Sempre quis mais que isso e nunca me conformei com a forma que vivemos, tudo muito sofrido e pobre! Mesmo Alina querendo que eu acredite que um dia tudo vai mudar, as vezes olho para o cenário e me pergunto quando! Porquê nunca vivemos de caridade e o pior disso é que Alina não me deixa trabalhar, somente estudar enquanto afundamos na mesmice.
No dia seguinte, mais um dia se inicia e ao me levantar da cama respiro fundo, olho para o lado vejo a cama da minha irmã, e do outro lado a cama do meu irmão caçula, tem horas que me dá vontade de chorar pelo fato de sermos pobres e não morar num lugar digno, o meu sonho é ter um quarto só meu, ao me levantar acabei tropeçando numa mala de roupas e quase caí causando barulho.
- Ai, droga! - Resmungo baixo para não acordar Ykaro.
- Não fale nome feio pela manhã Yanah, vai acordar o nosso irmão que não passou bem a noite. - Alina reclama baixo.
Não falei nada e a deixei sozinha no quarto e segui para a nossa pequena cozinha buscar água e Alina vem atrás de mim.
- Yanah sei o quanto é difícil a nossa vida nesse metro quadrado, para mim também é difícil, mas estou dando o meu melhor para pagar a parcela da sua faculdade, para você ter um futuro melhor que o meu, eu prometi a nossa mãe que faria o impossível por vocês e estou tentando. - Alina me encara.
- A minha vontade é de largar tudo e virar uma prost. - Falo e Alina me interrompi.
- Não terminar essa frase Yanah pelo amor de Deus, jamais deixaria isso acontecer, tenho feito de tudo para isso não acontecer com nós duas, vou conseguir trabalho extra e mudaremos para algum lugar melhor.
- Alina deixa eu trabalhar para te ajudar com o tratamento do nosso irmão, alugar uma casa maior eu quero muito ter a minha privacidade. - Resmungo baixo.
- Sabe Yanah, eu só quero que estude e tenha uma profissão digna e verás que tudo isso aqui é só uma fase. - Alina fala triste.
- Queria ter a sua paciência Alina, mas não tenho, desculpa mais não tenho nem um pingo, o tempo passa rápido e nem sempre podemos esperar por um milagre. - Falo alto.
- Você é a cópia da nossa mãe, age por impulso, sem fé que as coisas possam melhorar.
Abraço a minha irmã, Alina é a mais velha de nós três, trabalha que nem uma louca para pagar a minha faculdade e ajudar o meu irmão que tem problemas de saúde desde bebê, hoje ele está com sete anos e o nosso maior desafio é arcar com o seu tratamento.
Sei que Alina faz o que pode, mas tem hora que me sinto cansada por não fazer nada, nunca a vi reclamando, não sei nem se o seu trabalho como secretária do advogado Otton Borsi é bom, afinal não sei nem quem é ele, ela só vive do trabalho para casa e igreja, quase uma santa. Já sou muito diferente, adoro uma festa e amo usufruir dos prazeres que a vida pode me proporcionar.
Alina antes de ir para o trabalho, deixa tudo organizado, e eu fico responsável por dar café da manhã a Ykaro e o levar para a escola e ir para a minha faculdade e durante o caminho falo para o meu irmão.
- Sabe Ykaro, eu vou dar a você tudo o que eu não tive quando criança. - Falo confiante.
- Eu acredito nisso Yana, você e Alina são as minhas heroínas. - Ykaro fala beijando o meu rosto.
Tento não chorar com tanto carinho, se tem uma coisa que engulo ainda é choro, eu vou conseguir tudo o que eu quero, sou dona de mim e tenho a mais plena certeza que não vou terminar os meus dias assim nessa dificuldade. Coração até agora blindado de sentimentos e isso é maravilhoso, amo ser assim livre, leve e solta que posso ser eu e quem não gostar não posso fazer nada.
Fui para a minha faculdade e ao chegar entro pelos portões e a turminha de patricinhas ficam a me olhar, eu não suporto a soberba dessas garotas, às vezes sinto-me um alienígena com o modo que elas me olham é como se o meu dinheiro não tivesse o mesmo valor que o delas e quando estou indo para a minha sala, as garotas me acompanham.
- Olha a bolsista! - A líder do grupinho fala debochando de mim e eu já respiro fundo.
- Para você saber, não sou bolsista, a minha faculdade é paga assim como a de vocês. - Viro-me encarando ela.
- Olha meninas, ela pensa que a gente não sabe que ela mora num bairro pobre, não tem condições de pagar nada. - A loira oxigenada debocha de mim.
- Olha, não sabia que eu era tão importante a tal ponto de vocês produzirem um dossiê da minha vida, se vocês não têm o que fazer? Eu tenho. - Falo e saio deixando elas sozinha.
- Volta aqui! - Uma das garotas me chama.
- O que quer? Eu não te conheço, não sei nem o seu nome, sua loira oxigenada. - Grito perdendo a paciência porque não tenho sangue de barata.
Viro as minhas costas para ela e a mesma puxa nos meus cabelos e começa a me agredir e eu revido segurando a tal.
- Garota solta ela! - Uma mulher que não conheço me pede nervosa e tira-me de cima dela.
Nessa hora já estava rodeada de gente, inclusive o diretor da faculdade e a loira oxigenada finge desmaiar.
- Solta ela e me acompanhe agora Yanah. - O diretor fala sério.
- Ela está fingindo desmaio, não fiz nada de mais - Tento me defender.
A soltei nervosa e caminho rápido acompanhando o diretor pensando que agora é o meu fim, só pensava na Alina, ela vai ficar muito decepcionada comigo, mas não me arrependo do que fiz e no caminho tento me explicar que foi as garotas da outra turma que começou toda confusão e o mesmo disse que vai ligar para a minha irmã, pelo menos Alina trabalha para um advogado quem sabe ela pede a ajuda do seu chefe Otton Borsi para me ajudar.