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Lutando por Amor

Lutando por Amor

5.0
16 Capítulo
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Sinopse

Índice

Clarice fora criada na fazenda de Ilda Farrel. Desde criança era amiga de David, filho de Ilda. Para separá-los, Ilda mandou o filho estudar em outra cidade. Mas após oito anos o destino juntou-os novamente e as dores da infância voltaram, só que agora com a força da adolescência.

Capítulo 1 O reencontro

- E então, gostou das férias na casa de sua tia?

- Ah, mãe, lá é tudo tão lindo. Sempre que vou lá fico maravilhada. Mãe vi a mana e o Breno na rodoviária. Eles logo virão pra cá, e ela está grávida. Não é ótimo?

- É maravilhoso. Faz tempo que querem um filho. Você soube que David voltará?

- Não sabia.

- Pois é. E com a volta dele, o senhor Marcelo fará um baile aqui na fazenda. David virá com alguns amigos da universidade. Todos foram convidados.

- Devem ser todos uns metidos... Se forem como a senhora Farrel. Acho que não irei ao baile, mesmo tendo sido amiga de David na infância. Lembra como Ilda Farrel me tratava? Chegou até a proibir nossa amizade.

- Lembro o quanto você sofreu quando ele partiu.

- Ilda conseguiu o que queria. Tenho certeza que ela até comemorou nossa separação. Ela foi muito cruel, éramos duas crianças, eu tinha apenas dez anos.

- Se tivéssemos tido dinheiro, você também teria ido estudar em outra cidade.

- Mas eu gosto daqui. Eu não vou. E depois, David nem deve se lembrar de mim.

- E você, lembra dele?

- Às vezes sinto falta da nossa amizade. Ele era dois anos mais velho que eu, mas sempre me tratou como se tivéssemos a mesma idade. E quando é que ele chega?

- Hoje à noite.

- Ele deve estar metido, porque nas outras vezes que veio, nem saiu de casa.

- Mas parece que agora ele quer apresentar a namorada.

- Gente rica faz festas para qualquer coisa.

- Clarice, quase me esqueci, Ilda Farrel quer ver você. Pediu-me para avisá-la que deve ir à fazenda.

- O que aquela mulher quer comigo?

- Não sei. Mas você sabe como ela é. Vá logo ver o que ela quer.

- Depois eu vou. Agora vou tomar um banho. Estou muito cansada da viagem e só um banho me fará relaxar. Mande alguém avisar que logo eu vou.

- Filha, estamos na era do telefone... E olha ali – apontou para uma mesinha onde estava o telefone – temos um telefone aqui... Vou ligar para ela e avisar que você logo irá.

Após o banho, Clarice pegou sua bicicleta e foi ver o que a “toda poderosa” Ilda Farrel queria com ela.

Ilda Farrel já a esperava na varanda da fazenda, com aquela cara de quem é dona do mundo.

- Senhora Ilda, vim assim que soube que queria me ver. Em que posso ser útil?

- Vou direto ao assunto. Você já deve estar sabendo que meu filho chegará hoje e que daremos uma festa para ele.

- Sim, eu sei. E o que quer que eu faça?

- Que não venha a festa.

- Como assim? Pelo que sei todos os moradores e trabalhadores da fazenda foram convidados, inclusive minha família e eu.

- Sim, todos foram convidados, mas eu gostaria que você não viesse.

- Por que não?

- Você e David eram muito unidos e foi um grande sacrifício tirá-lo de perto de você quando eram crianças, e, depois, foi mais difícil ainda mantê-lo longe de você quando vinha nos visitar. Portanto, fique fora da vida dele, não venha a festa.

- Mas, senhora, ele nem vai notar minha presença, ele nem deve me conhecer mais, talvez nem se lembre de mim. E pelo que soube ele está namorando que risco eu ofereço?

- Você não vai me obedecer, não é?

- Juro que quando mamãe me contou sobre a festa eu disse que não iria, mas agora, a senhora está me fazendo mudar de ideia. Não gosto que me deem ordens. Eu sempre gostei muito do David e sei que ele também gostava de mim. Éramos muito amigos. E também quero vê-lo. Nunca esqueci aqueles dias.

- E é por isso que quero que você fique longe dele.

- Eu ainda não entendi o motivo que a senhora tem para impedir nossa amizade.

- Você é burra ou idiota? Você não percebe que são diferentes? De mundos diferentes? Ele é o herdeiro de tudo isso aqui – esticou o braço e girou-o no ar apontando a fazenda – E você é a filha de um empregado, apenas uma empregadinha sem eira nem beira. Entendeu agora?

Clarice engoliu em seco.

- Sim, senhora Farrel.

- Já que entendeu, irá me obedecer?

- A senhora só saberá disso na hora da festa.

- Não se atreva a me desafiar garota. Seus pais moram e trabalham em minha propriedade e será muito fácil convencer Marcelo a demiti-los.

- Está me ameaçando?

- Está evidente, não está?

- Pois saiba, senhora Farrel, que seus “problemas” - enfatizou com ironia - comigo não tem nada a ver com o serviço dos meus pais. E saiba também, que eles ainda trabalham aqui por amor à fazenda e por lealdade ao senhor Marcelo, porque temos dinheiro suficiente para nos manter e, além disso, vários fazendeiros da região fizeram propostas muito mais lucrativas que aqui. E, tem mais, não sei se a senhora sabe, mas temos uma casa na cidade, ou seja, a senhora realmente acha que minha família precisa do seu dinheiro para viver?

- Isso é verdade? Sobre a casa e outras propostas de emprego?

- É. Então acha mesmo que suas chantagens serão levadas a sério?

Uma chama de ódio crispou nos olhos azuis da patroa, que com a voz fria levantou o braço e apontou a rua

- Fora daqui. Mas saiba que nosso assunto ainda não acabou. Você vai se arrepender por ter me desafiado. E vai se arrepender muito mais se vier a festa.

Clarice fez uma reverência, subiu em sua bicicleta e saiu furiosa.

- Como ela pode achar que manda na vida das pessoas?

Clarice praguejava e xingava a proprietária da fazenda.

Tamanha era sua raiva que havia pegado o caminho errado.

Ao invés de pegar o atalho foi pela estrada principal, demoraria bem mais, pois teria que contornar o lago.

Estava tão furiosa que só viu o carro quando este freou bruscamente e soou a buzina.

Clarice levantou a cabeça e deixou um grito escapar.

- Deus não...

Freou sua bicicleta tão rápido quanto pode, esta derrapou nas pedrinhas e tombou.

- Droga. Como posso ser tão descuidada?

Olhava desolada sua bicicleta com a roda torta.

- Você está bem?

Um rapaz loiro de olhos azuis apavorado saiu da belíssima hilux.

- Estou, obrigada. Mas minha bicicleta não.

- Você é uma louca - alguém gritou de dentro do carro - Vamos embora David, estão nos esperando.

- Cale a boca, Ana. Carlos venha me ajudar aqui, por favor. – Olhou para Clarice e com a voz meiga falou – Ele é médico. Bom ainda não, mas está estudando para isso.

- Não precisa se preocupar estou bem.

- Isso eu é que direi, sua maluquinha.

Carlos examinou-a de cima a baixo, o que fez com que Clarice ficasse ruborizada.

Nunca havia sido tocada por nenhum homem. Já havia ido a consultórios médicos, mas seus pais faziam questão de que fosse sempre a médicas e não médicos.

- Qual o veredicto, doutor?

- Sabe que ainda não sou médico, David, mas ela está bem, foi só um susto e é claro, alguns arranhões. Você terá alguns hematomas, mas nada, além disso.

- Eu lhe disse que estava bem.

- Ela está bem? – gritaram novamente do carro.

- Está. Por quê?

- Se essa descuidada está bem, então vamos embora.

- Eu já disse que quero me certificar de que a moça está perfeitamente bem.

- Não se preocupe. Estou bem. Daqui a pouco eu me recupero do susto. Não quero dar trabalho.

- Não é trabalho nenhum. Mas, posso saber seu nome?

- Por quê?

- Oras, porque você está em vantagem. Já sabe meu nome e eu ainda não sei o seu.

- Clarice. Me chamo Clarice Gusmão. – disse de cabeça baixa não querendo encarar o amigo de infância.

- Eu não acredito... É você mesmo?

- Sim. Sou eu.

- Pitty... – abraçou-a com força.

- Ai...

- Oh, me desculpe esqueci do seu tombo, mas é que faz tanto tempo que não nos vemos.

- Oito anos. Achei que você nem lembrasse mais de mim.

- Eu só lembro de você assim – pegou a carteira e dela tirou uma foto dos dois quando criança – Esse dia foi o último de nossa infância.

- É verdade.

- Pitt, como você está linda.

- Obrigada. Fazia tempo que alguém não me chamava de Pitt. E você também está muito bonito.

- Senti muito a sua falta, Clarice.

- Eu também senti sua falta, David. – Abraçou-o – Mas você precisa ir. Sua mãe está esperando por você na fazenda. E seus amigos devem estar cansados da viagem. Você não deve perder tempo com uma empregada da fazenda. Eu já estou bem. – Levantou-se – veja, até posso andar – tentou dar um passo e cambaleou sendo amparada pelos braços de David.

- Eu vejo como está bem. Vou levá-la para sua casa.

- Não. Você deve ir pra casa. Sua mãe o espera.

- Como sabe que ela me espera? Esteve com ela?

- Sim, estava vindo de lá.

- O que ela queria?

- Nada demais.

- Nada demais? Eu conheço minha mãe, Clarice. Por que não me conta o que aconteceu?

- David, não aconteceu nada. Foi muito bom rever você depois de todo esse tempo, mas eu realmente tenho que ir.

- David, querido – novamente alguém gritou do carro – estamos atrasados. Já estou cansada de esperar. Ela não disse que está bem? Vamos embora.

- Ana, se eu tiver que pedir pra você calar a boca novamente eu te juro que você volta para a cidade a pé. - Olhou para Clarice – Desculpe ter gritado, ela às vezes me tira do sério.

- Ela tem razão. Estou bem. Você deve levar seus amigos para sua casa. Não quero tomar mais seu tempo.

- Clarice você não toma meu tempo. Temos muito que conversar. Afinal fazem oito anos que não nos vemos.

- Outro dia, sua namorada está esperando por você. Vá David.

- Ela não é minha namorada.

- David, eu já vou indo, minha mãe deve estar preocupada.

- Deixa eu te levar.

- Não. Vá com eles. Eles são seus amigos e devem estar cansados.

Pegou a bicicleta e virou-se, mas não havia dado dois passos quando foi puxada pelo braço.

- David, eu preciso ir.

- Eu fiquei oito anos imaginando como você estava, como tinha crescido, se havia mudado muito, então, não fuja de mim, vamos conversar.

- Hoje não. Você nem chegou em casa ainda, precisa levar seus amigos e descansar e eu também preciso descansar, também cheguei hoje de viajem.

- Por que está fugindo de mim?

- Não estou fugindo, só que essa não é a hora certa para conversarmos. Seus amigos o aguardam.

- Você é minha amiga. Eles podem esperar.

- Não. Vá com eles. Por favor. Não quero problemas.

Clarice soltou-se e saiu deixando-o parado.

- Eu vou te procurar. Vamos nos encontrar de novo e então não fugirá de mim. Temos muito o que conversar.

Em resposta obteve apenas um aceno.

Sem poder subir na sua bicicleta, ela teria que andar os quatro quilômetros que faltavam para sua casa e o pior é que estava com dor no pé e tinha que carregar a bicicleta, mas não iria aceitar a carona dele.

Sem olhar pra trás, começou a caminhar com dificuldade, apoiando-se na bicicleta.

Ouviu Ana chamar David mais uma vez, e em seguida o barulho do motor do carro. Ainda pode ouvir Carlos chamá-la de caipira seguido por uma sonora gargalhada.

Não teve coragem de olhar para trás, mas sentia que, mesmo com o carro em movimento, olhavam para ela.

Clarice nunca tinha sido tão humilhada daquele jeito.

Primeiro Ilda Farrel e depois, os amigos de David Farrel.

Uma hora e meia depois ela finalmente chegou a sua casa e se deparou com o olhar preocupado da mãe.

- Clarice, querida, o que aconteceu? Por que está empurrando a bicicleta?

- Ah, mãe foi horrível. Primeiro aquela mulher maldosa me ameaçou, depois peguei o caminho errado, esqueci do atalho e quase fui atropelada por David Farrel e seus amiguinhos.

- Você se encontrou com David? E como ele está? Metido?

- Não, ele parece o mesmo de antigamente. Até me ajudou quando cai da bicicleta. Queria me trazer pra casa.

- E por que recusou a carona?

- Mãe, ele estava com uns amigos e com a namorada eu não quis atrapalhar.

- E o que Ilda queria com você?

- Adivinha? Ela ordenou que eu não fosse à festa de amanhã à noite e que fique longe de David. Ela até ameaçou demitir a senhora e o pai se eu for à festa.

- E o que você fez?

- Desarmei a bruxa. Disse que estamos aqui porque vocês são leais ao seu Marcelo, que temos uma casa na cidade, que recebemos propostas mais lucrativas de outros fazendeiros, essas coisas.

- Você ficou louca? Não deve desafiá-la.

- Mãe eu nunca tive medo dela. Só vou ficar longe de David se ele quiser isso. Não vou ficar longe dele porque ela mandou.

- Você é muito impulsiva. Isso ainda lhe trará problemas.

- Não se preocupe, mãe, eu sei me cuidar. Agora vou tomar outro banho pra tirar esse pó todo e limpar esses arranhões.

No banho, Clarice lembrou o desastroso encontro com David.

- É sua bruxa, queria me manter afastada de seu filhinho, mas não foi o que aconteceu... Pelo menos uma coisa boa tinha acontecido, ela tinha revisto David sem que Ilda pudesse fazer nada para impedir...

Ao lembrar de David, um repentino calafrio percorreu sua coluna. O que estava acontecendo? Nunca havia sentido aquilo antes.

- O que foi isso? Clarice – disse para si mesma – Não vá se meter em confusão...

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