A morte foi um alívio frio, um silêncio que chegou depois de muita dor, com o veneno queimando em minhas veias e a imagem de minha mãe, enforcada, sem vida, uma vítima de uma crueldade que deveria ter sido só minha. Mas então, eu respirei, e o ar úmido e pesado, cheirando a chuva e asfalto molhado, encheu meus pulmões com uma urgência chocante. Abri os olhos e lá estava ele, Pedro, meu namorado, irritado, as palavras dele ecoando um pesadelo: "Sofia, qual é o seu problema? Estamos todos esperando por você, não podemos nos atrasar por sua causa!" Era o dia do concurso para a bolsa, o mesmo dia em que tudo desmoronou na minha vida anterior, com as memórias da traição, do veneno na festa, da humilhação pública da minha mãe e do seu suicídio, tudo voltando em uma avalanche de dor e ódio. Eu tremia, não de amor, mas de um pânico gelado ao ver aqueles que me rodearam enquanto Juliana me envenenava, os mesmos que riram e espalharam as mentiras que destruíram minha mãe, tudo sob o pretexto da minha "inveja". Naquela vida, eu implorei, avisei sobre a tempestade e o deslizamento iminente, mas eles zombaram, chamando-me de dramática, de invejosa. Desta vez, eu não cometeria o mesmo erro. Com a voz firme, sem o tremor da Sofia ingênua que eu fui, disse: "Pensem o que quiserem. Eu não vou esperar, quem quiser vir, venha agora, o ônibus que vai pelo caminho alternativo sai em cinco minutos", e comecei a andar, sem olhar para trás, deixando-os entregues a si mesmos e ao destino sombrio que os aguardava.