A dor nos meus pulsos e tornozelos era um zumbido constante no meu cérebro, memórias da minha carreira de pianista, brutalmente esmagada. Thiago, o homem que eu amava e que "resgatei" da rua, ordenara que me quebrassem as mãos. Ele, o meu protetor, virara o meu carrasco. Cegado pela mentira da minha manipuladora meia-irmã, Sofia, que ele acreditava ser a sua salvadora de infância, Thiago permitiu a minha humilhação pública. O meu próprio pai e irmão viraram-me as costas, convencidos pelas artimanhas de Sofia. A solidão era esmagadora, e a traição de Thiago era a estocada final. Ele sabia a verdade, mas ainda assim a escolheu, protegendo-a e me destruindo. O que eu fiz de tão errado para merecer tal abandono e crueldade? Como o homem que confiei cegamente pôde me infligir tanto sofrimento? A incompreensão e a dor rasgavam-me por dentro, roubando-me a vontade de viver. No fundo do abismo, uma fúria renasceu. Acabou-se a passividade, a espera pela morte. Se eu ia viver, seria para vingar cada lágrima, cada osso partido. Peguei no telefone, liguei para Miguel, de quem menos se esperava ajuda. A partir daquele momento, a minha vida não seria mais de vítima, mas de guerra.