De coração partido, pedi o divórcio, mas o tormento deles se intensificou. Eles roubaram minha empresa, sequestraram Léo e até orquestraram uma picada de cobra venenosa, me deixando para morrer.
Por que eles me odiavam tanto? Que tipo de homem usaria o próprio filho como um peão, e sua esposa como uma arma, em uma farsa tão cruel?
Mas a crueldade deles acendeu uma fúria gélida dentro de mim. Eu não iria quebrar. Eu iria lutar, e eu os faria pagar.
Capítulo 1
A ligação veio no dia mais quente do ano.
Uma voz desesperada, de uma de nossas empregadas, gritou ao telefone.
"Dona Bianca, a senhora precisa vir para casa! É o Léo! A Cássia trancou ele no carro!"
Meu sangue gelou.
Deixei cair a apresentação que estava segurando e saí correndo do meu escritório, sem nem me preocupar em pegar minha bolsa.
O sol batia no asfalto, um cobertor sufocante de calor. Meu coração martelava contra minhas costelas a cada passo que eu dava em direção à garagem.
Quando entrei pela porta, a cena me paralisou.
Meu filho, Léo, estava dentro do carro clássico premiado do meu marido, um Opala Diplomata, seu rostinho pressionado contra o vidro. Suas bochechas estavam de um tom perigoso de vermelho, e seu peito mal se movia. O suor colava seu cabelo na testa.
Meu marido, Caio, e sua meia-irmã, Cássia Flores, estavam parados bem ali, bloqueando a porta.
Eu me lancei para frente. "O que vocês estão fazendo? Tirem ele daí!"
Caio agarrou meu braço, seu aperto surpreendentemente forte. "Calma, Bianca. Não é nada demais."
Cássia, uma influenciadora digital que sempre parecia perfeita, fez um biquinho. "Ele queria brincar no carro. Eu só fechei a porta por um segundo."
"Um segundo?" gritei, minha voz rouca de pânico. "Olha pra ele! Ele mal está consciente! As janelas estão todas fechadas!"
"Foi só uma brincadeirinha", disse Cássia, jogando o cabelo por cima do ombro. "Ele vai ficar bem."
"O ar-condicionado está desligado! Está fazendo mais de quarenta graus aqui fora!" Tentei passar por Caio, meus olhos fixos na forma mole do meu filho.
"Bianca, para!" A voz de Caio era ríspida. "Você vai estragar o carro. Isso é uma relíquia de família."
Eu o encarei, incapaz de processar suas palavras. "O carro? Você está preocupado com o carro? Nosso filho está lá dentro!"
"A Cássia disse que está com as chaves e já volta", insistiu Caio, me afastando do veículo. "Ela só foi pegá-las na bolsa dela."
Meu olhar se voltou para Cássia, que estava parada ali, um sorriso de deboche brincando em seus lábios. Ela não fez nenhum movimento para pegar chave alguma.
"Você está louco?" gritei para Caio. "Seu filho é mais importante que um pedaço de metal! Sua prioridade é ele, não esse carro!"
Eu me livrei de seu aperto, uma fúria primitiva tomando conta de mim. Eu não me importava com o carro. Eu não me importava com nada além de Léo.
Peguei uma chave de roda pesada da bancada próxima.
"Não se atreva!" gritou Caio.
Mas era tarde demais. Eu balancei com toda a minha força, estilhaçando a janela do lado do motorista. Vidro explodiu por toda parte.
Alcancei através da janela quebrada, tateando a trava. O ar que saiu do carro foi como uma rajada de um forno.
Eu puxei Léo para fora. Ele estava mole e sem resposta em meus braços, sua pele quente ao toque.
"Léo", solucei, sacudindo-o gentilmente. "Meu amor, acorda."
Caio estendeu a mão para ele. "Deixa eu ver."
Eu recuei, agarrando Léo com mais força. "Não toque nele. Não se atreva."
Os paramédicos que eu tinha chamado a caminho de casa chegaram então, suas sirenes soando. Eles correram, pegaram Léo de mim e imediatamente começaram a trabalhar nele.
"Ele está severamente desidratado e sofrendo de insolação", disse um deles sombriamente. "Você o tirou bem a tempo."
As palavras confirmaram meus piores medos. Minha raiva, fria e focada, voltou-se para as duas pessoas que causaram isso.
Fui direto até Caio e dei um tapa em seu rosto, o som ecoando na garagem. Então me virei e fiz o mesmo com Cássia.
"Você", sibilei, minha voz tremendo de fúria. "Você fez isso."
Os olhos de Cássia se arregalaram em falso choque. Ela apertou a bochecha, lágrimas brotando. "Caio, ela me bateu! Eu só estava brincando."
Ela se virou e correu da garagem, soluçando dramaticamente.
Sem um momento de hesitação, Caio correu atrás dela, chamando seu nome. Ele nem sequer olhou para trás, para mim ou para nosso filho, que estava sendo colocado na ambulância.
Eu fiquei ali, sozinha, cercada por vidro quebrado e as ruínas da minha confiança.
Mais tarde no hospital, depois que Léo estava estável, Caio voltou. Ele não perguntou sobre nosso filho.
Ele parou sobre mim, seu rosto uma máscara fria. "Você precisa pedir desculpas para a Cássia."
Eu olhei para ele, meu coração um bloco de gelo no peito. "Pedir desculpas?"
"Ela está traumatizada. Você a agrediu."
Não era a primeira vez. Lembrei-me de todas as outras vezes que fui forçada a me desculpar pelos "erros" de Cássia. A vez que ela "acidentalmente" arruinou meu vestido de noiva com vinho tinto. A vez que ela "brincando" disse ao meu maior cliente que minha agência de marketing estava falindo.
Toda vez, Caio me fazia pedir desculpas. Para manter a paz. Pela família.
"Não", eu disse, minha voz baixa, mas firme. "Eu nunca vou pedir desculpas para aquele monstro."
"Pense no Léo", disse ele, sua voz baixando para uma ameaça velada. "A família da Cássia é muito poderosa. Se ela decidir prestar queixa por agressão, pode ficar complicado. Você quer arriscar perder a guarda?"
Ele agarrou meu braço, seus dedos cravando na minha pele. "Você vai pedir desculpas. Agora."
A luta se esvaiu de mim, substituída por um desespero oco e frio. Por Léo, eu faria qualquer coisa.
Ele me arrastou para a sala de espera onde Cássia estava sentada, parecendo perfeitamente composta. Ele me forçou a ajoelhar na frente dela.
"Me desculpe", murmurei, as palavras com gosto de cinzas na minha boca.
A cada palavra que eu falava, sentia uma parte do meu amor por ele quebrar. Estilhaçar. Desintegrar.
Caio não estava satisfeito. Ele pegou o celular. "Diga de novo. Estou gravando. Precisamos postar um pedido de desculpas público para que todos saibam que você se arrepende do que fez."
A humilhação me inundou enquanto eu repetia o pedido de desculpas para a câmera dele.
Assim que ele terminou, enviou imediatamente o vídeo para sua equipe de relações públicas, instruindo-os a postá-lo em todas as redes sociais de Cássia.
Eu me senti enjoada. Levantei-me e me afastei, precisando de espaço entre nós. Encontrei um corredor vazio e me encostei na parede, tentando respirar.
Foi quando ouvi as vozes deles do outro lado do corredor. Caio e Cássia.
"Você está feliz agora?" perguntou Caio, sua voz suave e terna, um tom que ele nunca usava comigo.
"Quase", ronronou Cássia. "Mas você sabe que eu sempre odiei que ela seja sua esposa. Nós nem somos parentes de sangue, Caio. Minha mãe apenas se casou com seu pai."
Minha respiração ficou presa na garganta. Meio-irmãos. Não de sangue.
"Cássia, você sabe que eu te quero desde que éramos adolescentes", confessou Caio, sua voz embargada de emoção. "Mas era um tabu. Meu pai teria me matado."
"Então você se casou com ela?" A voz de Cássia estava carregada de ciúmes. "Você teve um filho com ela?"
"Eu tive que fazer isso", disse ele, sua voz suplicante. "Pensei que se me casasse com outra pessoa, você finalmente desistiria de nós. Pensei que isso te deixaria com ciúmes o suficiente para perceber o que estava perdendo. Mas não funcionou. Só piorou as coisas."
Suas próximas palavras foram baixas, quase um sussurro. "Ela não significa nada para mim, Cássia. Sempre foi você."
Meu mundo girou em seu eixo.
Eu cambaleei para trás, minha mente em parafuso. Pensei no início do nosso relacionamento. Os grandes gestos românticos de Caio, o charme avassalador, a maneira como ele me perseguiu implacavelmente.
Era tudo uma mentira. Uma performance.
Senti um impulso repentino, uma necessidade desesperada de mais provas. Peguei meu celular e acessei um antigo drive na nuvem que compartilhávamos, um que não usávamos há anos. Meus dedos tremiam enquanto eu procurava por um arquivo específico - um diário digital que Caio costumava manter.
Eu o encontrei. E encontrei a entrada da semana em que ele me pediu em casamento.
"Vou me casar com Bianca Butler. Ela é perfeita. Bem-sucedida, bonita e completamente apaixonada por mim. Assim que Cássia vir Bianca com meu anel no dedo, usando meu nome, ela terá que desistir. Ela verá o que está perdendo. Ela voltará para mim. Bianca é a chave. Ela é a ferramenta perfeita para tornar Cássia minha."
Ferramenta.
Eu era apenas uma ferramenta.
Uma onda de náusea me atingiu. Caí no chão, o piso frio um choque contra minha pele. Os soluços vieram então, violentos e convulsivos, rasgando meu corpo. Chorei pelos anos que desperdicei, pelo amor que dei tão livremente a um homem que me via como nada mais que um peão em seu jogo doentio.
Mas à medida que as lágrimas diminuíam, outra coisa tomou seu lugar.
Uma determinação fria e dura.
Enxuguei os olhos, levantei-me com as pernas trêmulas e caminhei de volta para o quarto de Léo. Meus passos estavam firmes.
Meu casamento havia acabado. Agora, era hora da guerra.
Peguei meu celular e disquei o número do meu advogado. "Quero entrar com o pedido de divórcio."
No dia seguinte, Léo recebeu alta. Levei-o de volta para a casa que um dia chamamos de lar. O ar estava pesado de tensão.
Caio tinha trazido Cássia de volta com ele. Ela estava hospedada em nosso quarto de hóspedes, agindo como se fosse a dona do lugar.
No jantar, ela sentou-se à minha frente, um sorriso triunfante no rosto. Ela deliberadamente se serviu do último pedaço de peixe, um prato que ela sabia que era o favorito de Léo.
"Tia Cássia, esse é o meu peixe", disse Léo, sua vozinha vacilante.
Cássia apenas sorriu docemente. "Ah, é? Estou com tanta fome, Léo. Você não se importa, não é?"
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Caio bateu a mão na mesa. "Léo! Peça desculpas à sua tia! Você está sendo rude."
Léo se encolheu, seus olhos se enchendo de lágrimas.
Foi a gota d'água. Levantei-me, puxando Léo de sua cadeira. "Acabou para nós aqui."
Levei meu filho chorando para o andar de cima, deixando-os no silêncio sufocante.
Ao sair, ouvi a voz de Caio suavizar instantaneamente. "Cássia, não fique chateada. Ele é apenas uma criança. Aqui, pegue o meu pedaço."
O contraste era doentio.
Em seu quarto, Léo se agarrou a mim, seu corpinho tremendo. "Mamãe, eu odeio o papai. Não quero mais vê-lo."
Meu coração se partiu por ele. Eu o abracei forte, minhas próprias lágrimas se misturando com as dele. "Eu sei, meu amor. Eu sei."
Ficamos assim por um longo tempo, dois corações partidos se agarrando um ao outro no escuro.
Muito mais tarde, Caio entrou no meu quarto. Ele cheirava ao perfume de Cássia e a uma vitória barata. Havia uma mancha de batom fresco em seu colarinho.
Ele jogou uma caixa de joias na cama. "Isso é para você. Uma coisinha para compensar o... comportamento da Cássia."
Ele esperava que eu ficasse grata. Ele esperava que eu o agradecesse por sua "generosidade".
Eu olhei para ele, meu rosto uma máscara de calma. Peguei na minha bolsa um único documento dobrado.
Eu o estendi para ele. "Assine isso."
Ele ainda estava radiante, pensando que o colar me havia apaziguado. "O que é isso? Um recibo do presente? Vocês, mulheres, e suas formalidades."
Ele pegou a caneta e assinou seu nome na linha sem sequer olhar.
Era o acordo de divórcio. Um acordo onde ele, em sua arrogância, abriu mão de seus direitos de contestar minha guarda total de Léo.
"Apenas uma coisinha para lembrar deste dia", eu disse, minha voz pingando uma ironia que ele era estúpido demais para notar.
Ele apenas riu, completamente alheio.
Ele não tinha ideia de que tinha acabado de assinar o fim do seu mundo.