A festa de gala do prêmio de arquitetura fervilhava, e meu coração transbordava de orgulho. Meu noivo, Pedro Almeida, o recém-consagrado "Arquiteto Revelação do Ano", sorria para mim da multidão. Nossos dez anos de sonhos e planos para o casamento, marcado para o próximo mês, pareciam finalmente se concretizar. Mas a imagem de um conto de fadas desmoronou em câmera lenta, nos fundos do salão. Pedro, o mestre das palavras e meu futuro marido, estava beijando Sofia Mendes. Sofia, a jovem estudante de arquitetura que ele "apadrinhava", a protegida que eu, em minha ingenuidade, acolhi como irmã. Não era um beijo qualquer; era profundo, desesperado, o tipo de paixão que há muito não compartilhávamos. Paralisada na penumbra, ouvi o sussurro dela: "E a Isabela? Pedro, como vamos fazer?". A resposta dele quebrou-me em mil pedaços: "Calma, meu amor. A Bela é ingênua, ela acredita em tudo que eu digo. Vou dar um jeito." A dor se transformou em uma clareza assustadora: eu era uma idiota. A humilhação pública veio em seguida, quando uma foto dos dois, íntimos demais, viralizou. Pedro, com sua máscara de preocupação, propôs: "Vou levá-la [Sofia] para a Europa, para longe dos holofotes, até a poeira baixar. É o melhor para todos." Ele não estava preocupado comigo, mas com a reputação dele e da amante. Com uma calma sobrenatural, eu disse: "Tudo bem, Pedro. Vá. Cuide da Sofia." No momento em que ele se virou para ir atrás dela, eu já discava um número. Lucas Fernandes, meu amigo de infância, herdeiro da maior construtora do país. "Lucas", eu disse, a voz firme. "Você ainda quer se casar comigo?"