Ele e meu pai se uniram para me humilhar. Leiloaram o colar da minha mãe, a única lembrança que eu tinha dela, e Fabrício deixou Jessica destruí-lo na minha frente. Ele gravou nossos momentos íntimos para me chantagear e até me entregou à polícia para ser espancada.
"Você é minha, Taisa! Minha!", ele gritou, desesperado, quando tentei fugir.
Mas a dor me deu clareza. Eu não era mais a vítima.
Grávida e presa em sua ilha particular, fingi submissão. Usei seu amor pelo nosso filho e sua arrogância para planejar minha fuga. Agora, com o motor da lancha roncando sob a escuridão, eu finalmente estava livre, deixando para trás o homem que me quebrou e carregando a única coisa que importava: meu filho e minha liberdade.
Para o mundo, eu era Taisa Leitão, a herdeira rebelde e radiante de um império do agronegócio. Por trás das portas fechadas, eu era "Minha Joia", um segredo guardado por Fabrício Rolim, o homem que me possuía todas as noites. O contraste entre essas duas vidas era tão gritante quanto a luz do sol e a escuridão.
Capítulo 1
O cheiro dele ainda estava na minha pele, uma mistura inebriante de tabaco caro e poder. Meus músculos ainda ardiam da intensidade dos seus toques, das promessas sussurradas em meu pescoço. Cada carícia dele era uma posse, cada beijo, uma marca. E eu, como uma tola, ansiava por cada uma delas.
O despertador tocou, quebrando a bolha da nossa cumplicidade. Ele se levantou, os movimentos habituais, sem pressa, mas com uma determinação fria. "Jessica está me esperando", disse ele, a voz rouca, mas sem a doçura de segundos atrás. Era sempre Jessica. Sempre a "obrigação".
Minha mão esticou-se instintivamente, procurando a dele. "Fica mais um pouco, Fabrício", sussurrei, a voz quase inaudível. "Só mais alguns minutos?" Meu coração batia forte, implorando por um gesto, uma hesitação.
Ele virou apenas o rosto, os olhos escuros sem brilho. "Você sabe que não posso, Taisa. Tenho responsabilidades." A frase era um fantasma, repetida tantas vezes que já não tinha significado. Ele soltou minha mão, um toque breve, sem emoção, e saiu do quarto.
O vazio que ele deixou era palpável, um buraco frio na cama que antes dividíamos. A solidão me atingiu como um soco no estômago. Aquela foi a última noite. Eu decidi.
Levantei-me, o corpo ainda dolorido pela noite de paixão, mas a mente estava clara como cristal. Peguei meu celular e liguei para a única pessoa que poderia me tirar daquele inferno. "Pai, quero me casar", declarei, a voz surpreendentemente firme. "Com o Leandro Gagliardi."
Houve um silêncio do outro lado da linha, depois uma gargalhada rouca e satisfeita. "Minha filha, finalmente você está usando a cabeça", Albano Canto, meu pai, respondeu. "Mas por que Leandro? Pensei que o odiasse."
"Ele tem o que você precisa", retruquei, ignorando a pontada de veneno em sua voz. "Uma aliança com o cartel do Rio. Me case com ele e salve sua empresa. Mas com uma condição: você me deixará em paz depois disso. Nenhuma interferência. Nunca mais."
Meu pai nem hesitou. "Feito, minha filha. Você terá tudo o que quiser. O casamento será em duas semanas." Ele estava radiante. Sua voz transbordava de alegria, uma alegria que nunca dedicou a mim, apenas aos seus negócios. Ele me via como uma peça de xadrez, e eu, como uma tola, estava disposta a ser movida por ele mais uma vez.
Enquanto ele falava sobre os detalhes do arranjo, o celular de Fabrício, que ele havia esquecido na mesinha de cabeceira, vibrou. Um "ping" suave anunciou uma nova mensagem. Meu olhar caiu sobre a tela acesa. Em cima, o nome 'Jessica'. Embaixo, uma frase simples, mas que rasgou meu peito. 'Estou tão feliz que você vai ficar comigo hoje, meu amor. Mal posso esperar para te contar a novidade.'
Meu sangue gelou. A voz do meu pai, antes tão clara, tornou-se um zumbido distante. O mundo ao meu redor girou. Jessica. Era sempre Jessica. Não uma "obrigação", mas um "meu amor". A facilidade com que ele a chamava assim, a naturalidade da intimidade naquele texto, era um golpe mais doloroso do que qualquer tapa.
Lembrei-me dos dias em que ele me tratava como um fardo, das noites em que ele me deixava sozinha, da sua frieza calculada. Mas com ela? 'Meu amor'. A diferença era brutal. Meu estômago revirou, e eu senti a bile subir pela garganta. A dor era tão intensa que quase me fez vomitar ali mesmo.
Fabrício nunca havia me chamado de 'meu amor'. Para ele, eu era 'Minha Joia', um apelido que ele sussurrava com desejo, mas que agora soava vazio, sem afeto. Eu era um objeto precioso, talvez, mas não amado. Jessica era o amor. Era por ela que ele demonstrava a verdadeira ternura. Eu podia ver isso em cada linha da mensagem.
Meu coração, que antes ansiava por um gesto de carinho dele, agora se apertava em uma mistura de raiva e humilhação. Eu precisava saber. Precisava ter certeza para extinguir qualquer resquício de esperança que ainda queimava em meu peito. Peguei meu carro, as mãos tremendo no volante, e segui Fabrício.
A noite parecia zombar da minha dor. As luzes da cidade brilhavam, mas meus olhos só viam escuridão. Eu o segui até um bairro familiar, uma casa que eu conhecia bem. Uma casa onde ele me levava secretamente, sob o pretexto de ser um lugar seguro para nossos encontros proibidos.
Ele entrou, e eu esperei. Minutos se arrastaram como horas. Então, a cortina da sala se abriu, revelando a cena que selaria meu destino. Fabrício estava ali, não com a frieza que me dedicava, mas com um sorriso suave, um braço envolto na cintura de Jessica. Ela encostava a cabeça em seu ombro, os olhos fechados em um contentamento que eu nunca havia visto nele. E então ele beijou o topo da cabeça dela, um gesto de carinho, de posse, que me rasgou por dentro. Ele a amava. E eu era apenas um passatempo.
A imagem deles, tão próximos, tão carinhosos, repetiu-se em minha mente, uma tortura sem fim. Fabrício Rolim. O homem que meu pai havia contratado para me "disciplinar". Eu, Taisa Leitão, a adolescente selvagem e indomável, filha única de Albano Canto, o magnata do agronegócio. Meu pai, sempre mais preocupado com seus negócios do que com a própria filha, havia me entregue a Fabrício, o sucessor estoico de uma facção criminosa de São Paulo, para que ele me transformasse em uma "dama".
Eu odiava Fabrício desde o primeiro olhar. Seus olhos frios, sua postura controlada, seu ar de superioridade. Eu o provocava, o desafiava, buscava cada oportunidade para testar seus limites, para quebrar sua fachada de autocontrole. Eu o xingava, o desobedecia, fugia das aulas de etiqueta que ele tentava me impor. Eu queria que ele me odiasse, queria que ele me devolvesse ao meu pai, que admitisse sua falha. Mas ele nunca o fez.
Ele manteve a calma, sempre com um olhar divertido no fundo de seus olhos. Até aquela noite. Eu havia invadido seu escritório, furiosa com mais uma de suas regras estúpidas. Comecei a jogar tudo no chão, gritando que ele não era meu dono. Ele me pegou pelos braços, a raiva finalmente brilhando em seus olhos escuros. "Você não é minha dona", ele rosnou, o hálito quente em meu rosto. "Mas você é minha. E vou te mostrar o que acontece quando você me desafia." E então ele me beijou. Um beijo brutal, possessivo, que me calou e me incendiou ao mesmo tempo.
A partir daquela noite, o ódio se transformou em uma paixão secreta e proibida. Durante dois anos, Fabrício e eu fomos amantes. Ele me ensinou sobre poder, sobre controle, sobre o lado sombrio do mundo que meu pai tentava me esconder. Eu me apaixonei por ele, por sua intensidade, por sua complexidade. Acreditava, ingenuamente, que ele me amava de volta, à sua maneira tortuosa.
Mas a realidade era um balde de água fria. Meu aniversário de 25 anos. Eu esperava um gesto, uma palavra, algo que mostrasse que eu era mais do que um segredo. Ele não apareceu. Naquele mesmo dia, vi nas redes sociais fotos de Fabrício em um evento de gala, sorrindo abertamente para Jessica. Ela estava deslumbrante, pendurada em seu braço como se fosse sua legítima.
A raiva me consumiu. Quebrei cada espelho do meu quarto, o reflexo distorcido da minha dor caindo em pedaços. Rasguei vestidos caros, joguei joias pela janela. Meu mundo se despedaçava. Fabrício apareceu horas depois, atraído pelo barulho ou talvez pela intuição. Ele me viu, em meio aos estilhaços, o corpo tremendo, o rosto manchado de lágrimas e pó de maquiagem. Ele não disse uma palavra. Não me abraçou. Apenas seu olhar frio avaliou a destruição, e em seus olhos, pela primeira vez, vi desprezo.
Naquele momento, tudo se encaixou. Ele nunca me amou. Eu era apenas um meio, uma vingança, uma lição. A percepção me atingiu como um raio. O homem que me chamava de "Minha Joia" me via apenas como um brinquedo descartável. Jessica era a prioridade. Sempre foi. E eu, a tola, demorei dois anos para enxergar.
A dor era insuportável, mas com ela veio uma clareza gelada. Eu não seria mais a vítima. Eu não seria mais a tola. Eu não seria mais "Minha Joia".
No dia seguinte, a mansão Leitão estava em polvorosa. Meu pai havia convocado uma reunião de família, o que era raro. Entrei na sala de jantar, onde ele e sua amante, a vulgar e recém-legitimada Gabriela, sentavam-se à mesa, com Jéssica entre eles, sorrindo com a inocência fingida que eu já conhecia bem.
"Taisa, você está atrasada", meu pai disse, a voz embargada pela autoridade, mas seus olhos brilhavam de satisfação.
"Tarde para quê?" Eu me sentei, a postura ereta, o olhar fixo nele. "Para ouvir suas últimas ordens?"
"Chega de insolência, menina", Gabriela interveio, sua voz irritante. "Seu pai tem notícias importantes."
Ignorei-a. "Notícias? Ou mais uma de suas maquinações, papai?"
Ele bateu na mesa. "Taisa! Basta! Jéssica é sua irmã. E eu decidi que ela terá uma parte justa da herança. Você se casará com Gagliardi e garantirá a aliança. Sua parte na empresa será reduzida."
Uma risada amarga escapou dos meus lábios. "Minha irmã? Aquela que você escondeu por anos com sua amante barata?" Eu apontei para Jessica, que vacilou. "Você me usou como moeda de troca, pai. Sempre foi assim, não é? Desde que mamãe se foi, eu sou apenas uma ferramenta para seus negócios."
"Como ousa falar assim do seu pai!", Gabriela gritou.
"Cale a boca, vadia", eu respondi, os olhos fixos nos de Albano. "Você sabe que é verdade. E Fabrício? Ele também é parte do seu plano? O homem que você pagou para me 'disciplinar' e que agora está com sua 'filha'?"
O rosto do meu pai empalideceu. A sala caiu em um silêncio tenso. Ele não esperava que eu soubesse.
"Fabrício Rolim nunca me amou", continuei, a voz cheia de veneno. "Ele estava apenas me usando, assim como você me usou. Tudo planejado. Tudo uma farsa. Não sou mais sua boneca, pai. Não sou mais a 'Minha Joia' de ninguém."
Albano se levantou, o rosto vermelho de raiva. "Você está deserdada, Taisa! Não terá um centavo meu! Nem um pedaço da empresa! Vá embora!"
Eu me levantei, a cadeira raspando no chão. "Ótimo. É exatamente o que eu queria. Adeus, papai. E adeus, irmãzinha. Divirtam-se com o que restou."
Saí da sala sem olhar para trás. Minha mala, já feita, estava na porta. Não havia mais nada para me prender ali. A casa, antes meu lar, agora era uma prisão. Não derramei uma lágrima.
Entrei no meu carro e dirigi sem rumo pela cidade até o meu antigo apartamento, um refúgio que eu mantinha em segredo. Uma vez lá, a máscara caiu. As lágrimas vieram, um dilúvio incontrolável de dor, raiva e humilhação. Eu não chorei por meu pai, nem pela herança. Eu chorei por Fabrício. Chorei pela mulher ingênua que eu havia sido, que acreditava no amor, mesmo que fosse um amor tóxico. Eu chorei pela "Minha Joia" que ele havia destruído.
Na manhã seguinte, meus olhos estavam inchados, mas minha alma estava fria. Desci para a garagem do prédio, pronta para buscar o resto das minhas coisas. Mas quando o elevador se abriu, Jéssica estava ali, parada na frente da minha porta, com uma maleta de viagem ao seu lado. Ela sorriu para mim, um sorriso doce, mas seus olhos dançavam com uma malícia que eu nunca tinha visto antes.