Eu estava secretamente grávida, parte de um acordo bilionário de barriga de aluguel para conseguir o dinheiro para o tratamento dela. Quando implorei, mostrando-lhe o ultrassom, sua resposta foi gélida.
"Se livra disso."
Com minha avó morta e meu coração destruído, eu finalmente desisti. Ele sempre acreditaria nas mentiras de sua amante - minha irmã - que havia roubado o crédito por salvá-lo.
Então, interrompi a gravidez, assinei os papéis do divórcio e paguei um médico para apagar todas as memórias dele. Agora, ele está diante de mim, um homem quebrado implorando por perdão, mas eu só consigo olhar em seus olhos cheios de lágrimas e perguntar: "Desculpe, quem é você?"
Capítulo 1
Ponto de Vista de Alice Ferreira:
As luzes azuis e vermelhas piscando pintavam minha sala de estar em uma dança distorcida, assim como a mentira que se tornou minha vida, assim como a mentira que Caio Medeiros acreditava sobre mim. Dois policiais, com rostos sombrios sob o brilho forte da viatura, estavam na minha porta, sua presença uma invasão ao próprio ar que eu respirava. Meu coração martelava contra minhas costelas, um pássaro preso desesperado para escapar. Eu sabia por que eles estavam aqui. Ele sempre levava sua crueldade a novos patamares.
Meu olhar se desviou para os restos estilhaçados da caixinha de música de porcelana da minha avó. Ela jazia no chão de mármore, mil cacos delicados refletindo as luzes piscantes como sonhos quebrados. A pequena bailarina, que antes piruetava graciosamente, agora era apenas um torso sem cabeça, seu sorriso pintado uma zombaria da minha própria agonia interna. Ele a havia atirado, momentos antes, com um movimento casual do pulso. Era um lembrete cruel de como ele podia quebrar facilmente qualquer coisa que eu amava.
"Alice, que diabos você estava pensando?" A voz de Caio cortou o ar, afiada e fria como um vento de inverno. Ele estava perto da lareira, seu terno de grife perfeitamente passado, sua postura irradiando uma arrogância que fazia meu estômago se contrair. "Tentando me drogar? Você está realmente tão desesperada assim?" Suas palavras eram gelo, e elas me perfuraram, congelando a pouca esperança que me restava. Minhas bochechas queimaram de vergonha, não pelo que eu tinha feito, mas pelas acusações que ele lançava.
Uma dor aguda e lancinante explodiu em meu estômago, uma dor familiar que tinha sido minha companheira constante nos últimos meses. Ela se torcia e revirava, uma manifestação física dos nós emocionais dentro de mim. Pressionei a mão contra meu abdômen, tentando estancar a ferida invisível, mas era inútil. A dor só se intensificou, lembrando-me de todas as noites que passei encolhida no chão do banheiro, me abraçando, rezando para que parasse.
Engoli em seco, o gosto de cinzas na boca. Eu queria gritar, revidar, dizer a ele como estava errado, mas uma vida inteira de contenção me ensinou o silêncio. Pela minha avó, eu dizia a mim mesma. Pelas contas médicas dela. Eu havia construído muros ao redor do meu coração, tijolo por tijolo doloroso, para resistir aos seus ataques. Mas às vezes, uma única palavra dele podia derrubar todos eles. Eu apenas fiquei ali, minha respiração presa na garganta, tentando me recompor.
"Olhem para ela", Caio zombou, gesticulando em minha direção com um aceno desdenhoso, seus olhos desprovidos de calor. "A imagem da inocência. Não se deixem enganar, policiais. Ela é uma mestra da manipulação." Suas palavras foram feitas para ferir, e feriram. Cada sílaba era um novo corte, sangrando nas feridas abertas que ele já havia infligido. Ele se alimentava da minha dor, de me fazer sentir pequena e inútil.
"Eu não te droguei, Caio", finalmente consegui sussurrar, minha voz rouca. Meus olhos suplicavam a ele, procurando por qualquer lampejo de reconhecimento, qualquer indício do homem que eu um dia pensei que ele poderia ser. "Era... era apenas chá de camomila. Para te ajudar a relaxar. Era para o nosso aniversário." As palavras soaram vazias, até para mim. Ele não acreditaria em mim. Ele nunca acreditava.
Ele soltou uma risada desdenhosa, um som que irritou meus nervos. "Aniversário? Você realmente achou que eu esqueceria que você me prendeu nesta farsa de casamento? Me separou da Carla?" Sua mandíbula se contraiu, e seus olhos, geralmente tão cativantes, eram agora poças de ódio gelado. "Você é delirante, Alice. Sempre foi." Ele estava tão consumido por sua narrativa distorcida que não havia espaço para a verdade.
Eu tentei de novo, desesperada. "Não, Caio, por favor, apenas escute. Não foi assim. A Carla-"
Ele me cortou, sua voz se elevando, venenosa. "Não ouse falar o nome dela! Você não é digna! Você achou que poderia me enganar, assim como enganou todo mundo para pensar que você é algum tipo de santa. Mas eu vejo através de você, Alice. Sempre vi." Ele deu um passo mais perto, sua sombra se projetando sobre mim, me fazendo sentir ainda menor.
Então ele se virou para os policiais, uma expressão assustadoramente calma em seu rosto. "Policiais, esta mulher me agrediu. Ela tentou me drogar e, quando eu recusei, ela se tornou violenta. Eu vou prestar queixa." Minha respiração falhou. Agressão? Ele não podia estar falando sério. Minhas pernas pareciam gelatina, ameaçando ceder sob mim.
"Agressão?" Eu ofeguei, minha voz quase inaudível. A palavra pairou no ar, pesada e sufocante. Minha mente girava, tentando processar a pura audácia de sua mentira. Como ele pôde? Como ele pôde se rebaixar tanto? A traição me atingiu com a força de um golpe físico, me deixando sem fôlego. Este era um novo nível de crueldade, mesmo para ele.
Uma das policiais, uma mulher de rosto severo, deu um passo à frente. "Senhora, precisamos que venha conosco." Ela alcançou meu braço, seu toque firme, mas não cruel. A realidade da situação desabou sobre mim, pesada e inescapável. Eu ia ser presa. Por causa dele.
"Não, por favor", sussurrei, puxando meu braço para trás instintivamente. Meus olhos se voltaram para Caio, implorando silenciosamente para que ele parasse com essa loucura. Minha dignidade, já em farrapos, parecia estar sendo rasgada em pedaços. A vergonha era um inferno ardente, me consumindo de dentro para fora. Meu rosto ficou quente, lágrimas ardendo em meus olhos, ameaçando transbordar.
"Não resista, Alice", disse Caio, sua voz tingida de falsa preocupação, uma torção cruel da faca. "Você só está piorando as coisas para si mesma. Todos saberão o que você realmente é agora." Suas palavras eram uma execução pública, e eu era a condenada.
Antes que os policiais pudessem reagir, Caio pegou o celular. Ele discou rapidamente, seu olhar fixo em mim, um brilho malicioso em seus olhos. "Vovó, sou eu. A Alice acabou de me atacar. Ela tentou me drogar. Estou chamando a polícia." Meu sangue gelou. Vovó. Minha pobre e frágil avó. Ele sabia o quanto ela significava para mim, quão delicada era sua saúde. Este foi um golpe deliberado e calculado.
"Não!" Eu gritei, um som cru e animalesco arrancado da minha garganta. Eu me lancei para frente, meu desespero superando todo o senso de autopreservação. "Não se atreva! Ela está doente! Você vai matá-la!" Minhas mãos, trêmulas, alcançaram seu telefone, desesperadas para arrancá-lo, para parar as palavras que certamente quebrariam seu coração, que poderiam até mesmo quebrá-la por completo.
Um policial me agarrou, me puxando para trás com uma força surpreendente. Meu pulso torceu dolorosamente, um estalo agudo ecoando na sala silenciosa. Eu gritei, um soluço estrangulado escapando dos meus lábios. A dor foi imediata, lancinante, mas nada comparada à agonia em meu peito. "Por favor, Caio! Não faça isso! Por favor!" Minha voz falhou, lágrimas escorrendo pelo meu rosto, embaçando minha visão. Minha avó era tudo o que me restava, e ele estava tirando até isso de mim.
Ele simplesmente me encarou, seus olhos desprovidos de emoção. "É tarde demais, Alice. Ela merece saber o tipo de monstro que você realmente é." Ele terminou a ligação, um sorriso de escárnio brincando em seus lábios, depois olhou para os policiais. "Levem-na." Sua voz era assustadoramente calma, como se estivesse discutindo o tempo. Ele então me deu as costas, afastando-se sem um olhar para trás, desaparecendo nas sombras da mansão. O clique da porta se fechando atrás dele soou como a tampa de um caixão se fechando.
Os policiais me levaram para fora, meus membros pesados e sem resposta. Minha mente corria, frenética, tentando encontrar uma maneira, qualquer maneira, de avisar minha avó. Eu procurei meu próprio telefone, meus dedos desajeitados de medo e dor. Eu tinha que ligar para ela. Ela precisava ouvir minha voz, não suas palavras envenenadas. Eu tinha que fazer isso.
Quando minha tia chegou à delegacia, seu rosto pálido e abatido, a notícia já havia se espalhado. Ela correu em minha direção, seus olhos cheios de uma mistura desesperada de amor e terror. "Alice, querida, o que aconteceu? A vovó... ela desmaiou." Suas palavras foram um baque surdo contra meu coração já fraturado. O mundo girou.
Meus muros cuidadosamente construídos se estilhaçaram completamente. Eu me curvei contra o banco de metal frio, lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto, meu corpo sacudido por soluços incontroláveis. "Ele contou para ela", eu engasguei, as palavras presas na minha garganta. "Ele contou mentiras para ela. É minha culpa. É tudo minha culpa." A culpa era um cobertor sufocante, pesado e inescapável.
Um policial uniformizado, um homem corpulento com olhos desaprovadores, se aproximou de nós. "O advogado da sua avó está aqui, dizendo que você é uma interesseira, fazendo falsas alegações para explorar a riqueza dela." Sua voz era monótona, acusatória. "E sua irmã, Carla, já deu uma declaração corroborando a versão do Sr. Medeiros." As palavras me atingiram como um golpe físico. Carla. Minha própria irmã. Ela se juntou a ele neste jogo distorcido.
"Isso é mentira!" minha tia gritou, sua voz tremendo de indignação. Ela apertou o peito, seu rosto ficando num tom alarmante de vermelho. "A Alice nunca faria-" Ela ofegou, seus olhos arregalados de dor, lutando para respirar.
Antes que ela pudesse terminar, um enxame de repórteres desceu sobre a delegacia como urubus, suas câmeras piscando, seus microfones enfiados agressivamente em nossos rostos. "Sra. Ferreira! É verdade que você tentou drogar seu marido, Caio Medeiros, por sua fortuna?" Uma mulher com uma voz áspera gritou, seus olhos brilhando com malícia. "Fontes dizem que você é uma oportunista interesseira que prendeu um homem poderoso em um casamento!"
"Minha sobrinha é inocente!" minha tia declarou fracamente, tentando me proteger, mas sua voz se perdeu na cacofonia. Ela balançou, a mão ainda apertada no peito, sua respiração superficial e irregular. Ela estava tendo outro ataque.
"Sua irmã, Carla Mendes, declarou publicamente que você sempre teve ciúmes do relacionamento dela com o Sr. Medeiros! Isso é verdade?" Outra voz gritou, pressionando um microfone tão perto que quase atingiu meu rosto. Suas palavras eram agulhas, picando as feridas mais profundas, torcendo ainda mais a faca. Eles se deleitavam com minha humilhação, festejando minha dor para suas manchetes.
"Deixem-nos em paz!" Eu gritei, tentando passar por eles, desesperada para alcançar minha tia, cujo rosto agora estava contorcido de agonia. Mas eles não se moveram. Eles queriam um show, e eu era o ato principal.
De repente, minha tia desabou no chão, seu corpo convulsionando violentamente. Seus olhos reviraram, um leve gorgolejo escapando de seus lábios. "Tia! Tia, não!" Eu gritei, minha voz crua de terror, meu coração pulando para a garganta. A visão dela, tão frágil e quebrada, quebrou algo dentro de mim. Estava acontecendo. O que Caio havia orquestrado, estava acontecendo.
Mas meus gritos desesperados foram abafados pelo clique implacável das câmeras e pelo riso cruel dos repórteres. Os flashes de suas câmeras explodiram, iluminando a cena do colapso da minha tia, transformando seu sofrimento em um espetáculo. O mundo estava assistindo, e estava julgando.
As falsas acusações, a humilhação pública orquestrada por Caio e Carla, se espalharam como fogo em todos os noticiários, em todas as redes sociais. Meu nome se tornou sinônimo de ganância e engano. O estresse, a humilhação, a pura crueldade de tudo isso foi demais para o coração já frágil da minha avó. Os rostos dos médicos, sombrios e apologéticos, confirmaram meu pior medo: sua condição havia piorado drasticamente. Ela não passaria da noite sem uma cirurgia de emergência, uma cirurgia que eu não podia pagar.