Quando o médico me disse que o meu noivo, Léo, estava com morte cerebral, o meu mundo desabou. Eu estava em choque, perdida na dor e no luto. Mal tinha tido tempo de absorver a tragédia quando a sua mãe, a Sra. Helena, agarrou-me pelo braço. Com os olhos vermelhos e inchados, ela e o Sr. Matias imploraram-me. "Léo não ia querer deixar-te desamparada. Casa com o irmão dele, o Hugo. É o desejo dele." Eles usaram as minhas emoções contra mim. O Léo, o meu sol, tinha um irmão gémeo, o Hugo, tão frio como o gelo. Ele nem me olhou, mas a sua voz cortou o ar: "Casa comigo. Vou tratar de ti." Senti-me numa encruzilhada impossível. A culpa pelo acidente do Léo, que aconteceu a caminho do meu jantar de aniversário, pesava sobre mim. A empresa deles estava em crise, um escândalo poderia destruir tudo o que o Léo e o pai construíram. Eles manipularam-me para o aceitar. Eu não queria, mas o meu "sim" saiu numa espécie de torpor. Aceitei porque queria honrar o Léo. Assim, casei-me com o Hugo. Rapidamente, silenciosamente, sem testemunhas. Ele guiou a minha mão trémula para assinar os papéis. Eu estava presa. Presa a um casamento sem amor, numa casa cheia de fantasmas. Presa a um homem que mal olhava para mim, mas deixava dinheiro na mesa para minhas "despesas". Eu sentia-me como uma estranha, uma peça num jogo que não entendia. Então, uma semana depois do casamento, a Sra. Helena veio visitar-me. O seu sorriso amável era agora uma máscara por detrás da qual se escondia uma exigência terrível. "Tens um dever, Sofia. Precisas de nos dar um herdeiro. Um neto que continue o legado do Léo." Fiquei gelada. Ela estava a transformar-me numa incubadora. Percebi que não era amor, nem desejo de honrar o Léo. Era manipulação. Eles queriam um sucessor, não uma esposa. A cada menção ao Léo, a culpa intensificava-se. Mas desta vez, o meu "não" saiu firme. A fúria dela transformou o seu rosto. "És ingrata! O meu filho morreu por tua causa! É o mínimo que podes fazer!" Eu tremia de raiva e desilusão. Senti-me usada e descartável. O que eu era para eles? Uma ferramenta? Naquela noite, o Hugo chegou a casa mais cedo. A minha indignação transbordou. "O que é que tu queres, Sofia?" perguntou ele. As minhas palavras saíram antes que eu pudesse pensar. "Eu quero o divórcio!" Mas não era possível, a empresa ainda não estava estável. Ele só pediu seis meses. "A tua parte é viveres a tua vida," Hugo disse, parecendo oferecer uma réstia de esperança. Seis meses... para uma vida que não era minha. Uma sombra de liberdade prometida. Eu não sabia o vazio que me esperava, mas a verdade estava prestes a surgir. Poderia eu viver com este contrato por mais seis meses? Ou será que esta farsa iria arruinar-me para sempre?