A chamada veio às três da manhã. O meu pai teve um ataque cardíaco e estava no hospital. Desesperei-me, agarrei nas chaves, mas lembrei-me que o meu carro estava com o Pedro, o meu marido. Liguei-lhe, a voz sonolenta e irritada. Pedi o carro com urgência. Foi então que ouvi uma voz feminina, abafada, perguntar: "Quem é, querido?". Era a Clara, a minha "melhor amiga". O sangue gelou nas minhas veias. Ele mentiu, disse que estava em "trabalho" em Faro – a cidade natal dela. Depois, desligou-me na cara, abandonando-me no pior momento da minha vida. Mas a sua audácia não parou aí. No hospital, a minha irmã disse que a Clara estava a caminho. Pedro, o meu marido adúltero, enviou a sua amante para se fazer de amiga solidária, encobrindo a sua própria cobardia. Como podiam ser tão desprezíveis? Enquanto o meu pai lutava pela vida, o meu marido e a minha melhor amiga tramavam este teatro repugnante. O vazio da traição e a frieza do desprezo eram insuportáveis, mas a raiva fervia dentro de mim. Quando Clara chegou, com a sua performance de "amiga preocupada", a fachada de hipocrisia desmoronou-se. Ali, na sala de espera do hospital, com o meu pai entre a vida e a morte, eu olhei para ela e para a minha irmã. Ia jogar segundo as minhas regras. E ia expor a verdade, custe o que custar.