- Está fazendo o trabalho na casa das amigas.
- Sei! - Bryan riu e coçou a nuca.
Na certa, ela estava se divertindo com as amigas e tapeou dona Laura.
- Vá ao escritório e não discuta com o seu pai... - a voz crepitante da idosa deu o conselho.
Sem pressa alguma, Bryan rumou pelos corredores da mansão. Mentalmente, ele já estava se preparando para tomar uma bronca. Antes de bater, cerrou os olhos e contou de um a dez. Ergueu o punho e tocou na madeira branca.
- Entre de uma vez, Bryan.
Não estranhou o fato de o pai saber que era ele. Já sabia que Kevin viajava por toda a casa e esse era um dos motivos pelos quais ele nunca levou uma garota para o quarto dele naquela casa.
- Oi, pai! - Proferiu ao adentrar. - Mandou-me chamar.
Com uma carranca sombria, Kevin assentiu com a cabeça e indicou a poltrona com um aceno de mão.
Bryan sentia o estofado macio quando se acomodou. Ele inclinou o torso para frente e repousou os antebraços sobre as pernas após unir as mãos.
- Como foi o jogo? - Atrás da mesa, o homem de meia-idade escrutinou o filho.
- Ganhamos!
- E as notas das avaliações?
Desviando o olhar, Bryan ainda procurava uma desculpa para explicar o péssimo empenho nas provas do curso de Economia e Gestão.
- Nem precisa falar.
Erguendo o tronco, Bryan ajeitou as costas na poltrona, encarando o pai desta vez.
- Claro, o senhor já sabe de tudo... - rebateu, atiçando a ira de Kevin. - Não pode nem ficar feliz por eu vencer mais uma partida.
- Mas que porra acha que está fazendo da sua vida, ãh! - Kevin deu um tapa na mesa, revoltado. - A sua vida se limita aos jogos, treinos e a sair com suas namoradinhas.
- O senhor não pode controlar a minha vida dessa maneira. - Indignado, Bryan enfrentou o pai.
- Você já viu quantos jogadores de futebol caíram no esquecimento depois de uma lesão e de gastar dinheiro com festas e mulheres? É isso que você quer para sua vida?
- Eu já disse que não vou me envolver nos seus negócios. - Uma faísca de raiva cintilou nos olhos azuis de Bryan.
- Mas quer continuar usufruindo do meu dinheiro.
- Quer saber? - O filho deu um tapa no braço da poltrona antes de ficar em pé. - Eu não preciso do seu dinheiro sujo, minha mãe sempre me sustentou com trabalho digno e honesto mesmo quando você nos deixou naquele apartamento sujo na periferia de Milão.
O sangue fervia nas veias do pai que contraía os olhos, fuzilando o filho. Kevin cerrou a mão sobre a mesa. Antes que as coisas piorassem, a porta se abriu.
- Que gritaria é essa? - Justine apareceu a tempo de evitar uma briga feia.
- Conte para ela! - Kevin espremeu os olhos para Bryan.
- Eu só disse a verdade, mãe.
- Bryan disse que não precisa mais do meu dinheiro sujo e jogou na minha cara que abandonei vocês na periferia. Já contou para ele o motivo? - Kevin piscou para a esposa que passava a mão na cabeça do filho.
Justine sabia que o filho era tão genioso e arrogante quanto o pai e sabia que em algum momento da vida, os dois iam acabar divergindo ferozmente.
- A senhora já sabe o que meu pai quer que eu faça?
- Você não vai obrigar o meu filho a se casar... - Em meio à exasperação, Justine redarguiu.
- O quê? - Bryan levantou. - Não quero casar! - Exaltado, ele se impôs.
- Olha a merda que você fez... - falou com a esposa. - Só estava repreendendo o nosso filho devido às notas ruins e Bryan acha que é porque quero que ele assuma os meus negócios escusos... - Cada palavra dita por Kevin saiu entre dentes.
- Bryan, não devia desrespeitar o seu pai dessa maneira.
- Concorda com esse lance de forçar a casar? - Bryan retrocedeu alguns passos quando a mãe tentou tocar em seu braço. - Deixe-me ser bem claro: não quero e não vou casar com ninguém só para expandir os seus negócios. Hai capito? - A última frase foi dita enquanto ele olhava para o pai.