Quando acordei no hospital, o cheiro a desinfetante e o rosto preocupado do meu namorado, Tiago, eram tudo o que via. Ele descascava uma maçã, disfarçando a tensão. "O que aconteceu... ao bebé?", perguntei, sentindo a perna engessada e o vazio doloroso do meu ventre. A sua resposta foi evasiva, os olhos fugindo dos meus, e então a verdade gélida: o nosso filho, o nosso bebé tão desejado, tinha morrido para me salvar. O choro da minha mãe ao telefone, informada por Tiago que tínhamos "perdido o bebé", ecoava no quarto. Mas a mentira dele, a sua ausência e o seu desinteresse estranho, não me convenciam. Lembrei-me dos últimos momentos antes do acidente: o telemóvel dele a tocar, a discussão acesa, o nome "Lia"... a sua ex-namorada. A dor na perna era pequena comparada ao rasgo no meu peito. Dias depois, no hospital, descobri a verdade chocante: ele tinha-me abandonado ali, ferida e em luto, para ir consolar Lia, que publicava nas redes sociais fotos dele, o "porto seguro" dela. Não era apenas a dor da perda, era a traição mais profunda. Como pôde ele escolher outra pessoa, depois de causar a morte do nosso filho? A indignação e a fúria acenderam uma chama dentro de mim. Naquele instante, a minha decisão foi implacável: não só o divórcio, mas a justiça. Eu ia expor cada mentira, cada traição, e ele pagaria por tudo.