Acordei no hospital, o cheiro a desinfetante e um choque na cabeça. Ao meu lado, a minha melhor amiga chorava, mas eu só conseguia perguntar pelo Leo, o meu marido. A sua voz rouca revelou a verdade: "A Clara magoou-se para o proteger." Clara, a ex dele, a heroína acidental que "salvou" o meu marido de um acidente onde eu também estava. Liguei-lhe, a voz cheia de angústia, mas não por mim. Ele só perguntava pela Clara; a minha sogra, Isabel, aproveitava para me humilhar. "Eva, é melhor não estares a incomodar o meu filho agora!" "Então, a tua mulher, que sofreu um acidente contigo, não é tão importante como a tua ex-namorada?" perguntei, a voz fria como gelo. Ele desligou-me o telefone na cara, bloqueou o meu número e chamou-me de egoísta por querer o divórcio. Egoísta? Eu? Que aturei a ex dele por anos e a sua própria incapacidade de me colocar em primeiro lugar? Perdi a esperança, mas o mundo parou quando o médico me disse: "Senhora Santos, está grávida." O meu bebé. O nosso bebé. Um bebé que o pai nem sabia que existia. Dois dias depois, recebi alta e voltei para casa. E lá estavam eles: Isabel, a minha sogra, e Clara, com a perna engessada, na minha casa. "Ela vai ficar aqui", disse Isabel, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. O Leo entrou a empurrar a cadeira de rodas da Clara, o sorriso dela era uma vitória silenciosa. A minha casa, invadida. O meu santuário, profanado. "Se ela fica, eu saio", declarei, esperando que ele protestasse. Ele deu de ombros. "Faz o que achas que tens de fazer, Eva." Aquele homem, que eu pensava conhecer, acabou de me escolher a ela em vez de mim. Ainda cambaleante, grávida e sem casa, pensei: isto não pode ser assim. O que ele não sabia é que o acidente, a ex, a sogra... tudo isso foi uma mentira. E eu descobri. Não ia lutar por ele, mas ia lutar contra a injustiça. Contra a manipulação, a traição e a dor. Quem era a verdadeira vítima aqui? E quem era o verdadeiro monstro? Eu ia descobrir, começando com a verdade sobre a "heroína" perfeita do meu marido.