Quando abri os olhos, o teto estéril do hospital e a dor excruciante na minha barriga lisa foram a minha nova realidade. O cheiro de desinfetante não podia abafar o cheiro a desespero. Eu tinha perdido o meu bebé. Com as mãos a tremer, liguei ao meu marido, Pedro, esperando consolo. Mas a sua voz, outrora cheia de pânico, endureceu ao ouvir a notícia. "Eva, não é altura para piadas. É o aniversário do teu pai, a Sofia organizou uma grande festa!" E então, ao fundo, ouvi a voz da minha meia-irmã, Sofia, a reclamar do bolo de aniversário. O meu pai ligou a seguir, a sua voz tão fria quanto a do Pedro. "Hospital? Que desculpa é essa agora? Não podias ter esperado até amanhã para me dizeres isso? Não contes a ninguém, vai estragar o ambiente!" O choque de ver a minha dor e a morte do meu filho serem reduzidas a um mero inconveniente era esmagador. O homem com quem me casei e o meu próprio pai valorizavam mais uma festa do que a vida do meu bebé. Enquanto eu jazia na cama de hospital, dilacerada pela dor física e emocional, eles preocupavam-se em não estragar o seu "dia perfeito". Como podia a minha perda ser menos importante que um bolo? Menos importante que o orgulho deles? A minha dor transformou-se em fúria. Eles queriam que eu desaparecesse? Queriam que a minha tragédia fosse ignorada para manter as aparências? Se eles queriam uma cena, eu ia dar-lhes a melhor que já viram. Eu ia destruir a sua festa perfeita.