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A Babá Perfeita

A Babá Perfeita

4.9
34 Capítulo
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Sinopse

Índice

Já passava das seis horas da tarde quando cheguei em casa. Tirei minhas botas e as atirei pela sala, me jogando com tudo no sofá. Depois da faculdade, passei o dia fora procurando emprego, mas encontrar alguma coisa estava mais difícil que nunca. Estava frustrada, minha cabeça doía e eu andava mais cansada que o normal.

Capítulo 1 Capitulo 1

Já havia tomado duas garrafinhas de água mineral e ainda assim, o suor insistia em correr incansavelmente por meu rosto. Já estava a mais de duas horas percorrendo as ruas do Rio de Janeiro em busca de emprego e sob o calor de 40º graus, cheguei a perder as contas de quantos currículos deixei. O sol estava escaldante e me arrependi por não ter passado protetor solar na minha pele quando sai de casa pela manhã, provavelmente mais tarde, se tornaria impossível me distinguir de um camarão.

Mais tarde, enquanto voltava para casa, frustrada por não ter conseguido nada, meu olhar divagou para a rua ao lado e me peguei observando algumas pessoas que estavam sentadas em uma sorveteria, se refrescando com Sundaes deliciosos. Sim, eu poderia ter parado para tomar um, mas enquanto não conseguisse emprego, eu não poderia me render a esse luxo.

Estava desempregada a quase um mês e apesar de não ganhar muito como vendedora em uma loja de roupas, eu conseguia me manter e também pagar minha faculdade de Psicologia, mas se não conseguisse um emprego até a próxima mensalidade chegar, eu seria forçada a trancá-la e de maneira alguma eu queria ver as coisas chegarem a esse ponto.

Eu havia me mudado para o Rio de Janeiro exatamente no começo do ano. Havia conseguido ganhar uma bolsa de estudos de 50% na PUC e não poderia perder a oportunidade que havia recebido de ingressar em uma ótima faculdade. Admito que a princípio não foi fácil deixar minha família em Goiânia e ter que me mudar para tão longe, mas acho que me adaptei bem.

Assim que cheguei, aluguei uma casinha simples, bem distante do centro da cidade, tão distante que para chegar até a faculdade, precisava pegar três ônibus diferentes. O problema é que o aluguel já estava atrasado a um mês e a qualquer momento, o dono da casa poderia me colocar no olho da rua.

Cheguei em casa por volta das cinco horas da tarde, depois de ter pego dois ônibus diferentes. A casa em que morava era bem simples, era murada, com um portão de grades que levava a uma pequena varanda na frente, com alguns vasos de flores que já estavam ali quando me mudei, possuía uma sala, cozinha, um banheiro, um quarto e um jardim no fundo, era toda mobiliada e apesar de os móveis já estarem um pouco velhos e de vez em quando eu tomar alguns choques acidentais na geladeira que já estava toda enferrujada ou ficar presa nas enormes crateras que havia no estofado do sofá, eu gostava de estar ali.

No fim da tarde, tinha o costume de me sentar na varanda da frente e ficar olhando as estrelas no céu, o que só era possível ali, já que no centro, a vista era impossibilitada pelos grandes prédios.

Depois de destrancar a porta, deixei minha bolsa sobre a estante, bem ao lado da televisão e me joguei no sofá. Minha cabeça latejava e minhas pernas doíam tanto que parecia que eu havia acabado de correr uma maratona.

Cuidadosamente tirei minhas botas e mexi os dedos dos meus pés para me certificar de que eles ainda estavam inteiros. Estendi minha mão e apanhei minha bolsa, procurando por um dorflex, com um pouco de água que ainda restava na garrafa mineral, tomei um comprimido.

Apanhei meu celular e notei que haviam oito chamadas perdidas, era Vanessa, minha melhor amiga. Toquei na tela ligando para ela:

— Finalmente Sofia, pensei que tivesse sido assaltada! Liguei para você o dia todo! Onde estava? -Disse preocupada.

— Oi Vanessa, me desculpe, passei o dia inteiro fora procurando emprego, só cheguei em casa agora. –Ao falar, apresentei estar mais exausta do que o normal.

— Alguma boa notícia?

— Na verdade não, deixei um currículo em todos os lugares pelos quais passei, mas não acho que nenhuma das empresas que visitei vai me telefonar. Estou tão preocupada, não quero ter que trancar a faculdade. - Respondi sentindo toda a minha esperança se esvair.

— Sofia, já lhe disse que se quiser meu pai pode te ajudar. –O pai de Vanessa era banqueiro e sua mãe era advogada, eles tinham boas condições de vida e apesar do grande abismo social que havia entre nós, isso nunca foi um empecilho na nossa amizade.

— Sério Vanessa, agradeço demais o que você está me oferecendo, mas não posso aceitar, sou muito orgulhosa para desistir tão fácil assim, amanhã mesmo vou aproveitar que não temos aula na faculdade e vou sair bem cedo para procurar emprego.

— Queria tanto poder te ajudar... -Ela parecia se sentir impotente do outro lado da linha.

— Eu sei, mas não se preocupe, sei que vou conseguir encontrar

algo.

— Você já visitou algumas daquelas agências que te ajudam a

encontrar emprego? Geralmente surgem vagas como de assistente pessoal, babá. Essas coisas. Sei que você queria algo melhor, mas quem

sabe. -Uma pontinha de esperança pareceu ressurgir dentro de mim.

— Amiga, na situação em que estou, qualquer coisa que aparecer vai ser muito bem-vinda.

Pensei no conselho de Vanessa e depois de algumas buscas na internet, encontrei uma dessas agências no centro da cidade, teria de enfrentar outra maratona e um transporte público lotado, provavelmente pela noite meus pés me matariam, mas agora eu estava mais confiante do que nunca, era como se sentisse que dessa vez minha caminhada não seria em vão.

Enquanto pesquisava no notebook, deitada em minha cama, acabei sendo vencida pelo cansaço e adormeci antes que percebesse.

CAPÍTULO 2 – SOFIA

Na manhã seguinte, acordei por volta das cinco da manhã e mesmo com todo meu corpo doendo, me esforcei para conseguir sair da cama, teria de pegar uns dois ônibus para chegar até a agência. Por algum motivo, chegar mais cedo parecia aumentar minhas chances de conseguir algo.

Depois de uma ducha, peguei uma calça jeans no guarda-roupas e uma camiseta preta as vestindo, calcei minhas botas e fiz um rabo de cavalo no cabelo. Peguei minha bolsa e desci para a cozinha.

Preparei um café forte para conseguir vencer o dia e tranquei o portão da casa:

— Vai dar tudo certo desta vez. -Disse para mim mesma, enquanto guardava as chaves em minha bolsa e caminhava até o ponto de ônibus.

Peguei o primeiro ônibus às cinco e quarenta da manhã e o segundo às sete e meia. Para chegar até a agência tive de caminhar mais um pouco, chegando lá exatamente as oito da manhã.

Por mais que eu tivesse tentado chegar cedo, o local já estava lotado de pessoas. Devia ter imaginado que eu provavelmente não seria a única pessoa desempregada no Rio de Janeiro. Peguei uma senha e me sentei aguardando minha vez.

Depois de quase uma hora, uma atendente chamou o número que eu tinha em mãos:

— Bom dia, no que posso ajudá-la? -Ela perguntou, enquanto eu me sentava a sua frente.

— Bom dia, estou precisando muito de um emprego. -Era óbvio, todos ali estavam, mas do jeito que eu falei, fiquei parecendo mais desesperada que todos.

— Tem alguma preferência? Algo específico que queira fazer? -Ela perguntou, digitando algo no computador.

— Não exatamente, o que aparecer, para mim está ótimo.

— Tem experiência com crianças?

— Acho que posso dizer que sim, era eu quem cuidava da minha irmã mais nova.

— E com idosos?

— Acho que sim.

— Você fuma, bebe ou usa drogas?

Balancei a cabeça em negativa, seriam aquelas perguntas padrões?

— Não.

— Pode me dizer o seu nome?

— Sofia Montenegro.

— Está com seus documentos aí, Sofia?

— Claro, só um instante. -Depois de entregar meus documentos a atendente, ela teclou durante mais alguns instantes no computador, provavelmente estava preenchendo uma ficha.

— Pronto, Sofia -Ela me entregou meus documentos- Telefonaremos para algumas pessoas e caso algumas delas se interessem pelo seu perfil nós as informaremos.

— Está bem, obrigada.

Quando sai da agência, rezei para que eles me telefonassem o mais rápido possível, mas como não podia contar apenas com a sorte, aproveitei que já estava ali para deixar mais currículos. Porém, mas uma vez, não tive nenhuma resposta positiva.

Cheguei mais tarde em casa desta vez. Estava mais cansada do que nunca, a dor de cabeça insistia em permanecer e meus pés estavam mais doloridos do que no dia anterior. Também estava morta de fome, não havia engolido nada o dia todo.

Preparei um sanduíche com alguns ingredientes que encontrei na geladeira e me sentei no sofá, tentando finalizar um trabalho da faculdade ao mesmo tempo em que comia, o que não me impediu de derramar alguns farelos de pão sobre o meu notebook.

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