A notícia do concurso nacional de culinária era a minha grande chance na nossa pequena cidade. O prêmio, que prometia mudar vidas, era a oportunidade dos meus sonhos: abrir minha própria confeitaria na capital. Corri animada para contar ao João, meu namorado de infância, mas a surpresa foi minha. Encontrei-o na cozinha, beijando intensamente a minha prima Clara. "A Maria? Com aqueles docinhos de cidade pequena? Por favor, Clara. Ela é ingênua. Nunca sobreviveria na capital." A voz do João, a mesma que me prometeu amor eterno, agora me apunhalava, zombando dos meus sonhos. Cada palavra destruía a imagem do nosso futuro, mas a dor se transformava em fúria silenciosa. Na manhã seguinte, meu nome ecoou pela praça: "Maria da Silva!", selecionada para representar a região. O choque no rosto de João e a inveja de Clara me deram a mais doce e inesperada vingança. Eles vieram à minha casa, com sorrisos falsos e a insistência de que eu desista. "Talvez seja demais para você. Você sempre foi mais... caseira." O desprezo dele por tudo que éramos e a revelação do plano da Clara me libertaram. Joguei fora os cacos da velha forma de bolo da minha avó. Eu me recuperei dos ferimentos, com o corpo e a alma lavados pela chuva daquela noite, e com uma nova história para escrever. Era hora de redescobrir a minha paixão, nos meus próprios termos.