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Meus dedos tremiam como se fossem folhas na brisa quando os ergui, meu coração batia tão depressa quanto as asas de um beija-flor. A mão forte de Luca estava firme e estável quando ele segurou a minha e deslizou a aliança em meu dedo. Ouro branco com vinte pequenos diamantes. Aquilo que simbolizava o amor e a devoção para outros casais era apenas uma prova de que ele era o meu dono. Um lembrete diário da jaula dourada em que me aprisionava pelo resto da vida. Até que a morte nos separe não era uma promessa vã como para tantos outros casais que se entregavam ao sagrado laço do matrimônio. Para mim, não havia saída desta união. Eu seria de Luca até o último momento. As últimas palavras do juramento daquele homem quando foi iniciado na máfia poderia muito bem ter sido o desfecho dos meus votos de casamento: Entro com vida e só sairei na morte. Eu deveria ter me livrado disso quando ainda era possível. Agora, no momento em que centenas de rostos das Famiglias de Chicago e Nova Iorque nos encaravam, fugir não era mais uma opção. Nem o divórcio. A morte era o único fim aceitável para um casamento em nosso mundo. Mesmo que eu conseguisse escapar dos olhares vigilantes de Luca e de seus capangas, meu desrespeito ao nosso acordo significaria guerra. Nada que meu pai dissesse impediria que a Famiglia de Luca se vingasse pela humilhação. Meus sentimentos não importavam, nunca importaram. Cresci num mundo onde não eram dadas escolhas, principalmente às mulheres. Este casamento não tinha nada a ver com amor nem confiança ou escolha. Trata-se de dever e honra, de se fazer o que é esperado. Um vínculo para garantir a paz. Eu não sou idiota. Sabia do que mais se tratava: dinheiro e poder. Ambos estavam se esgotando desde que a Bratva – a máfia russa – a Tríade Taiwanesa e outras organizações criminosas tentavam aumentar seus controles em nossos territórios. As Famiglias Italianas por todo os Estados Unidos precisaram deixar as desavenças de lado para trabalharem em conjunto e combater seus inimigos. Eu deveria me sentir honrada em casar com o filho mais velho da Famiglia de Nova Iorque. Era do que meu pai e todos os outros parentes homens tentavam me convencer desde que fiquei noiva de Luca. Eu sabia disso, e não era como se não tivesse tempo para me preparar para o momento crucial, mas, mesmo assim, o medo invadia meu corpo incontrolavelmente. - Pode beijar a noiva - disse o padre. Levantei a cabeça. Cada par de olhos no salão me analisava, esperando por um indício de fraqueza. Papai ficaria furioso se eu deixasse meu terror transparecer, e a Famiglia de Luca usaria isso contra nós. Mas cresci em um mundo onde uma máscara de perfeição era a única proteção permitida à mulher e não havia dificuldade nenhuma em impor uma expressão tranquila. Ninguém desconfiaria do quanto eu queria fugir. Ninguém exceto Luca. Não conseguia esconder dele, por mais que tentasse. Meu corpo não parava de tremer. Percebi que ele sabia assim que meu olhar encontrou seus olhos cinza. Quantas vezes ele provocara medo nas pessoas? Considerando que provocar medo provavelmente era algo natural para ele. Ele se curvou para diminuir os 25 centímetros que tinha a mais que eu. Não havia sinal de dúvida, medo ou hesitação em seu rosto. Meus lábios tremiam contra sua boca enquanto seus olhos me penetravam. A mensagem era clara: Você é minha. Três anos antes Eu estava em nossa biblioteca, encolhida na chaise lounge lendo, quando ouvi uma batida. Liliana descansava em meu colo e nem se mexeu quando a porta de madeira escura abriu e nossa mãe entrou com seus cabelos loiros escuros presos num coque. Mamãe estava pálida, seu semblante era de preocupação. - Aconteceu alguma coisa? - Perguntei. Ela sorriu, mas era um sorriso hesitante. - Seu pai quer conversar com você no escritório dele. Tirei a cabeça de Lily cuidadosamente de cima de mim e a deitei no sofá. Ela encolheu as pernas contra seu corpo. Era bem pequena para uma menina de onze anos, mas eu também não era exatamente alta com os meus 1,65cm. Nenhuma mulher de nossa família era. Mamãe evitou meus olhos quando andei em sua direção. - Estou encrencada? - Não tinha ideia do que poderia ter feito de errado. Normalmente, Lily e eu éramos obedientes; Gianna era a única que sempre quebrava as regras e era castigada. - Depressa. Não faça seu pai esperar - disse Mamãe simplesmente. Meu estômago deu um nó quando cheguei em frente ao escritório de Papai. Esperei um momento até acalmar meus nervos e bati. - Entre. Entrei, forçando uma expressão cuidadosamente séria. Papai estava sentado à sua mesa de mogno numa poltrona larga de couro negro; atrás dele, prateleiras de mogno erguiam-se repletas de livros que ele nunca lera, mas que escondiam uma entrada secreta para o subterrâneo e um corredor que dava para o lado de fora da casa. Ele olhava através de uma pilha de papéis com seus cabelos grisalhos penteados para trás. - Sente-se. Afundei em uma das cadeiras à sua mesa e juntei as mãos em meu
Os dois últimos meses passaram muito rápido, ainda que eu desejasse que fossem bem devagar para que eu tivesse mais tempo para me preparar. Faltavam apenas dois dias para a minha festa de noivado. Mamãe esteve ocupada administrando os empregados, certificando-se de que a casa ficasse impecável e que nada desse errado. E nem era um evento tão grande. Apenas nossa família, a de Luca e as famílias dos chefes de Nova Iorque e de Chicago foram convidadas. Umberto disse que foi por motivos de segurança. A trégua ainda era muito recente para arriscar um encontro de centenas de convidados.
Eu queria era que cancelassem logo tudo. Por mim, só conheceria Luca no dia do casamento. Fabiano pulava sem parar na minha cama fazendo beicinho. Ele tinha só cinco anos e energia de sobra. - Quero brincar!
- Mamãe não quer que você fique correndo pela casa. Tudo deve estar perfeito para os convidados.
- Mas eles nem chegaram ainda!
Graças a Deus. Luca e o restante dos convidados de Nova Iorque só chegariam amanhã. Apenas mais uma noite e eu conheceria meu futuro marido, um homem que já matou com as próprias mãos. Fechei os olhos.
- Está chorando de novo? - Fabiano pulou da cama e caminhou até mim, enfiando sua mão entre as minhas. Seus cabelos loiros escuros estavam uma bagunça. Quis ajeitá-los, mas Fabiano desviou a cabeça.
- Como assim? - Tentei esconder as lágrimas. Na maioria das vezes, eu chorava à noite quando estava protegida pela escuridão.
- Lily disse que você chora o tempo todo porque Luca te comprou.
Congelei. Já tinha dito a Liliana que parasse de falar essas coisas. Só iria me trazer problemas. - Ele não me comprou. - Mentirosa. Mentirosa.
- Dá no mesmo - falou Gianna à porta, assustando-me.
- Shhh. E se Papai nos ouvir?
Gianna deu de ombros. - Ele sabe o quanto eu odeio por ele ter te vendido como uma vaca.
- Gianna - adverti, acenando em direção a Fabiano.
Ele olhou para mim. - Não quero que vá embora - sussurrou.
- Ainda vai demorar para eu ir embora, Fabi. - Ele pareceu satisfeito com a minha resposta e a preocupação desapareceu de seu rosto, sendo substituída pela cara de quem estava aprontando. - Vem me pegar! - gritou e saiu correndo, empurrando Gianna quando passou a seu lado.
Gianna disparou atrás dele. - Vou acabar com você, seu monstrinho!
Acelerei pelo corredor. Liliana enfiou a cabeça para fora da porta de seu quarto e logo começou a correr atrás de meus irmãos. Mamãe me mataria se eles destruíssem outra relíquia de família. Voei escada abaixo. Fabiano ainda corria na frente. Ele era rápido, mas Liliana quase o pegou enquanto Gianna e eu estávamos muito devagar por causa dos saltos altos que minha mãe nos obrigava a usar para praticar. Fabiano acelerou pelo corredor em direção à ala oeste da casa e nós o seguimos. Quis gritar para que ele parasse. O escritório de Papai ficava nessa parte da casa. Estaríamos tão encrencados se ele nos pegasse brincando por aqui... Fabiano deveria agir feito um homem. Que criança de cinco anos age como homem?
Passamos pela porta de Papai e fiquei aliviada, mas, então, três homens apareceram no fim do corredor. Abri meus lábios para avisar, mas era tarde demais. Fabiano derrapou, porém, Liliana correu direto para cima do homem que estava no meio com força total. A maioria das pessoas teria se desequilibrado. A maioria das pessoas não media 1,90cm de altura e tinha um corpo de touro.
Parei subitamente enquanto o tempo parecia congelar à minha volta. Gianna engasgou ao meu lado, mas meu olhar deteve-se no meu futuro marido. Ele olhava para baixo, em direção à cabeça loira da minha irmã mais nova, estabilizando-a com suas mãos fortes. Mãos que usara para estrangular um homem.
- Liliana - falei com a voz trêmula de medo. Nunca chamo minha irmã pelo nome a não ser que ela esteja em perigo ou que algo esteja muito errado. Desejei estar conseguindo esconder melhor o pavor que sentia. Neste momento, todos me encaravam, inclusive Luca. Seus olhos cinza frios me analisavam dos pés à cabeça, parando em meus cabelos.
Deus, ele é alto. Ambos os homens ao lado dele tinham mais de 1,80cm, mas ele os ofuscava. Suas mãos permaneciam sobre os ombros de Lily. - Liliana, venha aqui - chamei firmemente, estendendo a mão. Eu a queria longe de Luca. Ela cambaleou para trás, jogando-se em meus braços e enterrou o rosto em meu ombro. Luca levantou uma sobrancelha negra.
- Este é Luca Vitiello! - Anunciou utilmente Gianna, sem nem se incomodar em esconder sua insatisfação.
Fabiano emitiu um grunhido como se fosse um felino raivoso e avançou em Luca, batendo em suas pernas e abdômen com seus pequenos punhos. - Deixe Aria em paz! Você não vai levá-la!
Meu coração parou bem ali. O homem ao lado de Luca deu um passo à frente. O contorno de uma arma ficou visível por baixo de seu uniforme. Ele devia ser o guarda-costas de Luca, embora eu não conseguisse imaginar para que ele precisaria de um.
- Não, Cesare - disse Luca simplesmente e o homem se deteve. Com uma das mãos, Luca pegou as duas de meu irmão, interrompendo o ataque. Duvido que ele tenha ao menos sentido os golpes. Empurrei Lily para Gianna que a envolveu de forma protetora e me aproximei de Luca. Eu estava extremamente assustada, mas precisava tirar Fabiano de perto dele. Talvez Nova Iorque e Chicago estivessem tentando deixar a rixa de lado, mas alianças poderiam ser quebradas num piscar de olhos. Não seria a primeira vez. Luca e seus homens ainda eram os inimigos.
- Que boas-vindas mais calorosa... Esta é a famosa hospitalidade da Organização - declarou o outro homem que estava com Luca; ele tinha os mesmos cabelos pretos, mas os olhos eram mais escuros. Era alguns centímetros mais baixo que Luca e não tão grande, mas não tinha como negar que eram irmãos.
- Matteo - proferiu Luca numa voz baixa que me deu arrepios. Fabiano ainda rosnava e se debatia como um animal selvagem, contudo, Luca ainda o segurava pelos braços.
- Fabiano - eu disse com firmeza, agarrando seu antebraço. - Já chega. Não é assim que tratamos os convidados.
Fabiano congelou, depois, olhou para mim por cima do ombro. - Ele não é um convidado. Ele quer te levar daqui, Aria.
Matteo riu. - Isso é bom demais. Fico feliz que Papai tenha me convencido a vir.
- Ordenado - corrigiu Luca, sem tirar os olhos de mim. Não conseguia olhar para ele. Minhas bochechas queimavam enquanto ele me analisava. Meu pai e seus guarda-costas asseguravam que nem Gianna, nem Lily e nem eu ficássemos muito perto de homens, e os que eram permitidos ou eram da família ou velhos. Luca não era da família, nem velho. Ele tinha só cinco anos a mais que eu, mas parecia um homem e me fez sentir como uma garotinha perto dele.
Luca soltou Fabiano e eu o puxei, suas costas ficaram apoiadas em minhas pernas. Cobri seu peito arfante com minhas mãos. Ele não tirou os olhos de Luca. Desejei ter sua coragem, mas ele era um menino, um herdeiro do título de meu pai. Não seria forçado a obedecer a ninguém, com exceção do Chefe. Coragem era permitida a ele.
- Desculpe - falei, ainda que não me agradasse. - Meu irmão não quis desrespeitá-lo.
- Quis, sim! - Bradou Fabiano. Cobri sua boca com a palma da minha mão e ele esperneou, mas não o soltei.
- Não se desculpe - manifestou Gianna bruscamente, ignorando o olhar de advertência que eu lancei a ela. - Não é nossa culpa se ele e seus guarda-costas ocupam tanto espaço no corredor. Pelo menos Fabiano falou a verdade. Todo mundo acha que precisa puxar o saco dele porque vai se o Capo...
- Gianna! - Chicotei-a com a voz. Ela apertou os lábios, encarando-me com os olhos arregalados. - Leve Lily e Fabiano para seus quartos. Agora.
- Mas... - ela olhava através de mim. Fiquei feliz por não conseguir ver a expressão de Luca.
- Agora!
Ela segurou a mão de Fabiano e arrastou os dois para longe dali. Não pensei que o primeiro encontro com meu futuro marido poderia piorar. Controlando-me, encarei Luca e os homens que estavam com ele. Esperei ser cumprimentada com raiva, mas, em vez disso, ele sorria. Meu rosto queimava de vergonha e, agora que me vi sozinha com os três homens, meu estômago revirou. Mamãe surtaria se visse que eu não estava vestida adequadamente para o meu primeiro encontro com Luca. Usava um de meus vestidos longos preferidos com mangas 3/4, e agradecia silenciosamente pela proteção que o tecido me proporcionava. Cruzei os braços em frente ao meu corpo, incerta do que fazer.
- Peço desculpas pelos meus irmãos. Eles são... - procurei outra palavra que não "rudes".
- Seus protetores - completou Luca. Sua voz era suave, profunda, sem emoção. - Este é meu irmão, Matteo.
Os lábios de Matteo curvaram-se num sorriso largo. Fiquei contente por ele não tentar pegar minha mão. Acredito que não conseguiria manter minha calma se qualquer um dos dois se aproximasse mais.
- E este é o meu braço direito, Cesare. - Cesare acenou rapidamente antes de voltar ao seu trabalho de examinar o corredor. O que ele esperava? Nós não tínhamos assassinos escondidos em alçapões secretos.
Foquei no queixo de Luca e desejei que parecesse que, na verdade, olhava para seus olhos. Dei um passo atrás.
- É melhor eu ir até meus irmãos.
A expressão de Luca era de quem sabia, mas eu não me importava que ele percebesse o quão desconfortável, o quão assustada ele me deixava. Sem esperar que ele me dispensasse – ele não era meu marido nem meu noivo ainda – virei e saí depressa, orgulhosa de não ter cedido ao impulso de correr.
***
Mamãe puxava o vestido que Papai escolhera para a ocasião. Para o espetáculo da carne, como Gianna chamava. Independente do quanto Mamãe puxasse o vestido, ele não ficaria mais comprido. Olhei com dúvida meu reflexo no espelho. Nunca vestira nada tão revelador. O vestido preto era justo no bumbum e na cintura, e terminava no alto das minhas coxas; a parte de cima era um corpete dourado brilhante com alças de tule preto.
- Não posso vestir isso, Mamãe.
Mamãe olhou-me pelo espelho. Seus cabelos estavam presos; eram alguns tons mais escuros do que os meus. Ela usava um vestido elegante que ia até o chão. Queria poder usar algo tão recatado. - Você parece uma mulher - sussurrou ela.
Eu me encolhi. - Pareço uma prostituta.
- Prostitutas não podem comprar um vestido desse.
As amantes de Papai tinham roupas que custavam mais do que algumas pessoas gastavam num carro. Mamãe pôs as mãos na minha cintura. - Você tem uma cinturinha de violão e o vestido faz suas pernas parecerem mais compridas. Tenho certeza de que Luca vai gostar.
Olhei para o meu decote. Meus seios são pequenos, nem mesmo o efeito push-up do corpete conseguiu mudar isso. Eu tinha quinze anos e estava vestida para parecer uma mulher.
- Tome. - Mamãe me entregou um par de sapatos pretos com 12cm de salto. Talvez eu alcance o queixo de Luca quando os calçar. Deslizei para dentro deles. Mamãe forçou um sorriso falso e acariciou meus longos cabelos. - Mantenha a cabeça erguida. Fiore Cavallaro disse que você é a mulher mais bonita de Chicago. Mostre a Luca e a seus acompanhantes que você é mais bonita do que qualquer mulher de Nova Iorque também. Afinal, Luca conhece a maioria delas. - Pelo modo com que ela disse isso, tive certeza de que também lera as reportagens sobre as conquistas de Luca, ou talvez Papai tenha contado-lhe algo.
- Mamãe... - falei hesitante, mas ela deu um passo atrás.
- Agora vá. Irei logo depois de você, mas hoje o dia é seu. Você deve aparecer sozinha. Os homens estarão esperando. Seu pai a apresentará a Luca e, depois, todos nós iremos para a sala de jantar fazer a refeição. - Ela já havia me dito isso dezenas de vezes.
Por um instante, eu quis pegar sua mão e implorar que ela me acompanhasse; em vez disso, virei-me e saí do meu quarto. Ainda bem que minha mãe me obrigou a usar saltos nas últimas semanas. Quando cheguei em frente à porta do lounge com lareira no primeiro piso da ala oeste, meu coração quase saía pela garganta. Desejei que Gianna estivesse comigo, mas Mamãe deve tê-la aconselhado a se comportar neste momento. Tenho que passar por isso sozinha. Ninguém deve roubar a cena da futura noiva.
Encarei a madeira escura da porta e cogitei sair correndo. Risadas masculinas ecoavam por trás dela, eram de meu pai e do Chefe. Um ambiente repleto dos mais poderosos e perigosos homens do país, e eu deveria entrar. Um cordeiro sozinho em meio aos lobos. Balancei a cabeça. Precisava parar de pensar desse jeito. Já os havia feito esperar tempo demais.
Segurei a maçaneta e a puxei para baixo. Deslizei para dentro, ainda sem olhar para ninguém enquanto fechava a porta. Tomando coragem, enfrentei a sala. A conversa morreu. Será que eu deveria dizer alguma coisa? Tremi, mas desejei que eles não percebessem. Meu pai olhou como se o mundo fosse só dele. Meus olhos procuraram Luca e seu olhar penetrante me deixou sem reação. Prendi o fôlego. Largou seu copo, que continha um líquido escuro, fazendo um barulho bastante audível. Se ninguém dissesse nada logo, eu desapareceria dali. Analisei rapidamente os rostos dos homens reunidos. De Nova Iorque estavam Matteo; Luca e Salvatore Vitiello; e dois guarda-costas: Cesare e um rapaz que eu não conhecia. Da Organização de Chicago, meu pai; Fiore Cavallaro e seu filho, o futuro chefe Dante Cavallaro; como também Umberto e meu primo Raffaele, a quem eu odiava com todas as minhas forças. E ao lado, estava o coitado do Fabiano, que teve que vestir um terno preto igual a todos os outros. Percebi que ele queria correr até mim para buscar consolo, mas ele sabia o que Papai falaria disso.
Papai finalmente veio em minha direção, colocou uma mão em minhas costas e me conduziu para onde os homens estavam como se fosse um cordeiro rumo ao matadouro. O único homem que parecia positivamente entediado era Dante Cavallaro, ele só tinha olhos para o seu copo de scotch. Nossa família comparecera ao funeral de sua esposa há dois meses. Um viúvo na casa dos trinta. Sentiria pena se ele não me assustasse quase tanto quanto Luca me assustava.
Óbvio que Papai me conduziu direto para o meu futuro marido com uma expressão desafiadora como se esperasse que Luca caísse de joelhos em admiração. Pela sua expressão, Luca poderia muito bem estar olhando para uma pedra. Seu olhos cinza eram frios e insensíveis à medida que focavam em meu pai.
- Esta é minha filha, Aria.
Aparentemente, Luca não havia mencionado nosso encontro vergonhoso. Fiore Cavallaro tomou a palavra:
- Não exagerei, não é mesmo?
Queria que o chão abrisse e me engolisse inteira. Nunca havia sido submetida a tanta... atenção. O modo com que Raffaele me olhava fez minha pele arrepiar todinha. Ele fora iniciado recentemente e completara dezoito anos há duas semanas. Desde esse dia, ele se tornara mais insuportável que antes.
- Nenhum exagero - disse Luca simplesmente.
Papai parecia claramente posto de lado. Sem ninguém notar, Fabiano se esgueirou por trás de mim e escorregou sua mão para junto da minha. Bem, Luca notou e ficou olhando para o meu irmão, o que levou seu olhar para perto demais das minhas coxas nuas. Movimentei-me nervosamente e Luca desviou o olhar.
- Por que não deixamos os futuros noivos sozinhos por uns minutos? - Sugeriu Salvatore Vitiello. Meus olhos pularam em sua direção, não consegui esconder meu espanto rápido o suficiente. Luca reparou, mas não pareceu se importar.
Meu pai sorriu e virou-se para sair. Não pude acreditar.
- Devo ficar? - Perguntou Umberto. Sorri discretamente para ele, mas o sorriso sumiu assim que meu pai balançou a cabeça em negação. - Dê-lhes alguns minutos sozinhos - respondeu ele. Salvatore Vitiello piscou mesmo para Luca. Todos saíram até que ficássemos apenas Luca, Fabiano e eu.
- Fabiano - soou a voz forte de meu pai. - Saia daí agora.
Fabiano soltou minha mão relutantemente e saiu, porém, não sem antes lançar a Luca o olhar mais mortal que um menino de cinco anos poderia dar. Luca ergueu os lábios. E, então, a porta fechou e estávamos a sós. O que será que a piscada do pai de Luca significava?
Espiei Luca. Eu estava certa: com os saltos, o alto da minha cabeça roçava em seu queixo. Ele olhou pela janela. Não me olhou nem de relance. Ter me vestido como uma prostituta não fez com que Luca ficasse nem um pouco interessado em mim. E por que ele ficaria? Eu vi as mulheres com quem ele saía em Nova Iorque. Elas preencheriam muito melhor o corpete.
- Foi você que escolheu o vestido?
Dei um pulo, assustada por ele ter falado algo. Sua voz era profunda e calma. Será que alguma vez ele já esteve o contrário disso?
- Não - admiti. - Foi meu pai.
Luca contraiu o maxilar. Não conseguia decifrá-lo e isso estava me deixando mais nervosa ainda. Ele colocou a mão por dentro de seu terno e por um ridículo segundo eu realmente pensei que fosse sacar uma arma. Em vez disso, ele segurava uma caixinha preta. Virou-se em minha direção e eu encarei atentamente sua camisa preta. Camisa preta, gravata preta, terno preto. Sombrios como sua alma.
Este era um momento com o qual milhares de mulheres sonhavam, mas senti um arrepio quando Luca abriu a caixa. Dentro estava um anel de ouro branco com um diamante enorme no meio, prensado entre dois outros diamantes ligeiramente menores. Não me mexi.
Luca estendeu sua mão quando o constrangimento entre nós atingiu seu auge. Corei e estendi a minha. Estremeci quando sua pele encostou na minha. Ele deslizou o anel de noivado no meu dedo e, depois, me soltou.
- Obrigada - senti a obrigação de agradecer e até mesmo de olhar para ele, que estava impassível, embora o mesmo não possa ser dito sobre os seus olhos. Eles pareciam furiosos. Será que eu tinha feito algo de errado? Ele ofereceu o braço e eu deixei que me conduzisse para fora em direção à sala de jantar. Não dissemos uma palavra. Será que Luca estava tão desapontado comigo que iria cancelar o acordo? Mas ele não teria colocado o anel em meu dedo se fosse esse o caso.
Quando entramos na sala de jantar, as mulheres da minha família haviam se juntado aos homens. Os Vitiello não trouxeram nenhuma companhia feminina. Talvez porque eles não confiassem o suficiente em meu pai e nos Cavallaro para arriscar trazer mulheres à nossa casa.
Não podia culpá-los. Eu tampouco confiaria em meu pai e no Chefe. Luca largou meu braço e eu rapidamente me juntei à minha mãe e minhas irmãs, que fingiam admirar meu anel. Gianna me lançou um olhar. Não fazia ideia de qual ameaça minha mãe fizera para que ela permanecesse em silêncio. Sabia que Gianna tinha um comentário sarcástico na ponta da língua. Balancei a cabeça e ela revirou os olhos. O jantar foi confuso. Os homens discutiam negócios enquanto as mulheres permaneciam quietas. Meu olhar teimava em pousar no anel em meu dedo. Era pesado demais, apertado demais, tudo muito demais. Luca havia me marcado como uma propriedade sua.
***
Depois do jantar, os homens foram beber e fumar no lounge, e discutir o que quer que precisasse ser discutido. Voltei para o meu quarto, mas não consegui dormir. Por fim, vesti um roupão por cima do pijama, fugi do meu quarto e rastejei escada abaixo. Num acesso de loucura, segui o caminho que dava à porta secreta atrás da parede do lounge. Meu avô pensou que seria necessário ter uma porta secreta por onde fugir no escritório e no lounge com lareira porque era onde os homens da família costumavam ter suas reuniões. Eu me perguntava o que ele pensava que aconteceria às mulheres depois que todos os homens fugissem pela passagem secreta.
Encontrei Gianna com os olhos colados no olho mágico da porta camuflada. Claro que ela já estaria lá. Ela se virou, seus olhos arregalados relaxaram quando me avistou.
- O que está acontecendo aí dentro? - Sussurrei, preocupada que os homens no lounge pudessem nos ouvir.
Gianna chegou para o lado para que eu pudesse espiar pelo segundo olho mágico. - Já se foram quase todos. Papai e Cavallaro têm alguns detalhes para discutir com Salvatore Vitiello. Apenas Luca e seus acompanhantes continuam ali.
Apertei os olhos no buraco, o que me deu uma vista perfeita das cadeiras ocupadas em volta da lareira. Luca apoiava-se no peitoril de mármore da lareira, com as pernas casualmente cruzadas e um copo de scotch na mão. Seu irmão, Matteo, relaxado em uma poltrona ao lado dele, pernas arreganhadas e aquele sorriso selvagem no rosto. Cesare e o segundo guarda-costas, a quem chamavam de Romero durante o jantar, estavam sentados nas outras poltronas. Romero parecia ter a mesma idade que Matteo, por volta dos dezoito. Praticamente homens normais da sociedade, mas não em nosso mundo.
- Poderia ter sido pior - disse Matteo sorrindo. Ele até poderia não parecer tão perigoso quanto Luca, mas algo em seus olhos me dizia que ele apenas conseguia esconder melhor. - Ela podia ser feia. Mas, puta que pariu, sua noivinha é para ser exibida. Aquele vestido. Aquele corpo. Aqueles cabelos e o rosto... - Matteo assobiou. Parecia que ele provocava o irmão de propósito.
- Ela é uma criança - desprezou Luca.
Fui invadida pela indignação, mas eu sabia que deveria ficar contente por ele não ter olhado para mim como um homem olha para uma mulher.
- Ela não parece uma criança para mim - declarou Matteo, e estalou a língua. Ele cutucou o homem mais velho, Cesare. - O que você me diz? Luca está cego?
Cesare estremeceu olhando cuidadosamente para Luca. - Não prestei muita atenção nela.
- E você, Romero? Seus olhos funcionam bem?
Romero olhou para cima, depois, baixou o olhar rapidamente para a sua bebida.
Matteo jogou a cabeça para trás e riu. - Porra, Luca, você disse a seus homens que cortaria o pau deles se olhassem para a sua garota? Você nem está casado ainda.
- Ela é minha - anunciou Luca calmamente, sua voz me fez sentir um arrepio na espinha, sem falar nos olhos. Ele olhou para Matteo, que balançou a cabeça.
- Pelos próximos três anos, você estará em Nova Iorque e ela, aqui. Você não pode ficar sempre de olho nela. Ou pretende ameaçar todos os homens da Organização? Você não pode cortar o pau de todos eles. Talvez Scuderi conheça alguns eunucos que possam vigiá-la.
- Farei o que tiver que fazer - declarou Luca, mexendo a bebida em seu copo. - Cesare, encontre os dois idiotas que supostamente cuidam de Aria. - O jeito com que meu nome saiu de sua boca me provocou arrepios. Eu nem mesmo sabia que agora tinha dois guarda-costas. Umberto sempre protegeu a mim e minhas irmãs.
Cesare saiu imediatamente e voltou dez minutos depois com Umberto e Raffaele, ambos pareciam contrariados por terem sido convocados como cachorros por alguém de Nova Iorque. Papai estava a um passo deles.
- O que significa isto? - Quis saber Papai.
- Quero dar uma palavra com os homens que o senhor escolheu para proteger o que é meu.
Gianna bufou ao meu lado, e eu a belisquei. Ninguém poderia saber que estávamos ouvindo a conversa. Papai teria um ataque se a porta secreta fosse revelada.
- Os dois são bons soldados. Raffaele é primo de Aria e Umberto trabalha para mim há quase duas décadas.
- Gostaria de decidir eu mesmo se confio neles - comunicou Luca. Prendi o fôlego. Isso era o mais próximo que ele poderia chegar de insultar meu pai sem realmente insultá-lo abertamente. Papai apertou os lábios, mas deu um breve aceno. Ele permaneceu na sala. Luca chegou perto de Umberto. - Soube que você é bom com a faca.
- O melhor - interveio Papai. Luca contraiu o maxilar.
- Não tão bom quanto o seu irmão, como dizem os rumores - reconheceu Umberto com um aceno em direção a Matteo, que mostrou-lhe um imenso sorriso. - Mas melhor que qualquer outro homem em nosso território - admitiu por fim.
- Você é casado?
Umberto assentiu. - Há vinte e um anos.
- Isso é muito tempo - considerou Matteo. - Aria deve parecer terrivelmente deliciosa em comparação a sua esposa velha. - Reprimi um suspiro.
A mão de Umberto se contorceu um centímetro em direção ao coldre em sua cintura. Todos viram. Papai observava como uma águia, mas não interferiu. Umberto limpou a garganta. - Conheço Aria desde que nasceu. Ela é uma criança.
- Mas não por muito tempo - informou Luca.
- Ela será sempre uma criança para mim. E eu sou fiel à minha esposa. - Umberto olhou para Matteo. - Se você insultá-la de novo, pedirei permissão a seu pai para desafiá-lo numa luta de facas para defender a honra dela, e eu te matarei.
Isso não pode acabar bem.
Matteo inclinou a cabeça. - Você pode tentar. - E mostrou seus dentes brancos. - Mas não terá sucesso.
Luca cruzou os braços, depois, acenou. - Acho que você é uma boa escolha, Umberto. - Umberto deu um passo atrás, mas manteve seu olhar fixo em Matteo, que o ignorou.
Os olhos de Luca pousaram em Raffaele e qualquer vestígio de civilidade que até aquele momento escondia o monstro dentro dele foi derrubado. Ele chegou tão perto de Raffaele que meu primo foi atraído pelo seu olhar. Raffaele se esforçou para manter sua expressão de arrogância e autoconfiança, mas parecia um filhotinho de chihuahua tentando impressionar um tigre de bengala. Luca e ele poderiam muito bem ser de duas espécies diferentes.
- Ele é da família. Você vai mesmo acusá-lo de ter algum interesse na minha filha?
- Eu vi como ele olhava para Aria - afirmou Luca, sem nunca tirar os olhos de Raffaele.
- Como um pêssego suculento que você deseja apanhar - acrescentou Matteo, divertindo-se até demais.
Os olhos de Raffaele correram até meu pai, pedindo ajuda.
- Não negue. Conheço desejo quando o vejo. E você deseja Aria - grunhiu Luca. Raffaele não negou. - Se eu descobrir que você está olhando para ela daquele jeito novamente... Se eu descobrir que você está sozinho em algum cômodo com ela... Se eu descobrir que você tocou nem que seja em sua mão, eu te mato.
Raffaele ficou vermelho. - Você não é um membro da Organização. Ninguém te contará nada nem mesmo se eu estuprá-la. Eu poderia arrombá-la antes de você. - Por Deus, Raffaele, cale a boca. Será que ele não enxergava morte nos olhos de Luca? - Talvez eu até filme para você.
Antes mesmo que eu pudesse piscar, Luca jogou Raffaele no chão e enfiou um joelho em sua coluna, um dos braços de meu primo torceu para trás. Raffaele se debatia e xingava, mas Luca o segurava com mais força, agarrou o pulso de Raffaele com uma das mãos enquanto alcançava por baixo de seu colete com a outra, tirando sua faca.
Minhas pernas enfraqueceram. - Saia daqui agora - sussurrei para Gianna. Ela não ouviu.
Não olhe, Aria.
Mas não consegui. Papai com certeza impediria Luca. Mas a expressão de Papai era de desgosto enquanto ele olhava para Raffaele. Os olhos de Luca procuraram os de Papai – Raffaele não era seu soldado. Este nem era seu território. A honra exigia que ele tivesse a permissão do Conselheiro – e quando meu pai assentiu, ele levou a faca para baixo e cortou o dedo mindinho de Raffaele. Os gritos ecoaram em meus ouvidos quando a minha visão escureceu. Mordi meu pulso para reprimir um som. Gianna não. Ela deixou escapar um grito que poderia despertar um morto, antes de vomitar, pelo menos ela se virou e mirou na direção contrária a mim. Seu vômito respingou escada abaixo.
Por trás da porta, o silêncio reinava. Eles tinham nos ouvido. Agarrei Gianna pelos braços quando a porta secreta foi empurrada, revelando o rosto furioso de Papai. Atrás dele, estavam Cesare e Romero, ambos com suas armas expostas. Quando viram Gianna e eu, colocaram-nas de volta em seus coldres por baixo do paletó.
Gianna não chorou. Ela raramente chora, mas seu rosto estava pálido e seu corpo pesava apoiado em mim. Se eu não precisasse segurá-la, minhas próprias pernas teriam sucumbido. Mas tive que ser forte por ela.
- Mas é claro... - Papai sibilou, olhando feio para Gianna. - Eu deveria saber que era você causando problemas mais uma vez. - Ele a arrancou de perto de mim direto para dentro do lounge, levantou a mão e deu um tapa forte em seu rosto.
Dei um passo em sua direção para protegê-la e Papai levantou seu braço novamente. Preparei-me para o tapa, porém, Luca segurou o pulso de meu pai com a mão esquerda, sua mão direita ainda segurava a faca que ele havia usado para cortar o dedo de Raffaele. Tanto a faca quanto a mão de Luca estavam cobertas de sangue. Meus olhos arregalaram. Era Papai quem mandava na casa, quem mandava em todos nós. A intervenção de Luca representava um insulto contra a honra de meu pai.
Umberto sacou sua faca e Papai estava com a mão em sua arma. Matteo, Romero e Cesare sacaram suas próprias armas. Raffaele estava oprimido no chão, debruçado sobre sua mão, seus lamentos eram o único som no ambiente. Será que alguma vez já houve um compromisso tão sangrento?
- Não tive a intenção de desrespeitá-lo - disse Luca calmamente, como se a guerra entre Nova Iorque e Chicago não estivesse prestes a estourar. - Mas Aria não é mais sua responsabilidade. O senhor perdeu o direito de puni-la quando me fez seu noivo. Sou eu que tenho que lidar com ela agora, já que é minha.
Papai deu uma olhada no anel em meu dedo, depois, inclinou a cabeça. Luca soltou seu pulso e os outros homens no cômodo relaxaram um pouco, contudo, não guardaram suas armas de volta.
- É verdade. - Ele deu um passo atrás e fez um gesto para mim. - Então, quer ter a honra de colocar algum juízo nela?
O olhar duro de Luca pousou em mim e parei de respirar. - Ela não me desobedeceu.
Papai respirou fundo. - Você está certo. Todavia, do meu ponto de vista, Aria ainda viverá sob meu teto até o casamento e já que a honra me proíbe de levantar a mão para ela, terei que encontrar outra maneira de fazê-la me obedecer. - Então, olhou furioso para Gianna e bateu nela pela segunda vez. - Por cada um de seus atos errados, Aria, sua irmã receberá a punição em seu lugar.
Pressionei os lábios, as lágrimas incomodavam meus olhos. Não olhei nem para Luca, nem para Papai, não até poder encontrar uma maneira de esconder o ódio que sentia por eles.
- Umberto, leve Gianna e Aria para seus quartos e certifique-se de que elas permaneçam lá. - Umberto embainhou sua faca e gesticulou para que o seguíssemos. Passei pelo meu pai, arrastando Gianna, que mantinha a cabeça baixa, comigo. Ela se retesou ao passarmos pelo sangue e pelo dedo abandonado no piso de madeira. Meus olhos correram até Raffaele que apertava o corte para deter o sangramento. Suas mãos, sua camisa e suas calças estavam cobertas de sangue. Gianna regurgitava como se fosse vomitar novamente.
- Não - falei com firmeza. - Olhe para mim.
Ela tirou os olhos do sangue e encontrou meu olhar. Havia lágrimas em seus olhos e seu lábio inferior tinha um corte de onde escorria sangue passando por seu queixo até sua camisola. Segurei sua mão mais forte. Estou com você. O encontro de nossos olhares parecia ser seu único apoio enquanto Umberto nos conduzia para fora do lounge.
- Mulheres... - zombou meu pai. - Não conseguem nem suportar um pingo de sangue. - Pude praticamente sentir os olhos de Luca cravarem em meu traseiro antes de a porta fechar.
Gianna limpou o lábio que sangrava enquanto corríamos atrás de Umberto pelo corredor escada acima.
- Eu o odeio - resmungou ela. - Odeio todos eles.
- Shh... - Não queria que ela falasse assim na frente de Umberto. Ele se preocupava conosco, mas era um soldado de meu pai da cabeça aos pés.
Quando eu quis seguir Gianna até seu quarto, ele me impediu. Não queria que ela passasse esta noite sozinha. E eu também não queria passar a noite sozinha. - Você ouviu o que disse seu pai.
Olhei para ele. - Preciso ajudar Gianna com o lábio dela.
Umberto balançou a cabeça. - Não é nada. Vocês duas juntas sempre acaba em confusão. Você acha inteligente aborrecer mais ainda seu pai esta noite? - Umberto fechou a porta do quarto de Gianna e me empurrou gentilmente em direção ao meu, que fica ao lado do dela.
Entrei e voltei-me a ele. - Uma sala cheia de homens adultos assiste a um homem bater numa garota indefesa, essa é a famosa coragem dos 'homens de honra'.
- Seu futuro marido impediu seu pai.
- De bater em mim, não em Gianna.
Umberto sorriu como se eu fosse uma menina boba. - Luca pode comandar Nova Iorque, mas estamos em Chicago e seu pai é o Consigliere.
- Você admira Luca - disse incrédula. - Você o viu cortar o dedo de Raffaele fora e você o admira.
- Seu primo tem sorte de 'O Vice' não ter cortado alguma coisa a mais. Luca fez o que qualquer outro homem teria feito.
Talvez qualquer outro homem em nosso mundo.
Umberto deu um tapinha em minha cabeça como se eu fosse um gatinho fofinho. - Vá dormir.
- Você vai ficar de guarda na minha porta a noite inteira para assegurar que eu não saia para espiar por aí de novo? - Desafiei.
- É melhor ir se acostumando. Agora que Luca colocou um anel em seu dedo, irá se certificar de que você esteja sempre vigiada.
Bati a porta. Vigiada. Mesmo de longe, Luca controlaria a minha vida. Pensei que minha vida continuaria a mesma até o casamento, só que como poderia ser assim se todos sabiam o que o anel no meu dedo significava? O dedinho de Raffaele foi um sinal, um aviso. Luca reivindicou a minha posse e garantiria a sangue frio que fosse assim.
Não apaguei as luzes nesta noite, preocupada que a escuridão pudesse trazer de volta as imagens do sangue e de membros cortados. Elas vieram mesmo assim.
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Na sombria paisagem do submundo dos Estados Unidos, uma jovem herdeira de uma poderosa família da máfia é forçada a seguir três regras rigorosas para garantir sua liberdade: não se apaixonar, não se casar e evitar chamar a atenção. Quando um ataque violento coloca sua vida em perigo e sua família não pode resgatá-la, surge uma proposta inesperada de um poderoso líder rival: ele oferece proteção em troca de um casamento forçado. Enquanto luta para proteger os segredos perigosos de sua família, ela se vê cativada pelo charme sombrio de seu novo noivo. Conforme eles tentam construir uma relação em meio a segredos, sedução e perigos constantes, ela percebe que ele esconde mais do que revela. Enquanto os inimigos continuam a caçá-la, ele está determinado a destruir qualquer um que ameace o que considera seu.
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