O cheiro de desinfetante e o metálico de sangue invadiam-me o nariz, mas a dor mais aguda vinha do coração: tinha acabado de perder o meu bebé. Ao meu lado, Pedro, o meu marido, consolava Sofia, a minha meia-irmã, com uma expressão de preocupação que nunca me dedicaria. "Ela só deslocou o pulso", disse, enquanto eu olhava para o meu ventre vazio. Senti-me a desmoronar. Eles tinham-me feito cair, sabendo que eu estava grávida de sete meses. Foi por causa deles que o meu filho se foi. Mas, em vez de apoio, fui confrontada com acusações: "Para com o drama, Lia! A Sofia caiu por tua causa! Onde está a tua sensatez?" A minha sogra, sem cerimónias, atirou: "Um bebé pode ser concebido outra vez!" A que ponto chegara a minha vida? O homem que devia proteger-me e lamentar a nossa perda, abraçava a mulher que nos destruiu. A minha família, que eu amava, virou-se contra mim. A injustiça era visceral, sufocante. Mas, ao invés de desmoronar, algo dentro de mim solidificou. Peguei no meu telemóvel e disquei para o meu advogado: "Dr. Almeida? É a Lia. Quero iniciar o processo de divórcio imediatamente." Esta não era apenas uma separação; era o início de uma vingança.