Um alvoroço se formou quando Demi começou a agitar os braços e a chutar de maneira desordenada, como se estivesse prestes a se afogar.
"Alguém me ajude! Não consigo sair!", ela gritou, a voz embargada pelo pânico.
Do outro lado da piscina, Grace permanecia imóvel, a expressão impenetrável. Seus olhos, frios como pedra, não revelavam nem sombra de preocupação diante da luta desesperada de Demi.
A festa de boas-vindas organizada por Luke e Ivy Miller tinha como propósito celebrar o retorno da filha desaparecida.
Dezoito anos haviam passado desde o dia em que Demi sumira ao nascer e, mesmo após buscas incansáveis, nenhum sinal dela fora encontrado. No vazio que se abriu, Luke e Ivy decidiram adotar Grace.
Ninguém poderia imaginar que, anos mais tarde, a filha biológica retornaria, transformando a presença de Grace em algo descartável.
"Demi!", Ivy gritou, surgindo apressada na varanda da casa, com Luke logo atrás. O pavor estampado no rosto dos dois não deixava dúvidas sobre o que pensavam da cena.
Com um olhar acusador, Ivy passou os olhos da filha que se debatia na água para Grace, que observava da beira da piscina. "Grace! Como você pôde? Por que empurrou Demi na piscina?"
Sem pensar duas vezes, Luke mergulhou na piscina, deixando que Ivy, com o dedo em riste, se voltasse contra Grace. "Saia desta casa! Você não pertence a este lugar!"
A voz de Grace soou firme, mas carregada de uma calma distante: "Não toquei em Demi. Ela pulou sozinha."
Com a voz trêmula de indignação, Ivy retrucou: "Mentira! Por que ela faria isso? Nós abrimos nossa casa para você, oferecemos tudo, e é assim que retribui nossa bondade?"
A essa altura, Luke já havia conseguido tirar Demi da piscina.
Tremendo e encharcada nos braços do pai, Demi piscou várias vezes, como se quisesse conter as lágrimas, e murmurou com doçura ensaiada: "Por favor, não culpem Grace. A culpa é minha. Talvez eu não devesse ter voltado para casa."
Frágil como um pássaro perdido na tempestade, Demi se encolheu ainda mais quando Ivy a abraçou com ternura.
"Demi, sua bondade sempre me comove."
Então, se virando para Grace, Ivy disse: "Arrume suas coisas. Você vai sair desta casa agora mesmo."
Luke hesitou, a voz baixa num último esforço para amenizar a decisão: "Quando acolhemos Grace, prometemos à diretora do orfanato que cuidaríamos bem dela. Talvez haja algum mal-entendido..."
Interrompendo antes que ele pudesse terminar, Ivy retrucou: "Mal-entendido? Nossa filha quase morreu diante dos nossos olhos! Não havia ninguém por perto além de Grace. Você realmente quer acreditar que ela não teve nada a ver com isso?"
O silêncio pesado caiu sobre Luke, que acabou cedendo com um suspiro derrotado. "Tudo bem, vamos providenciar a saída de Grace."
Após um momento, ele ligou para Ella Fowler, a diretora do orfanato.
A adoção de Grace, anos atrás, não fora apenas um gesto de compaixão: junto com ela, o casal havia recebido trezentos mil dólares de apoio financeiro, valor que os salvara de um período difícil.
Mas agora, com o retorno da filha legítima, Grace se tornara um estorvo nos planos da família. Talvez fosse melhor para todos se ela fosse embora.
De pé, a alguns metros de distância, Grace se mantinha ereta, o semblante sereno e quase intocável.
Havia beleza nos seus traços elegantes, mas não se via dor nem ressentimento nos seus olhos, apenas uma estranha tranquilidade.
Quando encerrou a chamada, Luke se voltou para ela, visivelmente desconfortável. "Grace, a senhora Fowler está a caminho. Leve consigo tudo o que compramos para você... e aceite este valor em dinheiro."
"Não quero", Grace respondeu simplesmente.
Nos braços de Ivy, Demi deixou transparecer um brilho satisfeito nos olhos. Fingindo ingenuidade, ela comentou: "Grace, você ainda se sente mal pela minha volta? Só quero estar com os meus pais e ser a filha que eles sempre mereciam..."
"Não, querida, não é você quem precisa se justificar. É Grace quem deve se desculpar, pois foi ela quem ocupou seu lugar todos esses anos", Ivy disse, sua voz carregada de simpatia.
O olhar de Grace se endureceu ao encontrar o de Luke e Ivy. "Vocês dois sabem a verdade. Nunca toquei nela."
Os rostos dos dois se contorceram em desconforto, mas o sangue sempre falava mais alto, e estava claro de que lado ficariam.
"Não há mais o que discutir. O que está feito, está feito", Luke respondeu, franzindo a testa.
Ivy abriu a boca para acrescentar mais veneno, mas foi interrompida por vozes que vinham da entrada.
Uma mulher de meia-idade apareceu, carregando no rosto uma expressão respeitosa. "Senhor Miller, vim buscar Grace."
Luke pareceu surpreso por um instante, mas logo acenou com a cabeça. "Vá com ela, Grace. A senhora Fowler cuidará de você."
Ella Fowler, diretora do orfanato, caminhou até a jovem, a fitando com ternura. "Venha, querida. Nada disso é culpa sua. Prometo que farei o possível para te ajudar a encontrar um lar de verdade."
Com um gesto delicado, ela estendeu a mão para Grace. "Você se lembra de Julia Holden, daquela sua última visita ao orfanato? Ela gosta muito de você. Ao saber do que aconteceu, ela pediu que você fosse para sua casa."
Um lampejo de emoção atravessou os olhos de Grace. Julia... a mulher do sorriso gentil e constante.
"Eles já estão a caminho. Se você quiser, pode começar de novo com a família dela. Acredito de coração que encontrará um lugar melhor lá", Ella disse, esperançosa.
Era a última chance que Ella tinha para ajudar Grace a construir um futuro diferente. Restavam apenas mais quatro possibilidades de adoção, e esta parecia ser a mais promissora.
Por um instante, Grace permaneceu em silêncio. Depois, ela inclinou levemente a cabeça e respondeu: "Está bem."
O rosto de Ella se iluminou em alívio, seu sorriso sincero e acolhedor suavizando a tensão.