Sobretudo a sombra de Dante Ferrer , o homem que ela jurara nunca mais encarar.
Alícia abriu o pequeno relicário suspenso em seu pescoço. A peça fria, oculta sob seu casaco, guardava a memória de um amor que, um dia, fora tudo o que ela desejou. Agora, não passando de uma cicatriz, um lembrete cruel das promessas quebradas e do perigo de ceder ao desejo. Ela deveria tê-lo deixado para trás, junto com seus erros, mas o destino – sempre traiçoeiro – trouxe-a de volta para o lugar onde tudo começaria. E, para seu desgosto, sabia que Dante estaria esperando. Não por ela, mas para proteger os segredos que ambos compartilhavam. Ele a conhecia, melhor do que ela gostaria. E pior: sabia exatamente como despertar cada centímetro da paixão que ela jurara ter sufocado.
O reencontro aconteceu na manhã seguinte , no salão principal do hotel. Enquanto seus passos ecoavam pelo chão de mármore, Alícia sentia todos os olhos se voltarem para ela. Mas nada, absolutamente nada, você preparou para encontrar Dante novamente. Ele estava no topo da escada, vestido um terno escuro que destacava sua presença dominada. Seus olhos – um azul profundo e perigoso – encontrei os dela, e o mundo pareceu se reduzir naquele instante. Ó tempo parou. Um calor antigo e devastador se deixou pelo corpo de Alícia, algo que ela odiava sentir mas não conseguia evitar. Ela desejou nunca ter que se aproximar dele, mas cada fibra do seu ser ansiava por isso.
Dante desceu os degraus com uma calma calculada, sem desviar o olhar. A tensão no ar era palpável, uma corda esticada prestes a romper. Quando se mudou, ela sentiu o aroma dele – uma mistura de especiarias e algo puramente masculino, inebriante. O silêncio entre eles foi ensurdecedor, até que ele finalmente falou, em voz grave e levemente rouca:
- Não imaginei que teria coragem de voltar.
O tom de desprezo mascarava a carga elétrica que se formava entre os dois, mas Alícia percebeu o leve tremor nas mãos de Dante, logo escondidas pelo bolso do paletó. Ela sabia que ainda o afetava – e isso era perigoso. Porque, apesar do rancor, o desejo que existia entre eles jamais poderia ser enterrado. Talvez fosse isso que os destruísse, pensei, enquanto cada palavra dita por ele parecia lamber sua pele como um toque proibido.
Ela inclinou o rosto, os lábios se curvaram num sorriso carregado de provocação:
- E perder a chance de te encarar novamente? Nunca.
O olhar de Dante queimava. Se fosse possível, ele teria consumido o mesmo, sem testemunhas, sem qualquer chance de redenção. Mas ele manteve o controle, pelo menos em aparência. Aproximou-se mais um passo, tão perto que Alícia sentiu o calor do corpo dele, quase tocando-a. A tensão era insuportável, uma guerra travada entre vontade e resistência.
- Se as notícias o que é bom para você, teria ficado longe, Alícia – murmurou, a voz tão baixa que era quase um sussurro. O aviso era real, mas também havia desejo nas palavras dele, o mesmo desejo que os levasse a ruína antes.
Eles estavam perigosamente próximos . Alícia sabia que se permitisse, um toque bastaria para acender tudo o que desejava apagar. Mas não era tão simples. Os segredos entre eles, as mentiras, o jogo de poder – tudo estava entrelaçado com cada olhar carregado de luxúria e cada palavra dita com uma mistura de ódio e paixão. Ela sentiu os lábios de Dante curvarem-se num sorriso cruel. Ele sabia o que fazia com ela. E, no fundo, ela odiava tanto quanto desejava a cada momento.
Com o coração acelerado, Alícia se abrandou. Era apenas o começo. E ambos sabiam que a verdadeira batalha ainda estava por vir. A batalha para resistir ao desejo que os consomem – ou ceder a ele e enfrentar as consequências.