O cheiro de açúcar queimado pairava, mas minha prima Clara não veio pelos doces. Ela me olhou de cima a baixo, o celular em riste, a voz escorrendo falsidade enquanto me filmava, exibindo a prima "simples" para sua legião de seguidores. Por anos, vivi à sua sombra, vendo-a cobiçar e tomar para si tudo que era meu: namorados, amigos, até a atenção dos meus pais. Lembro de Pedro, um bom rapaz, que Clara seduziu descaradamente, postando fotos românticas e me deixando para trás com o coração partido, enquanto minha mãe celebrava a "conquista" dela. Eu estava exausta de ser seu degrau, de ser comparada, de ser empurrada para ser alguém que não era. "Estou pensando em fazer uma matéria sobre pequenos negócios locais", ela disse, aproximando o celular do meu rosto, um sorriso vitorioso nos lábios. Foi nesse momento que tudo mudou. "Tenho um encontro", eu disse, tirando meu avental, um sorriso perigoso brotando. "O nome dele é Ricardo." Eu o escolhi a dedo: um chef charmoso e predador, o tipo que Clara acreditaria ser seu prêmio final, a peça central da minha armadilha. Ela não sabia, mas esta vez, o jogo viraria. "Ela é mais do que intensa, Ricardo", eu disse, quando ele me buscou para nosso falso encontro. "Ela é previsível. E a obsessão dela por você será a ruína dela." A isca foi mordida, e a caçada estava apenas começando.