Quando o médico me disse que a minha filha, a pequena Sofia, estava morta, o mundo à minha volta silenciou. Eu tinha-a levado para o hospital com febre alta, enquanto o meu marido, Pedro, estava em casa da mãe dele, a cuidar de um tornozelo torcido que, afinal, nem sequer estava inchado. Liguei-lhe dezenas de vezes. Nenhuma resposta. Quando finalmente atendeu, a sua voz transbordava irritação: "O que foi, Ana? Já não te disse que a minha mãe precisa de mim? Ela não para de se queixar das dores. Não posso sair daqui agora." Eu sussurrei: "Pedro, a Sofia..." Ele interrompeu com rispidez: "O que é que se passa com a Sofia? A febre baixou? Não faças um drama por tudo!" Mesmo depois de eu, com uma calma assustadora, lhe dizer que a nossa bebé tinha morrido, ele reagiu com uma piada de mau gosto. E a seguir veio a acusação que me atingiu como um soco: "Isso é impossível! Era só uma febre! Deves ter feito alguma coisa de errado. Tu nunca cuidaste bem dela!" Quando Pedro e a sua mãe, Clara, finalmente chegaram ao hospital, em vez de dor, recebi fúria e mais acusações. Clara, a coxear dramaticamente, atirou-me a palavra mais vil: "Assassina!" Como é que podiam culpar-me depois de me terem deixado sozinha? Como é que podiam ser tão cegos, tão egoístas, enquanto a minha filha lutava pela vida? Naquele corredor frio, com os olhares de estranhos a pesarem sobre mim, enquanto o homem que jurou amar-me me agarrava e a sua mãe me chamava de assassina, a minha dor transformou-se. Com o coração a sangrar, mas a mente mais límpida do que nunca, olhei para o Pedro e disse sem hesitação: "Quero o divórcio." E foi naquele momento, entre a tragédia e a libertação, que a minha verdadeira luta para me reerguer começou.