Ele filmou secretamente nossos momentos mais íntimos, uma chantagem para me forçar a ir para a mesa de cirurgia.
Eu não era o amor dele.
Eu era sua apólice de seguro.
Uma peça de reposição.
Ele achou que tinha me encurralado.
Ele subestimou sua "cientista ingênua".
Então, forjei minha própria morte e desapareci.
Cinco anos depois, estou de volta, com meu nome na capa de todas as revistas científicas.
E ele está prestes a descobrir que a mulher que ele tentou esquartejar agora é quem tem o mundo dele inteiro nas mãos.
Capítulo 1
Ponto de Vista: Eloísa
Por sete anos, eu fui o segredo dele. Sua Eloísa, a gênia ingênua. Ontem à noite, ele me abraçou e me chamou de seu futuro. Hoje, a irmã dele, minha melhor amiga, me mostrou as fotos da festa de noivado dele.
O cheiro estéril e persistente de antisséptico e gel de polímero me seguiu para fora do laboratório, um perfume que usei durante a maior parte da minha vida adulta. Como engenheira biomédica, meu mundo era um ambiente preciso e controlado de bioimpressoras, hidrogéis e a promessa tentadora de criar vida do zero. Eu vivia em um mundo de dados, de estruturas celulares, de órgãos que cresciam em placas de Petri em vez de corpos. Era um mundo que eu entendia, um mundo que eu podia controlar.
Pessoas, por outro lado, eram uma variável caótica e imprevisível que eu geralmente evitava.
Minha única exceção, minha única, grande e secreta indulgência, era Bernardo Salles.
Por sete anos, ele foi o canto escondido da minha vida hiperfocada. O investidor de risco que ostensivamente financiava minha pesquisa, o irmão mais velho carismático da minha melhor amiga, o homem cujo toque podia desfazer o nó apertado da minha mente científica. Ele era minha âncora e minha tempestade, tudo ao mesmo tempo.
Abri a porta do meu apartamento, o cansaço de uma jornada de dezesseis horas se instalando profundamente nos meus ossos. O último lote de protótipos de rim mostrou uma taxa de viabilidade de noventa e dois por cento. Estávamos perto. Tão perto.
"Você finalmente voltou!"
Um furacão de cabelos loiros e Chanel Nº 5 se chocou contra mim. Amanda Salles, minha melhor amiga e a ligação involuntária com seu irmão, espremeu o ar dos meus pulmões.
"Amanda", eu ofeguei, meus braços presos ao lado do corpo. "Não consigo... respirar."
Meu corpo, acostumado à solidão silenciosa do laboratório, recuou do contato súbito e entusiasmado.
"Deixa ela respirar, Manda", consegui dizer, dando tapinhas desajeitados em suas costas.
Ela se afastou, sorrindo, sem um pingo de ofensa em seus olhos azuis brilhantes. "Desculpa, Elo! Estou tão animada para te ver. Você está enterrada naquele laboratório há semanas."
"Eu te disse que estava em uma fase crítica", eu disse, jogando minhas chaves na tigela de cerâmica perto da porta. "Você tentou ligar?"
Ela acenou com a mão, seus dedos brilhando com anéis. "Ah, por favor. Você nunca atende. Além disso, estávamos todos atolados com a festa de noivado do Bernardo. Foi uma loucura absoluta."
As palavras me atingiram como um golpe físico. Não um soco, mas uma queda súbita e nauseante, como um elevador cujos cabos se rompem. O ar em meus pulmões, que eu acabara de recuperar, pareceu desaparecer novamente.
Festa de noivado.
Minha mente se prendeu à frase, recusando-se a processá-la. Era uma falha no código, uma variável estranha que não computava.
Amanda continuou, alheia à maneira como meu mundo acabara de virar de cabeça para baixo. "Foi épico. Papai trouxe o buffet de Paris, e só os arranjos de flores provavelmente custaram mais que o meu carro. Você tinha que ver, Elo. O lugar todo era um sonho."
Eu fiquei parada, congelada, a alça pesada da minha bolsa de notebook cravando no meu ombro. Eu não conseguia me mover. Eu não conseguia falar.
"Eloísa?", ela perguntou, seu sorriso finalmente vacilando ao ver meu rosto. "Você está bem? Você está pálida."
Minha voz era um tremor, um fantasma de si mesma. "Festa de noivado... do Bernardo?"
"Sim!", ela disse, seu entusiasmo retornando. "Com a Dafne, claro. Ela parecia uma princesa de verdade. Aquele vestido? Vera Wang feito sob medida. Bernardo não conseguia tirar os olhos dela."
Dafne Ferraz. A socialite linda e frágil. A mulher que precisava desesperadamente de um transplante de rim. A mulher que Bernardo sempre descreveu como uma "amiga da família".
Minha mente disparou, tentando encontrar uma brecha, uma versão diferente da história. "Bernardo... tipo, um primo? Outro Bernardo na sua família que eu não conheço?" A pergunta soou insana mesmo enquanto eu a fazia, uma tentativa desesperada e patética de me agarrar a uma realidade que estava escorregando pelos meus dedos.
Amanda riu, um som leve e tilintante que arranhou meus nervos em carne viva. "Boba! Meu irmão, Bernardo Salles! Quem mais? Ele e a Dafne finalmente vão se casar. Não é romântico?"
A palavra "romântico" se alojou na minha garganta, me sufocando.
"Tem certeza de que está bem?" A testa de Amanda se franziu com preocupação genuína. "Você parece que vai desmaiar."
"Não, eu... estou bem", menti, minha voz oca. "Só cansada. Posso ver? Uma foto?" Eu precisava ver. Eu precisava do último e irrefutável ponto de dados para confirmar a morte do meu mundo.
"Claro!", Amanda sorriu, pegando o celular. Ela passou por algumas fotos antes de parar em uma. "Olha! Eles não são perfeitos juntos?"
Lá estavam eles. Bernardo, meu Bernardo, em um smoking sob medida que eu sabia que custava uma pequena fortuna. Seu braço estava possessivamente em volta da cintura de Dafne Ferraz. Ela estava deslumbrante em um vestido prateado cintilante, a cabeça apoiada no ombro dele. Eles estavam sorrindo, a imagem da felicidade e da perfeição da alta sociedade.
Mas não eram os sorrisos deles que fizeram meu estômago se contrair. Era o relógio no pulso de Bernardo. Um Patek Philippe. Aquele que eu economizei por dois anos para comprar para ele em nosso quinto aniversário. Ele me disse que nunca o tiraria.
E lá, na legenda abaixo da foto, marcada para todo o mundo ver: Bernardo & Dafne: Uma União Abençoada.
A memória da noite anterior me atingiu com força. Ele, deitado na minha cama, seus dedos traçando padrões nas minhas costas. *Só mais um pouco, Eloísa*, ele murmurou no meu cabelo. *Assim que este projeto for um sucesso, poderemos contar a todos. Você e eu. Sempre foi você.*
Mentiras. Era tudo mentira.
Um tremor começou em minhas mãos, uma vibração de baixa frequência que se espalhou por todo o meu corpo. Minha garganta parecia grossa, entupida de lágrimas não derramadas e um grito que eu não conseguia soltar.
"Elo?", a voz de Amanda era um zumbido distante.
"Eu... eu só preciso deitar", murmurei, afastando-me dela, do telefone, da verdade devastadora que ele exibia. "Dia longo."
Não esperei por sua resposta. Tropecei em direção ao meu quarto, meu santuário, que agora parecia uma cena de crime. Fechei a porta e girei a fechadura, o clique ecoando o estalo final e definitivo do meu coração.
A voz de Amanda veio, abafada, do outro lado. "Ok... vou pedir um delivery para nós. Você provavelmente esqueceu de comer de novo."
Ela achava que eu estava sobrecarregada. Ela achava que eu estava apenas cansada. A inocência disso era outra forma de crueldade.
No momento em que a fechadura clicou, minhas pernas cederam. Deslizei pela porta, o soluço que eu estava estrangulando finalmente rasgando meu peito. Era um som cru e feio. O som de sete anos de amor, de confiança, de um futuro secreto compartilhado, virando cinzas na minha boca.
Sete anos. Eu era seu segredinho sujo. A garota brilhante no laboratório, boa o suficiente para dormir, boa o suficiente para desenvolver uma tecnologia que salvaria a vida de sua noiva de verdade, mas não boa o suficiente para ser vista com ele à luz do dia.
Aquela foto. O jeito que ele olhava para ela. Era o mesmo olhar que ele me dava. A mesma adoração intensa e focada que me fazia sentir como a única pessoa no mundo.
Algo daquilo foi real?
O pensamento foi uma nova onda de náusea. Os últimos sete anos, cada fim de semana roubado, cada "eu te amo" sussurrado, cada promessa de um futuro juntos - tudo se repetiu em minha mente, agora manchado, grotesco. Não era amor. Era uma transação. E eu era a única que não sabia os termos.
Uma raiva ardente começou a queimar sob o luto. Eu não seria sua tola. Eu não seria seu ativo conveniente e escondido.
Eu tinha que saber. Eu tinha que ouvir dele.
Levantando-me com dificuldade, peguei meu notebook. Meus dedos, ainda tremendo, voaram pelo teclado. Bernardo era um homem de hábitos. Se não estivesse em uma reunião de diretoria ou em um evento de caridade, ele estava na mesma exclusiva Sala Mogno no centro, comandando a atenção de seu círculo de amigos igualmente ricos e arrogantes.
Uma rápida busca em sua agenda pública confirmou: "Noite dos Rapazes - Sala Mogno".
Limpei as lágrimas do meu rosto com as costas da mão, as trilhas salgadas ardendo na minha pele. O luto era uma tempestade, mas minha mente científica já estava reassumindo o controle, exigindo evidências, exigindo a verdade, não importava o quão feia fosse.
Peguei as chaves do carro da tigela perto da porta, ignorando o chamado de Amanda da sala de estar. "Elo? A comida chegou!"
Eu não respondi. Apenas saí, a batida da porta do apartamento atrás de mim uma declaração de guerra.
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