Um choro, uma virada e limão... Um choro, uma virada e limão... Uma virada e limão... Duas viradas, limão e um passar de mãos... Três viradas e Deus, onde está o limão?... Quatro viraaaaadas... Mãos... Sutiã... Calça... Meias... Beijos... Amassos...

—Roberto... – sussurra Carla me encarando daquele jeito... Aquele jeito que me deixa sem ação...

— Meu nome é Marcelo, Carla... – corrijo sem graça.

— Desculpa... — pede descendo pela minha barriga.

Calcinha... Quente... Fervendo... Deus está acontecendo... O que está acontecendo? Deméter... Deméter...

E foi assim que eu tive a minha primeira noite de amor com Carla, ou parte do que consigo me lembrar. Lógico que no outro dia ela se arrependeu, me pediu desculpas e fui jogado para fora da casa dela, sem minhas roupas. A minha sorte é que meu carro estava estacionado em frente a casa dela, o meu azar é que era um domingo: Reunião familiar na casa dos meus pais. Só para constar: ainda moro com meus pais.

Quatro semanas depois Carla foi até a minha casa e me deu a melhor notícia do mundo: Eu ia ser pai. Claro que ela não estava muito feliz, mas eu estava por nós dois. Então achei melhor , para não desonrar a imagem da Carla em frente a sociedade, apesar dela debochar disso e sempre dizer que sou exagerado , decidi que iríamos nos casar antes da barriga dela ficar aparecendo.

Fui atrás de cada um dos preparativos da festa, deixando para Carla somente a obrigação de encontrar o belo vestido e cuidar do nosso bebe. Era uma corrida contra o tempo, mas agora, dois meses depois, aqui estamos nós. Com uma hora de atraso, mas qual noiva não se atrasa, não é mesmo?

O engraçado é que agora todos os rostos estão com a mesma expressão: Preocupação. Na verdade o meu rosto também, até que a porta da igreja se abriu e eis que surge... A planejadora do nosso casamento. Ela vem em minha direção com o olhar preocupado.

— Olá, Antonio, a Carla pediu para falar com você, pessoalmente. - sussurra.

—Marcelo - corrijo nervoso—Agora, será que não pode ser depois... A gente tem um compromisso meio sério marcado para esse momento... O nosso casamento.

—Ou você vai à sacristia agora, ou ela irá desmarcar esse compromisso tão importante - explica entre os dentes enquanto sorri para os convidados.

—Ela vai o quê? Como isso aconteceu, Suzana?- pergunto alto.

—Calma, é só nervosismo de noiva – explica Suzana.

—A Carla desistiu do casamento? - pergunta minha mãe, me encarando.

—Ela não desistiu.- digo. Olho para Suzana e respondo — Eu vou até lá.

Caminho em direção à porta da Igreja com Suzana, Eu tento não pensar que Carla pode ter desistido de casar.

***

Tento manter o pouco que resta da tradição e entro na sacristia com minhas mãos por cima dos meus olhos fechados, não quero ver Carla vestida de noiva, dá azar. Escuto os passos nervosos de Carla vindos em minha direção, sinto suas mãos delicadas tocar as minhas e retirá-las do meu rosto. Fecho os meus olhos o mais forte que consigo.

—Abra seus olhos - pede Carla com sua voz doce um tanto entristecida — Pode abrir...

—Não, amor. - recuso apertando os olhos mais ainda e lhe dando o maior sorriso — Não quero começar as nossas vidas com azar.

—Não se preocupe. - garante Carla — Eu não estou usando o vestido.

— O quê? – pergunto chocado abrindo os meus olhos para confirmar a verdade: ela está com os cabelos loiros presos em rabo de cavalo, com uma blusa branca e calça jeans. Noto que sua barriga está maior, então pergunto — Por quê? Aconteceu algo com o vestido? Ele não entrou? Minha tia de Piracicaba está aí e ela é a melhor costureira da cidade.

—Não... O vestido está bem - explica ela colocando as mãos no bolso.

— Problemas na recepção? No bufê? Não me diga que eles não vão conseguir servir os canapés, eu deixei bem claro o quão isso é importante... - digo já irritado com aquela situação. A minha briga com bufê é antiga e insignificante a essa altura do campeonato. Ajeito minha gravata e digo — Eu sabia que alguma coisa ia dar errado.

—Não... Está tudo perfeito. - garante Carla sorrindo triste.

— Então o que foi?Foi o bebê? Aconteceu alguma coisa com o nosso filho? - pergunto, preocupado, recebendo apenas um balançar de cabeça negando — Então por que não está vestida?

— Eu não posso me casar. - responde Carla, nervosa — Não com essa mentira.

— Que mentira? - pergunto arqueando a sobrancelha.

— Eu só te peço para que se lembre da promessa que fizemos... De não se importar com os fatos desde que um conte para o outro. - lembra Carla. — Como sempre, desde que éramos amigos...

—Tudo bem, não há nada que você possa me contar que supere quando você disse que era garota de programa... Ops, acompanhante de luxo. - digo sorrindo. Tem-se uma coisa que tenho orgulho em meu relacionamento com a Carla é que ela sempre foi sincera e não há nada que ela me diga que me deixaria bravo com ela...

— Eu dormi com o Júlio. - confessa Carla.

—Você dormiu com o meu melhor amigo? – pergunto nervoso. Retiro o que eu disse: Isso me deixaria bravo — Isso foi antes ou depois...?

— Antes... - responde Carla nervosa. Menos mau, se foi antes de nós começarmos a ficar juntos, não tem motivo para eu ficar preocupado. Pelo menos até ela respirar fundo e continuar —... Durante... E ontem.

Cadeira, eu preciso de uma cadeira. Olho para todos os lados à procura de uma.Como não há cadeiras em uma sacristia? Encosto na janela, colocando meu braço sobre o rosto. Quero chorar, ficar irritado, mas olho para o rosto da Carla, ali me encarando com medo. Na verdade quem está com medo sou eu, de fazer aquela pergunta que permeia minha cabeça. Se eu não perguntar, talvez possa perdoá-la, mas se eu não perguntar, ficarei com a dúvida eternamente.

— Por que o Júlio? Você odiava o Júlio! Vivia me dizendo isso e agora dormiu com ele!? Ou melhor, dorme com ele há... Há quanto tempo? - pergunto desesperado.

— Há muito tempo. – revela Carla fungando. Noto que algumas lágrimas caem de seu rosto, indo em direção aos seus lábios que estão com um leve sorriso — Ele sabe como agradar uma mulher... O Júlio é espontâneo... Engraçado... E não é controlador... Metódico... – continua. Como se não bastasse eu ter de ficar ouvindo falar do Fodão Júlio, agora começou a me humilhar. Ela nota a minha cara de poucos amigos e então segura em meu braço enquanto sua cabeça balança negando o que estava dizendo — Não que você seja... Eu garanto que não fiz isso para te magoar... Mas entrou no meio de uma separação nossa... Eu confesso que fiquei com você antes para fazer ciúmes... Mas agora que eu aprendi a amar você, não poderia me casar com isso. Agora você sabe...

— Eu posso até entender o antes... Ou até um pouco depois da nossa noite. - respondo, sendo sincero — Eu sei que não sou o tipo de cara que uma mulher como você se relaciona, inclusive fisicamente, não juramos ser fiéis um ao outro... Ainda. Mas ontem nós fizemos o jantar de ensaio para o casamento e você disse que estava indisposta, mas você transou com ele! Por quê?

— Eu não sei... Você estava tão focado com o casamento, sempre se impondo sobre as minhas escolhas que estava ficando insuportável ficar ao seu lado... mas não importa. - diz Carla segurando em meu braço — Eu errei e te peço perdão.

— Você conheceu a mulher dele ontem. - balbucio. Na verdade, não estou falando com a Carla, mas comigo. — Júlio é casado... E você sabe disso... Você não estava surpresa em vê-la porque você já a conhecia... O Júlio era o cara canalha casado com quem você se envolvia, não é?

— Sim. - confessa Carla com a cabeça baixa.

Eu sinto cada confissão dela entrando em meu peito como se fosse uma lança. Ela me traiu, mas não era a traição física que doía, mas o fato dela esconder tudo isso e achar que tudo iria se resolver naquele momento. Então uma ideia surge em minha cabeça, uma ideia terrível, de uma verdade praticamente falada. Antes que eu consiga processá-la, minha boca a solta:

— Ele é o pai dessa criança! - afirmo com toda minha convicção.

Carla me encara chorando, então aos poucos sua cabeça vai balançando , afirmando minha suspeita. Ela sorri entre as lágrimas e diz como se tudo o que conversamos fosse mais uma de suas histórias de amor mirabolantes:

— Isso não importa. O que importa é que agora poderemos nos casar , pois não há mentira entre nós.

Ela me abraça, seu corpo se encaixa perfeitamente ao meu, quente, macio... Sempre achei que aquele era o lugar dele. Que eu era o suporte que ela precisava. O abraço forte, beijo seus cabelos dourados e fecho meus olhos. Minhas forças desaparecem , não consigo afastá-la , ela é o meu sonho , a mulher da minha vida. Ela é a minha namorada perfeita... É certo que eu seria sempre dela... Até aquele momento.

Afasto seu corpo do meu, acaricio aquele rosto de anjo, beijo suas mãos e digo transtornado:

—Eu não... Eu não posso fazer isso.

— Por que não? - pergunta Carla, surpresa. Ela sorri e esfrega o meu braço. Como eu odeio que ela esfregue o meu braço — Você mesmo disse que nada conseguiria superar o fato de eu ter sido acompanhante de luxo.

— Eu morreria por você, Carla. - afirmo, tirando a mão dela do meu braço.

— Então... - ela diz, tocando em meu rosto.

— Antes... Antes de você provar ser exatamente o tipo de garota mau caráter que eu sempre soube que era... Que dormiu com todos os caras do seu curso, do meu curso e do curso do Júlio!

— O quê? - pergunta Carla confusa com as minhas amargas palavras.

—Além de dormir com ele, sabendo que era casado! E o pior nem é isso: Você engravidou dele e me seduziu para dormir com você e ser o pai desse filho! Filho de uma safadeza de vocês! Tenho pena dessa criança...

— Marcelo, o que está querendo dizer? - pergunta Carla, irritada — Você está me ofendendo.

— Estou? Desculpa se eu ofendi você, não foi minha intenção ser o corno irritado!- grito, soltando todo o ar dos meus pulmões. Passo a mão no meu rosto e continua apontando o dedo no rosto daquele monstro parado em minha frente — Você me enoja e quer saber: Contar que transou com meu melhor amigo, engravidou dele e mentir pra mim que eu sou pai foram as piores coisas que você me disse! Acabou Carla, estou terminando com você.

Seu rosto está paralisado, tenho certeza que ela não esperava que tudo fosse tomar aquele rumo. Sinceramente, nem eu. No fundo, queria fazer o contrário, abraçá-la e aceitar tudo aquilo, como um cavalheiro. Mas eu não seria um cavalheiro, mas um capacho, que mais uma vez iria acobertar os erros dela. Ajeito o meu smoking e caminho para fora da sacristia.

—Eu não iria te contar, mas seus pais me garantiram que você aceitaria numa boa toda essa situação. - dispara Carla, desesperada.

— O que você disse? - pergunto, me virando sem acreditar no que ela disse. Definitivamente ela está desesperada a ponto de colocar meus pais no meio.

— Foi isso que você ouviu, pergunte a eles. - pede Carla. Olho em seus belos olhos azuis, ela está falando a verdade. — Eles disseram que eu era a sua única chance de ser feliz e de sair da casa deles. Que teria medo de me largar, pois assim seria como seus colegas de serviço: um homem de 30 anos solitário que vive na casa dos pais.

Eu abro a porta da sacristia e a Suzana cai em meus pés. Não me importa que ela tenha escutado tudo. Caminho rápido em direção à igreja com Suzana correndo ao meu lado, ela fala várias coisas tentando me convencer de que tudo aquilo era normal. Eu no lugar dela faria a mesma coisa já que se não há casamento, não há pagamento.

Assim que abro as portas da igreja o órgão começa a tocar a marcha nupcial, seguido pelo conjunto de cordas, contratados por mim. Os rostos, aqueles do começo, me encararam confusos, exceto três que sabem que eu descobri a verdade.

—Ei amigo! - fala Júlio vindo em minha direção. Ele toca em meu ombro e aproxima a sua boca do meu ouvido dizendo — Não conte a minha esposa, amigão. Não queremos um show no meio do casamento.

Eu ergo minha cabeça com um sorriso nos lábios, então dou um soco no rosto de Júlio. Sei que aquilo doeu mais em mim do que nele, pois ele nem sequer virou o rosto e eu sinto como se minha mão tivesse sido esmagada. A mulher dele vem em seu auxílio me olhando, surpresa.

—Marcelo! - grita Carla, atrás de mim.

— Você está louco? - grita a mulher dele.

—Desculpa Rita, não foi a minha intenção - digo com dor, segurando minha mão — Na verdade isso foi só para que ele saiba que vai ter de pagar pensão alimentícia para Carla... - viro em direção a minha ex-noiva e digo para os convidados — Meus amigos e não tão amigos assim... A minha bela noiva engravidou do meu melhor amigo! Aproveitem que já está tudo pronto e se casem. - tiro meu smoking e jogo em Júlio — Pronto agora você está vestido a caráter, seu merda.

Caminho para fora da igreja, escuto passos que conheço me acompanhando. Tiro a chave do Porsche que eu aluguei para sair da igreja com Carla e o destravo.

—Filho! - chama meu pai tocando na minha mão — Não faça isso.

—Meu filho, todo casal tem problemas. — argumenta minha mãe com um sorriso falso —É assim mesmo o casamento.

— Mesmo? Ou será que é por que vocês não me querem mais na casa de vocês? - pergunto, irritado — Vocês me enojam.

— Ela te contou? - pergunta meu pai, surpreso.

—A gente disse isso, mas não foi de coração - mente minha mãe.

— Não importa mais - respondo entrando no carro. Abro a janela e digo — Vocês não precisam mais se preocupar com isso.

Arranco com o carro, fazendo cantar pneus. Não tenho ideia de para onde ir, mas tenho a certeza de que não pretendo voltar. Olho pelo retrovisor pela última vez e vejo o vulto de Carla gritando, o que talvez fosse o meu nome... Ou talvez estivesse me xingando. Ainda não acredito que o meu melhor amigo e o amor da minha vida tinham me traído daquela forma, bem como meus pais. A dor é tanta que sinto que nada pode aliviá-la, a menos que eu me desfaça dela.

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