Porém, assim que que ela saiu, Joshua entrou em desespero.
...
No terceiro ano com câncer, Kathleen finalmente encontrou um doador compatível.
Quando seu médico ligou, Joshua ajeitou delicadamente o cobertor dela e foi até a varanda para atender a ligação.
Ele sempre falava com os médicos em particular para poupá-la de preocupações. Mas nesse dia, Kathleen sentiu um impulso repentino. Ela pegou o fone de ouvido Bluetooth da cabeceira, colocou-o no ouvido e entreabriu a porta da varanda.
"Tem certeza de que quer doar o fígado de Kathleen para a mãe de Ella?", uma voz perguntou.
"Tenho certeza. Não posso ver Ella perder a mãe. Ela me deu uma filha", respondeu Joshua.
"Mas Kathleen pode ter apenas três meses de vida sem o transplante", insistiu a voz.
"Ela tem três meses. Pode esperar. Outro aparecerá", disse Joshua.
As palavras deles atingiram Kathleen como uma punhalada. Seus ouvidos zumbiram e sua mente ficou completamente em branco enquanto uma frase ecoava incessantemente. "Ela me deu uma filha."
Todos sabiam que Joshua adorava Kathleen e, ao longo desses três anos, em incontáveis internações, ele sempre esteve presente ao seu lado.
Ela não gostava da comida do hospital, então ele dirigia para casa seis vezes por dia para trazer refeições que ele mesmo preparava.
Durante os momentos de quase morte dela, ele se ajoelhava do lado de fora das salas de cirurgia, fazendo preces, e até mesmo passou um dia inteiro em uma igreja para garantir uma bênção para ela.
Como um homem tão dedicado poderia traí-la?
Passos despertaram Kathleen de seus pensamentos, e ela se convenceu de que tinha ouvido mal.
Eles se amavam há dez anos. Mesmo com o agravamento de sua doença, ele jamais falou em desistir. Ele não a trairia, nunca!
Quando ela estava prestes a remover o fone de ouvido, uma nova ligação entrou. "Alô? Querido, hoje é o aniversário da nossa filha. Quando você vai chegar?", uma voz feminina suave e agradável perguntou.
O chão de Kathleen desabou novamente.
"Estou a caminho", respondeu Joshua ternamente.
"Papai, quero aquela Barbie que vimos no shopping!", uma voz infantil soou.
"Já comprei seu presente, meu amor. Pode esperar que papai está chegando", disse Joshua.
As lágrimas escorreram enquanto Kathleen removia o fone de ouvido.
Ela se agarrava à esperança momentos atrás, mas agora seu corpo estava gelado. Joshua tinha outra mulher? Uma filha? Outra família?
Aos dezoito anos, ele viera para a família Walton após a morte dos pais. Kathleen se apaixonara por seus olhos melancólicos e seu jeito quieto à primeira vista.
O amor deles fluiu naturalmente da faculdade até o casamento. Joshua sempre a tratava como uma princesa, prometendo aos pais dela que a amaria para sempre.
Durante sua doença, jamais a abandonara, nunca reclamando, apesar de seu humor sempre extremamente volátil.
Durante incontáveis noites dolorosas, ele a segurava firme, chorando, implorando para que resistisse e não o deixasse. Ela sobrevivera a cada crise por ele.
No seu coração, nutria a esperança de que um transplante traria luz após a escuridão, acabando com todo os seus problemas, mas nunca imaginara que um inferno pior a aguardava.
"Por que está chorando?" Joshua perguntou, entrando apressadamente.
Ele largou o telefone e a puxou para os braços com preocupação. "Está preocupada com a cirurgia? Está tudo bem. Acabei de falar com Brennen. Assim que estiver tudo certo, agendaremos. Você ficará bem."
Kathleen se sentiu atordoada. Este homem parecia tão carinhoso como sempre. Se não tivesse ouvido, talvez nunca soubesse o quanto ele a enganara.
"Descanse agora. Tenho um negócio urgente no escritório. Volto logo", disse ele.
Kathleen instintivamente agarrou o braço dele. "Pode me esquentar um copo de leite?"
Ela nunca duvidou dele antes, mas ele estava realmente indo para o escritório?
O marido sorriu, tocou sua cabeça carinhosamente e saiu do quarto.
As mãos de Kathleen tremiam enquanto desbloqueava o telefone dele. A senha, o aniversário dela, nunca mudou.
Ela verificou o registro de chamadas, que mostrava uma ligação com "Brown" há dois minutos, mas ela sabia que aquele não era o número de Brown.
A dor apertou seu peito. As mentiras dele eram tão desajeitadas, mas ela nunca suspeitou.
"Aqui, querida. Está um pouco quente, então espere antes de beber. Estou com pressa, vou agora", disse Joshua. Ele beijou sua testa e saiu apressadamente.
Kathleen zombou. Ele não podia esperar um pouco para sair?
Dez minutos depois, ela abriu o GPS do telefone.
Ela nunca o rastreou antes, quase esquecendo que ele mesmo instalara um rastreador no veículo para lhe dar tranquilidade.
Agora, parecia uma piada cruel.
Seus olhos se arregalaram ao ver a localização. O carro dele estava na mansão dos pais dela.
Três anos atrás, um acidente de carro ceifara a vida de seus pais repentinamente.
Kathleen sobrevivera, mas fora diagnosticada com câncer. Ela quase desistira, mas a presença constante de Joshua a mantivera viva e lutando.
Para evitar lembranças dolorosas, o casal se mudara para um novo apartamento. Por isso, ela não voltava à casa de seus pais há anos. Por que ele estava lá?
Então, Kathleen se lembrou de ter instalado câmeras na mansão quando seus pais ainda estavam vivos. As imagens carregaram e ela congelou.
A grande e espaçosa residência parecia inalterada, mas seus pais não estavam mais lá. No lugar dos seus amados pais, uma mulher e uma criança circulavam pela casa.
"Papai! Você já chegou!" Uma menina, de cerca de quatro ou cinco anos, correu para os braços de Joshua quando ele entrou. Ele a levantou, então puxou a mulher para um beijo.
"Querido, esses dias longe de você foram tão difíceis. Achei que você perderia o aniversário de Tara", disse a mulher, com uma voz misturando choro e alegria.
"Ela acabou de sair do hospital. Vim assim que pude. Mas não fique chateada. Veja o que trouxe", disse Joshua gentilmente.
Em um gesto rápido, entregou à menina um conjunto de bonecas Barbie e deu à mulher uma caixa ricamente adornada de joias.
Kathleen reconheceu imediatamente - o colar de edição limitada de uma marca de luxo.
Joshua prometera comprá-lo para o aniversário dela em três dias. Agora, ele o colocava no pescoço de outra mulher.
O coração de Kathleen parecia estar sendo apunhalado com uma faca cega a cada fala, a cada demonstração de amor e cumplicidade que via.
Ele a mantinha longe da casa dos pais não para poupá-la de tristeza da partida prematura de seus pais, mas sim para acobertar uma amante.
Ela disse a si mesma para parar de ver esse maldito espetáculo, mas não conseguiu e abriu a pasta de filmagens antigas já salvas, sufocando os soluços enquanto a dor a dominava.
Joshua e aquela mulher fizeram amor na casa de seus pais - no sofá onde ela uma vez se deitou, na cozinha favorita de sua mãe, na cadeira de balanço favorita de seu pai, até no antigo quarto deles.
A foto do casamento deles ainda pendia na parede, uma testemunha muda zombando dela enquanto o caso deles contaminava cada canto.
As lágrimas de Kathleen se transformaram em risos amargos. As imagens sórdidas gritavam que ela era uma tola, enganada por todos ao seu redor.
Ela enxugou os olhos e ligou para sua tia. "Tia Ellen, mudei de ideia. Vou para Jaxperton para a cirurgia. Venha me buscar em três dias."
Sua suposta salvação parecia uma piada. Já que o amor de Joshua era uma mentira e ela não era mais amada, não se agarraria a ele. Era hora de pôr um fim a tudo isso.