João voltou para casa às dez da noite, e a pergunta que me atormentava o dia todo finalmente escapou: "Por que você não atendeu minhas ligações?". Ele mal havia tirado os sapatos quando as palavras esfaquearam o ar: "Uma amiga me mandou uma mensagem, disse que viu você e a Joana almoçando juntos no restaurante perto da empresa." A exaustão em seu rosto se transformou em irritação. Ele tentou me convencer, com um tom de mártir, de que tudo não passava de um "almoço de equipe", mas eu já sentia que algo estava terrivelmente errado, e aquela era uma história velha que não colava mais. À noite, deitada ao seu lado, eu o abracei, buscando uma segurança que já não existia. Sussurrei o nome dela, "Joana", e, como um raio, o ar congelou. Seu corpo enrijeceu, sua voz virou um rosnado furioso e irreconhecível: "Você tinha que estragar tudo, não é? Tinha que mencionar o nome dela?". A raiva dele era desproporcional, violenta. Ele se levantou, andando como um animal enjaulado, e me acusou: "Eu volto para casa, tento consertar as coisas... E é assim que você me recebe? Com acusações? O que você quer, Maria? Me ver de joelhos? Ou você quer que essa família acabe de vez?". Naquela noite, deitada sozinha, tremendo, eu sabia: tinha que arrancar a máscara de bom moço que ele usava e expor a verdade feia que eu sentia existir por baixo. Mas a verdade era mais profunda do que imaginei. Eu estava vivendo uma mentira, e nem sequer me dava conta disso. O que eu estava prestes a descobrir revelaria quem ele realmente era e mudaria minha vida para sempre.