Ela estava com ele, grávida do filho dele, enquanto a mãe dela morria sozinha em um hospital.
No funeral, ela desmaiou e perdeu o bebê. O amante dela gritou que a culpa era minha, e ela ficou ao lado dele, deixando-o me culpar.
Eu me divorciei dela. Pensei que tinha acabado.
Mas, quando saímos do escritório do advogado, o amante dela tentou me atropelar. Isabella me empurrou para fora do caminho, recebendo o impacto. Com seu último suspiro, ela confessou a verdade.
"O bebê... era seu, Izzy. Sempre foi seu."
Capítulo 1
A manchete brilhava na tela do celular de Israel Clark. "A Titã da Tecnologia e o Segredo de Seis Anos: A Volta por Cima de Isabella Rocha."
Ele assistiu ao vídeo, o polegar pairando sobre a tela. Isabella, sua esposa, parecia confiante e elegante em um terno de negócios impecável, um mundo de distância da mulher despedaçada com quem ele havia se casado.
Uma repórter sorriu. "Isabella, seu sucesso é uma inspiração. Mas nossos leitores estão curiosos sobre seu marido, Israel Clark. Ele te salvou daquele terrível incêndio no centro de dados há seis anos. É uma grande história de amor?"
A risada de Isabella foi leve, mas seus olhos estavam frios. "Israel é um homem gentil. Eu fui grata, e ele esteve lá por mim quando eu estava no meu pior momento. Eu devia muito a ele."
Ela fez uma pausa, deixando as palavras pairarem no ar. "Mas gratidão não é amor. Acho que nós dois entendíamos isso."
As palavras atingiram Israel com a força de um soco no estômago. Seis anos. Seis anos de devoção, de cuidar não apenas dela, mas de sua mãe em coma, Helena. Tudo isso, reduzido a uma dívida paga.
Ele sentiu uma risada amarga e oca se formar em seu peito. Um tolo. Ele era um tolo.
A seção de comentários sob o vídeo explodiu.
"Uau, ela acabou de chamar o marido de caso de caridade em rede nacional."
"Seis anos de gratidão? Esse é um cartão de agradecimento bem longo."
"Coitado, provavelmente ainda acha que ela o ama."
A mão de Israel se apertou no celular até seus nós dos dedos ficarem brancos. Ele não precisava ler mais nada. A humilhação pública era apenas sal em uma ferida que vinha infeccionando por anos.
Ele se levantou, seus movimentos rígidos. A ilusão se estilhaçou. Não havia mais nada para fingir. Ele caminhou até a janela, as luzes da cidade de São Paulo se borrando através da umidade repentina em seus olhos.
Tinha acabado.
Ele pegou o celular novamente, seus dedos se movendo com um propósito novo e frio. Ele não ligou para ela. Ligou para seu advogado.
"Davi, é o Israel."
"Izzy, e aí? Viu a entrevista da Isabella? Ela está arrasando."
"Sim, eu vi," disse Israel, sua voz vazia. "Preciso que você prepare os papéis do divórcio."
Houve um silêncio chocado do outro lado da linha. "Opa, espera aí. O que aconteceu?"
"Apenas faça, Davi. Quero isso pronto até amanhã de manhã."
"Israel, você tem certeza? Este é um passo enorme."
"Nunca tive tanta certeza de nada na minha vida," ele disse, e desligou.
Ele fechou os olhos, respirando fundo antes de se virar e caminhar pelo corredor. Ele abriu a porta do quarto principal, que há muito tempo fora convertido em uma suíte médica.
Helena Rocha jazia imóvel na cama de hospital, os únicos sons no quarto eram os bipes silenciosos e rítmicos de seus aparelhos de suporte à vida. Por seis anos, este quarto fora o centro do mundo de Israel. Ele aprendera a trocar bolsas de soro, a monitorar sinais vitais, a virá-la a cada duas horas para evitar escaras.
Ele puxou uma cadeira para o lado da cama, seus movimentos gentis e praticados. Ele pegou a mão frágil e imóvel dela na sua.
"Oi, Helena," ele sussurrou, a voz embargada. "Acho que você ouviu. Ou talvez não. Sua filha... ela é uma grande estrela agora."
Ele olhou para a expressão pacífica e vazia no rosto de sua sogra. Ela era a única com quem ele podia conversar, a única que fora uma testemunha silenciosa de seu casamento unilateral.
"Ela contou ao mundo hoje, Helena. Ela disse a todos que nunca me amou. Foi apenas... gratidão."
Ele soltou um suspiro trêmulo. "E o mais estúpido é que acho que sempre soube. Eu só não queria acreditar. Pensei que se eu a amasse o suficiente por nós dois, talvez um dia..."
Ele parou, balançando a cabeça. Que pensamento patético.
"Estou indo embora, Helena. Eu preciso. Não aguento mais isso."
Ele apertou a mão dela gentilmente. "Vou garantir que cuidem de você. Eu prometo. Mas não posso mais ser o marido dela. Está me matando."
A única resposta foi o zumbido constante do ventilador. Por um momento, o silêncio pareceu um julgamento. Ele construíra sua vida inteira em torno daquelas duas mulheres e, agora, estava indo embora. Mas ele não estava realmente indo embora delas. Estava indo embora da mentira que vinha vivendo.
A verdade era que ele estava sozinho neste casamento há muito tempo. A única diferença era que agora, o mundo inteiro também sabia.
Ele olhou para Helena novamente, uma centelha de memória cruzando sua mente. Uma lembrança de um tempo diferente, antes do incêndio, antes da gratidão. Um tempo em que ele vira Isabella Rocha pela primeira vez e pensara que ela era a garota mais linda do mundo.
Uma vida atrás.