Eles se conheceram em uma tarde de sábado. Camila tinha saído para comprar materiais para um trabalho de arte quando deixou cair os pincéis e uma pasta com esboços na calçada. Diego, que passava de bicicleta, parou para ajudá-la. As mãos deles se tocaram acidentalmente quando ambos tentaram pegar o mesmo desenho. Ela riu nervosamente, e ele sorriu sem dizer nada. A partir desse gesto desajeitado, nasceu algo que nenhum dos dois conseguiu ignorar.
Nos dias seguintes, se encontraram por acaso. Ou pelo menos era o que queriam acreditar. Na verdade, começaram a se procurar. Camila passava na esquina da oficina com a desculpa de que ia comprar pão, embora já tivesse em casa. Diego saia para varrer a calçada na mesma hora que sabia que ela voltaria da escola. Pouco a pouco, começaram a conversar mais, a rir de bobagens, a compartilhar anedotas do dia.
A Camila adorava a forma como Diego a olhava. Com atenção, sem julgar. A Diego gostava de como ela falava dos seus sonhos com paixão, como se realmente acreditasse que a arte poderia mudar o mundo.
Uma tarde, enquanto compartilhavam um sorvete em uma praça vazia, ele lhe disse:
- Você acredita nessa coisa de que o amor pode vencer tudo?
Camila ficou pensando por alguns segundos.
- Não sei... mas eu quero acreditar.
Ele pegou a mão dela pela primeira vez naquela tarde. A partir daí, não houve volta.
Durante meses viveram um romance às escondidas. Ela inventava que ia estudar com uma amiga ou que tinha atividades escolares. Ele sempre a esperava com seu sorriso tranquilo e braços abertos. Camila sentia que o mundo desaparecia quando estava com ele. E Diego, pela primeira vez, pensava que talvez pudesse ser feliz sem ter que lutar tanto contra a vida.
Mas o amor juvenil tem suas próprias regras. Ele é rápido, intenso, ingênuo. Os beijos na chuva, as mensagens escondidas, os olhares cúmplices pelos corredores de uma feira. E para eles, tudo aquilo se tornou parte de uma rotina secreta que os fazia felizes.
Até que chegou aquela noite.
Camila tinha tido uma discussão horrível com seu pai. Ele encontrou um desenho onde ela retratava Diego. Não disse nada no início, mas seu olhar disse tudo. Gritou que não queria que ela se relacionasse com "gente sem futuro", que deveria se concentrar em ser uma senhora, em ter um bom casamento, em representar o sobrenome Valdez com dignidade.
Ela não respondeu. Apenas foi embora.
Naquela noite, foi direto para a oficina, onde Diego ainda estava trabalhando. Ele estava sujo, com o rosto manchado de graxa e as mãos rachadas pelo trabalho pesado. Mas para ela, ele nunca tinha sido tão perfeito. Camila se lançou em seus braços sem dizer uma palavra. O beijou como se fosse a última vez. E ali, na escuridão do depósito onde ele guardava as ferramentas, se entregaram pela primeira vez.
Não houve música, velas ou palavras românticas. Mas também não houve dúvidas. Foi real, terno, desajeitado, mas honesto. Foi deles.
- Você se arrepende? - perguntou Diego enquanto ela se acomodava ao seu lado, com a cabeça em seu peito.
- Nunca - respondeu ela sem pensar. - Se o mundo acabar amanhã, hoje eu fui feliz.
Depois daquela noite, começaram a falar sério sobre fugir. Diego dizia que conhecia alguém em outra cidade, que poderia trabalhar lá. Que poderiam começar do zero. Ele não tinha medo. Estava faminto por um futuro. E Camila, embora assustada, sentia que poderia fazer isso se ele estivesse ao seu lado.
- E se a gente for? - disse ela uma noite, enquanto olhavam as luzes da cidade de uma colina. - Só você e eu.
- E se der errado?
- Então tentamos de novo.
Juraram amor eterno. Achavam que bastava se amarem para que tudo saísse bem. Mas a realidade se encarregou de golpeá-los.
Um mês depois, Camila começou a se sentir estranha. Tonturas, náuseas, atraso. Fez um teste e a resposta foi clara: estava grávida.
O medo chegou primeiro. Depois, a culpa. Mas quando contou para Diego, ele não reagiu mal. A abraçou, disse que a amava e que juntos iam dar um jeito naquele bebê.
- Vamos ser uma família, Cami. Eu prometo.
Naquela noite, pela primeira vez, Camila pensou que talvez não estivesse tudo perdido.
Mas seu pai descobriu. Não por ela, mas porque um dia a mãe de Camila notou seu estado e contou para Ernesto Valdez.
O que veio depois foi um pesadelo.
Don Ernesto não gritou. Foi pior. Falou com frieza, como se não estivesse diante de sua filha. Disse que se ela continuasse com a gravidez, arruinaria sua vida. Que a transformaria em uma pária. Que nenhum homem "decente" se casaria com uma moça marcada. Disse para ela pensar no futuro, na família, no sobrenome Valdez.
E então lançou a ameaça mais cruel:
- Se você tiver esse filho, vou deserdá-la. Vou tirar tudo de você. E farei com que esse rapaz desapareça.
Camila chorou. Suplicou. Mas não o comoveu.
Finalmente, ele impôs a decisão. Ordenou que ela dissesse a Diego que perdeu o bebê. Que terminasse com ele e depois se mudaria para o exterior para "evitar escândalos".
Camila não sabia o que fazer. Estava com medo. Não era valente. Não como pensava. Sentia-se sozinha, presa entre o que queria e o que sua família esperava.
E, no final... cedeu.
Ligou para Diego com a voz trêmula. Disse que teve uma perda. Que não podiam mais continuar. Que o melhor seria cada um seguir seu caminho.
- Eu não acredito - disse ele. - Você não é assim.
Ela ficou em silêncio. Não podia mais mentir para ele, mas também não podia dizer a verdade.
- Adeus, Diego.
E desligou.
Poucos dias depois, Camila embarcou em um avião com seus pais. Partiu com o coração partido e uma mão na barriga, jurando que faria tudo o que fosse possível para proteger seu bebê, mesmo que tivesse que viver escondida para sempre.
Diego, por sua vez, nunca mais sorriu como antes. Deixou a oficina, rasgou todos os desenhos que Camila lhe havia dado e aceitou uma bolsa de estudos para estudar em outra cidade. Partiu com uma ferida aberta e um único pensamento: nunca mais confiaria em ninguém.
Ele não sabia que, em algum lugar do mundo, sua filha crescia sem seu nome... mas com seus mesmos olhos cinzas.