Eu estava em meu quarto escuro, o brilho do celular agredindo meus olhos e a dor no joelho lembrando-me da carreira de dançarina que me foi tirada. Mas a dor física não era nada perto daquele ardor no peito: uma foto postada por Isabela, minha melhor amiga, mostrava-a sorrindo, abraçada a Lucas, meu namorado de infância, no apartamento que decorei para nós. A notificação de últimas vagas para Paris parecia zombeteira, mas a raiva me fez agir e reservar um voo, não para uma viagem romântica, mas para uma nova vida longe deles. Levantei-me cambaleante, e o colar da minha avó, joia de família, não estava em sua caixa de veludo, mas brilhava no pescoço de Isabela na foto, profanado por sua inveja e falsidade. Peguei nossa foto, com nossos sorrisos inocentes, antes de tudo virar uma mentira, e a joguei no lixo, o estilhaçar do vidro, um corte final com o passado que não me servia mais. A mensagem de Lucas – "Amor, estou com a Isa, ela precisa de um ombro amigo" – me fez rir amargamente, um ombro amigo, que piada. Enquanto arrumava as malas, lembranças da minha lesão inundavam minha mente, e Lucas e Isabela, aqueles ótimos atores, se aproximavam enquanto eu estava vulnerável, transformando uma amizade em traição cruel. A nova notificação de Isabela, um close no colar com a legenda "Um presente especial de alguém especial, me sentindo amada", me fez ferver o sangue: a provocação escancarada. Liguei para ela, minha voz perigosa, e sua falsa doçura desmoronou quando soube que o colar de herança da minha avó estava com ela, dado por Lucas: "Você sempre teve tudo, Sofia, por uma vez na vida, eu mereço ser feliz!". A voz de Lucas, suave e manipuladora, me disse: "Nós te amamos, Sofia", mas eu sabia que era uma mentira, e sua oferta de dinheiro para comprar meu perdão foi o insulto final. Aceitei a transferência, não por ganância, mas como indenização, um primeiro passo para minha nova vida, e desliguei o telefone, o silêncio libertador da corrente se rompendo. Bloqueei o acesso deles ao apartamento, comecei a limpeza, um expurgo de tudo que me ligava a eles, e a campainha tocou: Lucas. Sua arrogância o impediu de ver a verdade em meus olhos, e eu fechei a porta na cara dele, o clique da fechadura, definitivo, a farsa, finalmente, acabou. Na festa de reencontro da turma, eu era o centro das atenções, cochichos sobre minha lesão e Lucas e Isabela, que desfilavam como o casal real, me fizeram sentir uma estranha em minha própria vida. O jogo de Verdade ou Desafio revelou a intenção deles de me levar para Paris, mas Isabela, com sua teatralidade patética, desviou a atenção bem na hora: o segredo estava seguro, por enquanto. Numa boate barulhenta, Isabela me empurrou, e a dor lancinante no joelho me fez gritar, desmaiei, e acordei no hospital, com a notícia de outra cirurgia, mais um sonho quebrado e a enfermeira dizendo que Lucas não saíra do meu lado. Recusei vê-lo, sua preocupação falsa apenas mais uma performance, e meus pais, com sua promessa de justiça, foram meu bálsamo. Lucas e Isabela, com um teatro de auto mutilação, tentaram me manipular, mas a frieza em meus olhos os chocou: eu não me importava mais. Quinze semanas depois, recebi alta e Lucas me esperava, com o anel de noivado que um dia foi intencionado para mim, mas eu zombava da sua estupidez: "Você é mais estúpido do que eu pensava, Lucas". Naquele dia, recebi um telefonema do diretor da minha antiga escola pedindo para ser oradora da cerimônia, uma plataforma para expor a verdade, mas Lucas achou que era para Isabela. Deixei-o em sua minúscula vitória, ele não sabia que acabara de perder sua última chance. Meus pais me contaram sobre Ricardo, meu noivo arranjado de Nova York, a coincidência soava como uma benção para o novo caminho que eu começava. De repente Lucas apareceu gritando que ia para Paris comigo, mas Isabela o chamou, e ele saiu correndo, e foi então que troquei o chip do celular, cortei todos os contatos. Longe da farsa e da manipulação, embarquei no avião rumo a Nova York, para minha nova vida, sem olhar para trás. Lucas, confuso e humilhado, descobriu que eu nunca me matriculara em Paris, e a empregada, com um recado ameaçador de minha mãe, lhe entregou as lembranças do pedido de casamento. Ele entendeu, a nojeira em seus olhos enquanto olhava Isabela, nunca fora Sofia que os abandonara, foram eles que a expulsaram e agora ele estava preso às suas escolhas. Ele tentou me dar o anel, mas o apertei na mão, o diamante, uma pontada em sua pele, e Isabela, em sua fúria cega, foi atacada por fogos de artifício e teve seu rosto desfigurado. Lucas, obcecado, buscou o perdão de seus pais, que o negaram veementemente e, então, tomou uma decisão drástica, a de abandonar a universidade em prol de me encontrar. Depois de tudo, a traição dela e sua disfiguração, Isabela ligou para Lucas, pedindo ajuda, mas ele cortou o contato, ele não queria saber dela, o pesadelo estava encerrado. Mark, o dançarino arrogante, me encurralou no corredor e Ricardo interveio, revelando sua influência, para minha surpresa. Um dia, no Central Park, Lucas me acusou de traí-lo, mas Ricardo me defendeu, dizendo que éramos noivos, o que deixou Lucas furioso, mas sem reação. Minhas palavras, frias e cruéis foram como facas, Lucas implorou uma segunda chance, mas Ricardo chamou os seguranças, ele seria tirado da minha vida de uma vez por todas. No restaurante, Ricardo me pediu em casamento de verdade, e eu disse sim, em meio a lágrimas de alegria, um futuro com o amor puro de Ricardo. No dia seguinte, Lucas apareceu na academia, implorando para casar comigo, fiz uma declaração final, um beijo apaixonado em Ricardo, na frente dele, e Lucas, em um acesso de raiva e ciúme, atacou Ricardo. Os meses que se seguiram foram de recuperação, Lucas se afastou, Isabela sofreu danos cerebrais e eu me casei com Ricardo, realizei meu sonho de dançar, e Lucas no final, me observou de longe. Nossa história terminou, mas a vida continuava, e talvez, apenas talvez, houvesse uma segunda chance para todos, para a redenção, para a felicidade, para um novo começo.