A música eletrônica latejava, mas o barulho na minha cabeça era ensurdecedor. Sofia, minha namorada, o centro do meu universo e razão do meu sacrifício, ria abertamente nos braços do ex-namorado, Marcelo, um empresário famoso. A mão dele na cintura dela parecia um soco no meu estômago. Eu, Tiago, estava ali, sozinho, vendo os olhares maliciosos e os sussurros. A humilhação aquecia meu pescoço, mas Sofia apenas se inclinava mais em Marcelo, um desafio silencioso em seus olhos. "Relaxa, Tiago. Ela só está fazendo networking," disse um colega, mas minha calma era uma mentira que eu contava há anos, exausto de trabalhar como louco para sustentar o sonho dela e, principalmente, os tratamentos caríssimos de Lucas, meu irmão com uma condição rara. Ela sabia que cada luxo dela era dinheiro que podia ir para a saúde do meu irmão, e mesmo assim, não parava de pedir. Eu era o pilar. O provedor. O idiota. Sofia se aproximou, o rosto irritado. "O que foi essa sua cara? Tá todo mundo olhando pra gente." "Para você, Sofia. Estão olhando para você," eu disse, com uma calma assustadora. "Você está com ciúmes? De novo? Você não me apoia, Tiago. Nunca apoiou de verdade." Era a mesma chantagem, a culpa sempre minha. Minha paciência se esgotou. Naquele momento, algo dentro de mim, pela primeira vez, começou a mudar.