Quando acordei no hospital, depois de um acidente de carro que me deixou com uma perna partida e a memória em branco, a primeira coisa que perguntei foi pelo meu bebé de oito meses. O meu marido, Pedro, sentado ao meu lado, respondeu com um tom vazio: "O bebé não sobreviveu, Ana." A dor da perda era insuportável, mas o choque maior foi a sua frieza, a indiferença assustadora da minha sogra e da cunhada, que só se preocupavam com a segurança do Pedro. Senti-me descartável, como se a minha perda e o meu sofrimento não significassem nada para eles. Mas a semente do terror foi plantada quando a minha mãe me sussurrou: "Não foi um acidente simples. Os travões falharam." E que a Catarina, irmã do Pedro, os tinha ameaçado minutos antes. O airbag do Pedro abriu, o meu não. Ele saiu ileso, eu perdi o nosso filho e quase a minha vida. Quando o confrontei, ele hesitou, a sua calma quebrou-se, e vi a culpa nos seus olhos. Deitada naquela cama, com o coração despedaçado, percebi a verdade mais cruel: ele tentou matar-me e ao nosso filho. Não havia tempo para desespero. Liguei à minha mãe, a minha voz uma lâmina fria enquanto eu dizia: "Quero o divórcio, e quero justiça."