Quando minha agente ameaçou processar Karina, a fúria de Caio explodiu. Ele me acusou de estar arruinando o negócio dela. Dias depois, ele me levou para o meio de um parque nacional, me arrancou do carro, jogou minha bolsa no chão e foi embora, me deixando abandonada, grávida e sem sinal de celular.
Depois de dois dias de terror e desidratação, voltei para casa e encontrei Caio rindo com os amigos, contando sobre como me abandonou, me chamando de "tapa-buraco" e zombando da minha carreira, revelando sua verdadeira e cruel natureza.
Eu não conseguia entender como o homem que eu amava, o pai do meu filho, podia me ver como um objeto descartável, especialmente depois que minha própria família me renegou, me deixando completamente sozinha e sem ter para onde ir.
Sem nada a perder, tomei uma decisão: eu cortaria todos os laços com Caio, começando pelo bebê, e retomaria minha vida, custe o que custar.
Capítulo 1
Por dez anos, eu pensei que Caio Torres era meu salvador. Foi ele quem me tirou da minha cidade pequena e conservadora no interior de Minas e me trouxe para o brilho de São Paulo. Por dez anos, eu fui a sua Clara, amorosa e dedicada. A parceira perfeita para uma estrela de tecnologia em ascensão.
Ele era sempre tão atencioso. Lembrava das minhas flores favoritas, do jeito que eu gostava do meu café, do tom exato de esmalte que deixava minhas mãos perfeitas para uma sessão de fotos. Minhas mãos eram minha vida, minha carreira. Como modelo de mãos, eram elas que pagavam por nosso lindo apartamento, mesmo que a startup dele fosse o assunto do momento.
Uma tarde, ele me surpreendeu.
"Marquei uma manicure pra você num lugar novo, amor. Dizem que é o melhor da cidade. Exclusivo."
Eu sorri, grata como sempre.
"Você não precisava fazer isso."
"Só o melhor para você", ele disse, beijando minha testa.
O salão era chique, todo em mármore branco e design minimalista. Uma mulher com um corte chanel impecável e um sorriso cirurgicamente doce nos cumprimentou.
"Caio! Quanto tempo."
"Karina", ele disse, a voz um pouco tensa. "Essa é minha noiva, Clara."
Karina Matos. Sua namorada do colégio. A que "escapou". Ele a mencionava, mas sempre como um capítulo encerrado. Seus olhos me avaliaram, um brilho frio passando por eles antes que o sorriso doce voltasse.
"Claro. Clara. Suas mãos são lendárias", ela disse, me conduzindo a uma cadeira. "Deixa que eu cuido de você pessoalmente."
Ela trabalhou com precisão, suas próprias unhas eram punhais vermelhos perfeitos. Mas o produto químico que ela usou nas minhas cutículas parecia errado. Queimava. Uma dor aguda, cortante.
"Isso deveria arder tanto?", perguntei, tentando puxar minha mão.
"É só um tratamento novo de vitaminas, querida. Está fazendo sua mágica", ela disse, com um aperto firme.
Quando saí, minhas mãos estavam vermelhas e em carne viva. Na manhã seguinte, estavam um desastre. A pele estava descascando, inflamada, completamente arruinada. Um contrato de um milhão de reais para uma campanha de diamantes seria fotografado em três dias. Já era. Minha carreira inteira estava em chamas.
Minha agência ficou furiosa. Eles tinham me avisado sobre o salão da Karina. Boatos de práticas duvidosas e cortes de custos circulavam há meses. Eu os ignorei porque Caio insistiu. Quando minha agente ligou para o salão e ameaçou uma ação legal, colocando-os na lista negra da indústria, a reação de Caio não foi de compaixão. Foi de fúria.
"Você está arruinando o negócio dela!", ele gritou, o rosto contorcido em uma máscara feia que eu nunca tinha visto. "Porque você não aguentou uma ardidinha?"
No dia seguinte, ele disse que íamos dar uma volta de carro para esfriar a cabeça. Ele dirigiu por horas, em direção às montanhas, até estarmos no meio de um parque nacional. Ele parou o carro em um mirante deserto.
"Desce", ele disse.
"O quê?"
"Desce do carro, Clara." Sua voz era fria, vazia de qualquer calor. Ele me puxou para fora, jogou minha bolsa no chão, voltou para o carro e foi embora.
Fui deixada ali. Grávida, com as mãos arruinadas, sem sinal de celular e ninguém por quilômetros.
Levei dois dias para sair daquele parque a pé. Dois dias de terror, fome e desidratação. Um guarda florestal me encontrou desmaiada na beira da estrada. Quando finalmente cheguei ao nosso apartamento, exausta e quebrada, ouvi vozes da sala de estar. Caio e seus amigos.
Parei no corredor, escondida pelas sombras, e escutei.
"Você realmente deixou ela lá? No meio do mato?", um de seus amigos, Marcos, perguntou, rindo.
"Ela precisava aprender uma lição", a voz de Caio era casual, leve. "Ela e a agência dela iam acabar com a Karina. Não posso permitir isso."
"Mas ela está grávida, cara. E se acontecesse alguma coisa?"
Caio riu. Um som baixo e cruel. "O que vai acontecer? Ela é forte. Uma boa garota do interior, certo? Além do mais, a gravidez é a única coisa que a torna útil agora."
Meu sangue gelou.
Outro amigo, Léo, interveio. "Útil como? As mãos dela estão acabadas."
"Ela é um tapa-buraco, seu idiota", disse Caio. "Ela está grávida e a família dela a odeia. Para onde ela vai? Ela não tem nada sem mim. Está presa. Vai aprender a ser grata de novo."
Todos eles riram.
"Ela estava se achando demais, falando da 'carreira' dela", Caio zombou. "Uma modelo de mãos. Por favor."
"Você viu ela quando voltou?", perguntou Marcos. "Parecia um bicho atropelado. Toda enlameada e com o cabelo bagunçado."
"Bem feito pra ela", disse Caio. "Um pequeno castigo por cruzar o caminho da Karina."
Eu fiquei ali, tremendo tanto que meus dentes batiam. O homem que eu amava, a quem eu dei dez anos da minha vida, o pai do meu filho, me via como uma coisa. Um objeto a ser controlado e descartado.
Eu pensei que talvez ele estivesse apenas com raiva. Que ele se sentiria culpado. Que ele pediria desculpas. Aquele último pingo de esperança morreu ali mesmo no corredor.
"Você não tem medo que ela te deixe?", perguntou Léo.
A risada de Caio foi arrogante, cheia de confiança. "Me deixar? A Clara me ama mais do que a si mesma. Ela beija o chão que eu piso. Ela vai chorar, vai implorar meu perdão, e então vai voltar a ser a noiva perfeita e obediente. Ela não tem para onde ir."
Cada palavra era um prego no caixão do amor que eu pensei que tínhamos. Um sorriso amargo surgiu em meus lábios. Ele estava certo sobre uma coisa. Eu não tinha para onde ir.
Entrei sorrateiramente no quarto e encontrei meu celular. Disquei o número da minha mãe. Minhas mãos tremiam enquanto eu ouvia chamar.
"Alô?", a voz dela era ríspida, impaciente.
"Mãe, é a Clara. Eu... eu preciso de ajuda."
"Clara? O que foi agora? Está pedindo dinheiro de novo? Seu pai e eu já terminamos com isso. Você fez sua escolha quando fugiu para São Paulo com aquele homem."
"Mãe, por favor, estou com problemas."
"Nós jogamos fora aquela caixinha com suas coisas do seu quarto semana passada", ela disse, a voz como gelo. "Não há nada para você aqui. Não ligue mais."
A linha ficou muda.
Eu estava verdadeiramente sozinha. Caio me encontrou quando eu tinha dezoito anos, uma garota desesperada para escapar de uma família que a via como um fracasso por não querer se casar com um fazendeiro local. Ele parecia um príncipe, meu salvador. Agora eu via a verdade. Ele não me salvou. Ele apenas encontrou uma garota sem rede de apoio, alguém fácil de moldar, alguém que se parecia o suficiente com a Karina para ser uma substituta temporária.
A chuva começou a bater na janela. Sem pensar, tirei os sapatos, saí do apartamento e entrei na tempestade. Andei descalça pelas ruas da cidade, o asfalto frio um choque para o meu corpo. Não parei até estar em frente a uma clínica.
Lá dentro, a luz era forte demais. Fui até o balcão.
"Preciso marcar um aborto."
A enfermeira me olhou, sua expressão gentil, mas profissional. Ela me levou para uma pequena sala. Um médico entrou e olhou o prontuário que a enfermeira havia começado.
"Senhorita Mendes", disse o médico gentilmente. "Você está desnutrida e severamente desidratada. Seu corpo passou por um estresse significativo. Um aborto agora acarreta riscos."
"Que tipo de riscos?", minha voz era um sussurro rouco.
"Pode afetar sua capacidade de ter filhos no futuro. Pode ser permanente."
Meu rosto parecia uma máscara de pedra. Eu assenti.
"Eu entendo."
"Você tem certeza disso?"
"Eu não posso trazer uma criança a este mundo", sussurrei. "Não posso ser responsável por uma vida quando não consigo nem proteger a minha."
Ela marcou o procedimento para algumas semanas depois, me dando tempo para recuperar minhas forças.
Arrastei-me de volta para o apartamento. Caio e seus amigos ainda estavam lá, bebendo. Ele me viu parada na porta, encharcada e pálida.
"Olha só o que a tempestade trouxe", ele disse com um sorriso de canto.
Seus amigos riram.
Pela primeira vez, eu o vi claramente. O parceiro charmoso e carinhoso era uma atuação. Este homem cruel e narcisista era o verdadeiro Caio Torres.
Eu não disse nada. Passei por ele, entrei em nosso quarto e fechei a porta.
O apartamento ainda estava decorado para nossa festa de noivado. Serpentinas e balões pendiam do teto, zombando de mim. O casamento era em um mês. Um grande evento que ele havia planejado, um espetáculo público para exibir sua vida perfeita com sua noiva perfeita e grávida. Uma noiva que ele acabara de deixar para morrer em uma floresta.
Liguei meu celular. Dezenas de mensagens. Uma da minha agente dizia que eles conseguiram negociar uma multa menor pela quebra de contrato, mas ainda me custaria tudo o que eu tinha. Eu estava arruinada.
Naquela noite, ele deslizou para a cama ao meu lado. Ele envolveu seus braços em minha cintura, seu toque fazendo minha pele se arrepiar.
"Você está bem, amor?", ele sussurrou contra meu cabelo. "Como está o nosso bebezinho?"