A noite de gala estava perfeita, as luzes brilhando, o champanhe borbulhando, e eu, Sofia, a designer em ascensão, no centro das atenções com meu vestido autoral. Anos de esforço e renascimento depois que Pedro, meu noivo, me abandonou no altar, me transformaram. Mas de repente, como um pesadelo de volta à realidade, lá estava ele, Pedro, insolente como sempre, com sua prima Camila ao lado, a mesma que espalhou o veneno que o fez partir. O ar sumiu dos meus pulmões, meu coração batia descontroladamente, e antes que eu pudesse fugir. "Sofia, querida, que surpresa encontrá-la aqui," Pedro disse com uma falsidade melosa. "Não sabia que empregados eram permitidos em eventos como este." Camila soltou uma risada ríspida, adicionando ao escárnio. A humilhação pública começou, as pessoas ao redor cochichavam e me olhavam, mas eu não era mais a mesma. Respirei fundo, endireitei as costas e olhei diretamente para eles, minha voz calma e firme. "Pedro, Camila, é interessante ver que, mesmo depois de tantos anos, a falta de classe de vocês continua sendo a característica mais marcante." Eles não esperavam essa Sofia, a que se ergueu das cinzas. Mas o sorriso cruel de Camila não vacilou, ela me atacou, zombando do trabalho que me reergueu, do vestido que me coroou. "Costureira de bairro," ela sussurrou, a humilhação escalando, visando meu maior orgulho. Eu senti o calor da raiva, mas algo dentro de mim não cedeu à velha dor. Pedro, então, levou a crueldade a um novo nível, oferecendo-me um emprego, quase uma esmola, um troco por "caridade". Eu estava em choque, não pela oferta, mas pela ousadia descarada. Camila o beijou de forma possessiva, olhando para mim por cima do ombro dele. Lembranças do passado me assolaram: a amnésia falsa, a farsa que Pedro e Camila orquestraram para me destruir, a dor que senti quando descobri a verdade, as risadas deles em meu pesadelo. Tentei fugir, tropecei, desabei lá fora, abraçada por minha família, que me tirou dali. Mas eu não fugi para sempre, voltei ao salão, retomei meu lugar . E diante deles, daquele sorriso zombeteiro. "Eu sou uma mulher casada," anunciei, um brilho nos olhos. Eles riram, descrentes. Mostrei o anel, um diamante negro com a insígnia da família Ricardo, o homem mais poderoso do país, meu marido. O pânico nos olhos de Pedro, ele reconheceu o selo. Camila gritou: "Isso é roubo!" Em um acesso de fúria, Pedro me agarrou, arrastando-me, forçando, machucando, cravando os dedos em minha pele. "Devolve!" ele gritou. Ninguém interveio, a dor física era um eco da dor na minha alma. Ele me jogou em uma cave escura e fria. Lá, ele me humilhou, me ameaçando usar em um "espetáculo" para seus convidados. "Amanhã à noite, você será a minha cadela, Sofia," ele disse, antes de me deixar na escuridão. Desespero puro. Mas então, uma mensagem anônima, um fio de esperança. "Não perca a esperança, ele virá por você." Ricardo. Meu marido, meu protetor, aquele que prometeu nunca me machucar de novo. Senti uma força renascer em mim, não raiva, mas fé. Ele viria. No dia seguinte, a mesma empregada me ajudou a sair da cave, mas Camila e Pedro nos pegaram. "Ladra!" ele rugiu, e me arrastou para o pátio. Lá, ele anunciou o "espetáculo" aos seus amigos, levantando uma faca de açougueiro, com uma intenção brutal. "Qual mão devemos escolher?" ele perguntou, sádico. Agarrou minha mão esquerda, onde meu anel brilhava. Fechei os olhos. A dor explodiu, um grito desumano. E então, o choque fatal. "Senhor Pedro! O senhor Ricardo está aqui! Ele exige vê-lo!" Pedro congelou, o cutelo ensanguentado caindo, o terror nos seus olhos. Camila, cega, entregou o anel de volta, inventando mentiras. Ricardo entrou, seus olhos tempestuosos, mas inexpressivos. Ele a pegou pelo pescoço, levantando-a. "Você tocou nela?" "Esse anel," ele rosnou, "eu o coloquei no dedo dela no dia em que ela concordou em se tornar minha esposa." Ele a jogou no chão como lixo, sem um segundo olhar. Ele me pegou nos braços, e me levou para fora, jurando que os homens dele lidariam com os outros. Acordei em um quarto luxuoso, minha mão enfaixada. Ricardo estava lá, desfeito, culpando-se, dizendo que falhou. "Não foi culpa sua, Ricardo, você me encontrou, você me salvou," eu disse. Lembrei-me de como o conheci, de como ele reascendeu minha paixão, de como me fez uma proposta de casamento inusitada, e como ele me prometeu proteção para sempre. Ele cumpriu. Sua dor, sua devoção me encheram de um amor protetor. "Tu és a minha força, tu não falhaste, tu és a razão pela qual eu sobrevivi." Ele me beijou, promessas silenciosas em seus lábios. Quando Pedro foi trazido, machucado e patético, ele gritou, tentando me enganar com a história da amnésia. Ricardo atacou. "Ela era minha!" Pedro guinchou, revelando seu medo de que eu o ofuscasse. Abri o curativo da minha mão, mostrando o que ele me fez. "Eu não sinto nada por ti, a não ser nojo," e apontei para Ricardo. "Este homem é o meu marido, o meu protetor, o meu coração." Pedro, quebrado, revelou que Ricardo tinha uma "musa", alguém que ele procurava. Camila, chorando, traiu Pedro. Ele, enlouquecido, tentou estrangulá-la, gritando a verdade de seu ciúme por mim. Ricardo os mandou embora, para o lugar mais escuro. "É verdade?" perguntei. Ele abriu um antigo caderno de esboços, revelando desenhos meus de anos atrás. Ele me observava de longe, me amava antes mesmo de me conhecer. "Sempre foste tu." Nos seus braços, meu passado morreu, e eu, Sofia, finalmente me senti completa.