Naquela tarde de 1995, sob uma chuva torrencial no Rio de Janeiro, segurei a pequena urna com as cinzas do meu filho de três anos, o Léo. Fui até o quartel do BOPE, encharcada, para pedir ao meu marido, William, uma simples assinatura para o seu enterro. Mas a realidade desabou sobre mim. William, cego pela sua amante Lilith, não só negou a morte do nosso filho, chamando-o de "mau" e "vivo", como me acusou de "drama" e de "chamar a atenção". Ele se recusou a assinar o atestado de óbito, humilhando-me publicamente e me forçando a uma barganha cruel: a assinatura para Léo em troca da minha renúncia a tudo, adotando o filho de Lilith. A casa que partilhávamos incendiou-se, e ele me abandonou às chamas, salvando-a a ela. Como se podia amar alguém assim? Como um pai podia ser tão cego e cruel ao ponto de negar a existência do próprio filho, morto por sua negligência e castigo? Foi ali, com a dor a rasgar-me a alma e as cinzas do meu Léo nas mãos, que a chama da minha liberdade acendeu. Prometi a mim mesma que o tiraria daquele inferno e nunca mais olharia para trás.